domingo, 23 de novembro de 2008

Os Estranhos


Esse é o tipo de filme que revela muito sobre as pessoas, porque ele é uma espécie de armadilha: um filme pobre em conteúdo, roteiro e com a mais baixa das intenções - mas ao mesmo tempo realizado com muito capricho e talento. O que é que importa no fim? Quais são os seus valores? A história é simples: um casal numa casa de campo isolada é aterrorizado por 3 invasores mascarados, por razão nenhuma. Esta é a mesma premissa do superior "Violência Gratuita" - mas ali a intenção era justamente fazer uma crítica à violência. Era uma brincadeira assumida com a platéia, não um thriller onde você torce pela mocinha. "Os Estranhos" é um terror à moda antiga (lembra um pouco "Sob o Domínio do Medo" de 1971). Mas há um detalhe que faz toda a diferença: logo no início do filme, somos avisados por um narrador que a história é baseada em fatos reais, e que ninguém sai vivo no final! Isso já me tira do filme, pois se todos morreram, como eles sabem o que aconteceu dentro da casa? Como sabem que os assassinos usavam máscaras? É o mesmo problema de "Mar Aberto". Eu adoro perdoar imprecisões históricas, desde que seja em nome de um bom entretenimento, de uma história digna. Em "Os Estranhos", você paga pra sentar numa cadeira e assistir 2 pessoas tomando decisões burras que as levam à morte! E tudo isso ainda parece ser manipulado pra dar certo. O filme gasta um bom tempo tentando resolver aquele que é o verdadeiro vilão desse tipo de filme: o telefone celular. Claro, pois hoje em dia é quase impossível você estar sem comunicação e não poder falar com a polícia ou o vizinho. Talvez ainda desse pra gostar de um filme desses, caso os protagonistas agissem de maneira digna, lutando até o final com inteligência e habilidade, mas isso não acontece aqui: eles estão sempre se expondo ao perigo, sempre derrubando quadros e fazendo barulho enquanto deviam pisar de fininho - não dá pra ter simpatia nenhuma por eles. Chegam ao cúmulo de matar uma pessoa por engano numa sequência inútil que não chega nem a ser irônica, pois apesar do personagem morto ser importante pro protagonista, a platéia não o conhece. Também não é o tipo de filme em que você fica do lado do vilão, como "Sexta-Feira 13". Os assassinos com aquelas máscaras estilizadas parecem mais uns nerds em crise do que jovens realmente insanos.

Fala-se muito do diretor/roteirista estreante Bryan Bertino e de sua habilidade com a câmera. Mas eu acho que elogiar direção em um filme com uma proposta tão repugnante é como dar um prêmio a Hitler pela eficácia do holocausto.

The Strangers (EUA, 2008, Bryan Bertino)

INDICADO PARA: Interessados em técnica de filmagem para filmes de terror.

NOTA: 3.5

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