domingo, 15 de fevereiro de 2009

Coraline e o Mundo Secreto


O filme parte de uma das premissas mais interessantes que eu ouvi nos últimos tempos: uma garota acha uma passagem mágica em sua casa, que vai dar em uma outra versão da sua casa, onde tudo é mais bonito, seus pais são mais alegres e atenciosos, a comida é mais gostosa, o jardim é mais florido - a única diferença é que todas as pessoas têm botões costurados no lugar dos olhos!

O filme poderia ter sido uma aventura fantástica na tradição de "O Mágico de Oz" e "Alice no País das Maravilhas", mas acaba virando uma experiência bizarra e desagradável, embalada por um show de fotografia e animação stop-motion. É fácil ver por que o filme não funciona, veja a história: uma menina chata vive uma vida triste e solitária, e ao descobrir uma passagem mágica em sua casa, dá num lugar grotesco que é ainda mais deprimente que sua vida real, então ela volta e aprende a apreciar o que tem! Puxa... Fico imaginando se as crianças depois vão querer comprar bonecos desse filme, ou então botões pra colocar nos olhos e brincar de vazio existencial... Não adianta: criatividade e inovação técnica só têm valor quando associados a algo humano e bem intencionado.

Coraline (EUA, 2009, Henry Selick)

INDICADO PARA: Interessados em técnica de animação.

NOTA: 5.5

12 comentários:

Anônimo disse...

Passei muitos anos discordando desta crítica. Somente após entender o idealismo foi que percebi que eu nunca fui capaz de compreender os apontamentos. Agora concordo com a crítica e consigo identificar com clareza o que quis dizer.

Caio Amaral disse...

Nessa época o blog ainda estava no começo né.. eu não tinha o conceito de "idealismo" formado, menos ainda o de "romantismo", afinal ainda não conhecia a Ayn Rand.. então foi uma crítica não tão detalhada, mas a essência já estava aí..! Não deixe de gostar do filme, caso goste viu.. Se entendeu meu ponto de vista e a conexão entre as ideias, já acho fantástico.. abs!

Dood disse...

Uma coisa curiosa em Coraline que não foi mencionada e é concluída na parte final é que o mundo escapista da protagonista não passava de um embuste de uma Bruxa. Até que no escopo a premissa é perfeita, mas a execução daquele mundo bizarro que jamais se passaria na mente de uma criança para usar como isca para prender naquele universo e capturá-la não convence aos olhos críticos. Nem em histórias de contos de fadas para dar lição de moral usaria esse tom a meu ver. A bruxa de João e Maria acerta mais que a Bruxa desse filme ao usar uma casa de doces.

Caio Amaral disse...

Nem lembrava dessa bruxa e que era tudo uma estratégia dela.. mas de fato.. se a ideia era atrair uma criança, poderia ter pensado em algo um pouco menos sinistro, hehe. Abs!

Anônimo disse...

"Alice no País das Maravilhas" também é muito grotesco e tenebroso, se a gente pára pra pensar um pouco na história.
Pedro.

Caio Amaral disse...

Ah sim Pedro.. questão de dose acho.. Alice tem algo parecido, mas a protagonista ainda é uma figura doce, muitos dos acontecimentos ao longo da aventura são divertidos, o visual é colorido, etc. Mas sempre vi Alice com um certo estranhamento... curtia, mas não era dos meus favoritos.

Dood disse...

Alice no País das Maravilhas ele é tem um quê de bizarro, não grotesco. Até porque a condução da história tem outro tom. Ela foge para um mundo enigmático não um mundo acolhedor como Coraline.

Caio Amaral disse...

Não lembro do mundo de Coraline ser "acolhedor". Mas sim.. o de Alice está mais pra bizarro/estranho hehe. abs!

Anônimo disse...

Assisti Coraline pela primeira vez no último domingo. Achei um bom filme. Na minha interpretação pessoal, a mensagem do filme não era tanto de conformismo, mas sim de que não se pode nem se deve viver na mentira. Para um filme sobre aceitar o que se tem, da pior forma, deve-se assistir Detona Ralph.

O grotesco, o bizarro e o cruel eram elementos frequentes nos contos de fadas, nas suas formas originais. O público de hoje só os conhece pelas versões edulcoradas e higienizadas dos filmes da Disney e de livrinhos adaptativos.
Pedro.

Caio Amaral disse...

Pelo que lembro, a realidade tediosa dela do início não é transformada pra melhor no fim... a única mudança real é que agora ela foi exposta a algo pior. Então voltar pra casa parece um alívio, mesmo ainda não sendo um ambiente atraente. Pra mim não é uma grande evolução... A possível lição sobre honestidade que você citou não era algo que a protagonista precisava antes, que irá solucionar conflitos prévios, melhorar sua vida... é algo desconectado dos objetivos dela. Enfim, a questão é: será que Coraline na verdade é um filme inspirador, "Idealista".. e eu entendi mal.. ou será que você prefere filmes mais dark/trágicos, e por isso simpatizou mais com a história? Não tem nenhum problema, mas é uma diferenciação importante.. Até pelo comentário sobre a Disney (o uso de termos como "higienizadas" que geralmente só escuto de "Anti-Idealistas", da esquerda, etc.), dá a impressão que vc tem uma visão de arte bem diferente da que eu defendo aqui.. vale refletir, pois às vezes as pessoas implicam com detalhes, mas o que tem que ser questionado é algo bem mais amplo. abs!

Anônimo disse...

A cena final do filme sugere uma mudança para melhor na realidade de Coraline, com o ambiente se tornando um pouco mais alegre. Há na internet umas teorias de fãs de que isso seria uma ilusão, e ela ainda estaria presa no mundo da bruxa, numa versão mais realista, mas não vou entrar nesse mérito.
https://www.youtube.com/watch?v=mmaDdeuuIog
E considerando a forma como ela foi seduzida por um mundo falso que lhe dava uma ilusão de controle, já que tudo aparentemente era como gostaria que fosse, a possível lição sobre honestidade parecia fazer sentido, ao menos no meu ponto de vista. Talvez eu tenha mesmo uma certa preferência pelo trágico.
Pedro.

Caio Amaral disse...

Assisti o vídeo e notei que não lembro quase nada do filme.. seria interessante rever.. não é um final trágico certamente, mas mesmo filmes Naturalistas muitas vezes têm um final ligeiramente mais positivo que o início. Só que nesses casos acaba sendo algo mais moderado, realista.. Não há a conquista de um grande sonho, algo realmente intenso.. Se vc ler o que escrevi nos textos "As 5 Histórias Idealistas" e "O Que Torna um Personagem Gostável", vai ver que no Idealismo tudo tem que ser mais extremo.. Um bom exemplo é o final de De Volta para o Futuro, que também tem essa estrutura do protagonista cair num universo paralelo e depois voltar pra sua realidade. Quem curte coisas mais dark às vezes ainda pode achar úteis as discussões aqui sobre objetividade, autoestima, excitação.. qualquer coisa que não esteja associada ao "pilar" da benevolência. Tem muito filme que eu condeno aqui por conta de "Senso de Vida" (como os atuais da Disney). Daí as análises não farão tanto sentido se a pessoa não tiver problemas com a visão de mundo trágica. Mas outras críticas têm mais a ver com problemas como subjetivismo, trama mal escrita, simbolismo.. acho que nesses casos ainda dá pra aproveitar algo. abs!