quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Estrada


Baseado no livro de Cormac McCarthy, o mesmo autor de Onde os Fracos Não Têm Vez, o filme se passa num futuro pós-apocalíptico onde um homem e seu filho (não são ditos os nomes dos personagens) perambulam por um planeta devastado sem nenhum objetivo, apenas tentando comer e não serem comidos pelos canibais.

Ou seja, é O Livro de Eli tudo outra vez, só que agora no lugar de trama e ação, nós temos "humanidade" e auto-piedade. Coloco aspas em humanidade porque, tendo visto o making-of, sei que essa era a intenção dos autores - mostrar como as pessoas preservam sua humanidade num mundo maligno (algo ligeiramente superior a filmes como Ensaio Sobre a Cegueira ou O Nevoeiro, que inventam um mundo maligno na tentativa de justificar o comportamento perverso de certas pessoas).

O problema é que a noção de humanidade de A Estrada é um pouco diferente da minha. A idéia de humanidade em situações extremas pra mim é bem retratada em A Lista de Schindler por exemplo, onde um oficial alemão salva a vida de 1200 trabalhadores judeus. Ou, numa escala menor, em A Vida É Bela. Aqui, "humanidade" parece ser sinônimo de imundice, desespero e vômito. Há 1 ou 2 atos de caridade, que é algo diferente, como por exemplo quando o homem e seu filho dão de comer a um senhor de idade (Robert Duvall irreconhecível), mas estes atos são anulados por outros, como quando Viggo Mortensen rouba e humilha um homem negro de maneira desnecessária e o deixa completamente nu no meio da rua.

Mesmo se você enxergar o filme como uma história de amor entre pai e filho (como o próprio diretor John Hillcoat enxerga), ele não vale muito, já que em pelo menos 2 ocasiões Viggo Mortensen ensaia dar um tiro na cabeça do garoto (ele viaja com 1 revólver e 2 balas, uma pra ele e outra pro filho, caso a situação piore - o pai chega a dar instruções diretas ao menino de como atirar na própria boca). E quando o menino acorda de um pesadelo, o pai o conforta dizendo "Quando temos pesadelos, quer dizer que ainda estamos vivos, que estamos lutando; quando temos sonhos bons é que devemos começar a nos preocupar". Isso tudo é dito com os dois sentados sob uma janela que tem o formato de um crucifixo.

Ou seja, não é o meu estilo de filme. Não é ruim, mas nada acontece, não há história, não há conteúdo, fica apenas uma sensação vaga de parábola e misticismo.

The Road (EUA, 2009, John Hillcoat)

Orçamento: US$ 25 milhões
Bilheteria: US$ 26 milhões
Nota do público (IMDb): 7.5
Nota da crítica (Metacritic): 6.4

INDICADO PARA: Quem gostou de O Livro de Eli, Filhos da Esperança, O Nevoeiro, Ensaio Sobre a Cegueira, Onde os Fracos Não Têm Vez, etc. AMIGOS: Nenhum.

NOTA: 4.5

2 comentários:

Laura disse...

Que engraçado porque eu gostei de todos esses filmes (menos Livro de Eli, que eu não vi), gostei do filme pelo que vc escreveu, e mesmo assim não tenho vontade de vê-lo.
Alguma coisa nele não vende.

Caio Amaral disse...

Se você gostou dos outros pelo menos irá se identificar com o filme... Mas o interessante é que não basta a gente se "identificar", aprovar a "mensagem" do filme, a visão do artista... São outras características que fazem um bom filme... Monotonia e falta de originalidade não estão entre elas, rsss... Beijo!