quarta-feira, 18 de junho de 2008

O Incrível Hulk


Não consigo explicar o sucesso do filme. Faturou 55 milhões no primeiro fim de semana (nada perto dos 126 do Indiana Jones, ou mesmo dos 62 do último Hulk, mas ainda assim um número respeitável) e foi bem aceito pelos críticos. Mas a verdade é que o filme é uma aberração e é de longe a pior aventura da temporada. A começar pelo projeto... Ninguém entende se é uma sequência do Hulk de 2003 ou um filme completamente diferente - a segunda hipótese é a correta, mas por algum motivo os produtores devem ter achado que, como todo mundo já viu o filme do Ang Lee, eles não precisariam perder tempo apresentando os personagens, explicando a história... Assumiram que a platéia já estaria automaticamente envolvida. O filme nos proporciona a curiosa sensação de ter entrado na sala no meio da projeção. Simplesmente não dá pra entender nada... Há uma sequência de créditos cheia de informações e flashbacks, mas tudo o que a gente absorve é que houve uma edição rápida. A sequência inicial no Brasil é constrangedora pra qualquer um que mora aqui - um desrespeito completo com a língua e a cultura brasileiras. Ali se explica que Bruce Banner está vivendo foragido na Rocinha (!) e que ele está atrás de uma planta rara que pode ser a chave pra sua doença. Enquanto isso ele trabalha numa fábrica de refrigerantes... Numa das piores reviravoltas do filme, uma garrafa contaminada pelo sangue de Bruce é exportada para os EUA. Lá ela cai nas mãos de um velhinho que morre imediatamente ao bebê-la. Os militares que estão atrás de Bruce concluem que ele só pode estar em um lugar - na fábrica do refrigerante! Que por sorte é tão vagabundo que só é produzido num único local, facilitando a busca (Não faço idéia do que houve com o velhinho pra isso chegar a virar notícia e atrair a atenção dos militares... Não é que ele virou uma espécie de Hulk... Só foi intoxicado. Também não sei por que a dedução lógica deles é que Bruce teria que estar trabalhando na fábrica da Rocinha. A garrafa não poderia ter sido contaminada por fora? E se apenas o contato com uma gota de sangue velho dele é capaz de matar uma pessoa, como ele consegue beijar e fazer sexo com a Liv Tyler sem destruí-la?!). É difícil acreditar que o público médio tenha se tornado tão retardado a ponto de aceitar esse tipo de lixo vindo de uma produção de 150 milhões de dólares. Até num nível superficial o filme comete erros incríveis... Como não resolver o problema da calça do Hulk que teoricamente deveria ser destruída a cada vez que ele se transforma, ou a gafe quando Bruce simplesmente vomita algo que havia sido ingerido dias antes, ou quando o Hulk caminha do Rio de Janeiro até a América Central sem voltar a virar Bruce Banner nem ser visto ou preso nas fronteiras... Liv Tyler está enfeiada e fala com uma voz afetada o filme todo que acho que era pra ser sexy (sem falar que ela solta algumas das frases mais risíveis do filme). Se ao menos as cenas de ação fossem divertidas, mas nem isso. Pelo contrário, elas são especialmente confusas e entediantes. Até porque o Hulk já é um super herói meia-boca - apenas fica grande e começa a destruir tudo sem nenhum propósito dramático - não tem nem o prazer de se lembrar do que fez depois que volta ao normal (quando o Spider-Man ou o Superman se transformam todo mundo vibra. Aqui acho que nem tarados por anabolizantes). Aliás, como os militares pretendem usar o poder dele para criar um exército de super soldados é algo que só esse roteirista pode explicar... Pois como controlar numa guerra um monstro irracional movido a raiva?! Os próprios americanos estariam perdidos! Eu poderia ficar horas listando aqui os absurdos que acontecem nesse filme. A única coisa "incrível" aqui é que alguém consiga concentrar tanta burrice num projeto só. Porque não basta ser mau cineasta... Não basta não ter bom senso... É preciso estar mal intencionado.

The Incredible Hulk (EUA, 2008, Louis Leterrier)

NOTA: 2.0