quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A Árvore da Vida


Vencedor da Palma de Ouro no festival de Cannes, é mais um filme-meditação de Terrence Malick (Além da Linha Vermelha), e foca na vida de uma família do Texas nos anos 50, ao mesmo tempo em que salta para o início do universo, mostrando a evolução da vida na Terra (tem até dinossauros no filme!), longas sequências de imagens da natureza (ondas, cachoeiras, florestas, cavernas, etc), planetas, galáxias, citações religiosas e alguns toques de surrealismo. É um filme extremamente abstrato, longo, sem história, com muita música, feito pra gente ficar contemplando a existência, o universo e os relacionamentos familiares. Apesar de alguns trechos narrativos, não deixa de ser um caso de Subjetivismo.

O vilão invisível aqui é o industrialismo, o homem moderno, a razão (o filme tem pouquíssimos diálogos, então pelo que é dito, fica muito fácil perceber essa intenção). Nas entrelinhas, o filme está dizendo que perdemos nossa conexão com a natureza, com o cosmos, e que nos tornamos seres alienados em ternos, subindo e descendo de prédios que parecem tão extraterrestres quanto as imagens do espaço. É uma súplica para voltarmos à um nível pré-humano de existência. Abandonarmos a ilusão da realidade e voltarmos a um nível puramente sensorial, apenas "existindo" e "sentindo", amando e perdoando a todos sem julgar nem avaliar nada, num universo misterioso onde existem apenas 2 alternativas: a natureza ou a "graça", como eles dizem...

Observe como o filme rejeita a ideia de que o homem é capaz de pensar e lidar com a realidade (como o pai parece um tolo com suas patentes e normas rígidas), e como uma atenção enorme é dada a coisas puramente sensoriais - veias, células, enfatizando o físico; inúmeras cenas de pessoas acariciando a grama, closes sempre que alguém passa a mão em qualquer coisa, como se isso fosse um ato profundo. Pelo visto o jeito de "retornarmos" à natureza é literalmente entrando em contato físico com ela, rolando na lama, etc...

Ou seja, é um filme para poucos (certamente não é meu estilo); contei pelo menos umas 10 pessoas saindo da sala durante a sessão. Só não achei uma chatice completa porque as imagens da natureza são realmente bonitas e há um ou outro momento dramático entre os irmãos e o pai. Mas não chega nem perto da reflexão de um 2001: Uma Odisséia no Espaço, que é a comparação inevitável.

The Tree of Life (EUA / 2011 / 139 min / Terrence Malick)

INDICAÇÃO: Quem gostou de O Novo Mundo, A Fonte da Vida, Além da Linha Vermelha, Solaris, etc.

NOTA: 4.0

9 comentários:

lcattapreta disse...

5 é a nota mais polêmica que esse filme podia ter, pq o povo tá amando ou odiando.
não vi ninguém com cara de 5 ainda.
tanto que eu nunca leio suas críticas antes de ver os filmes, mas essa eu resolvi ler pra ver se eu via ou não - e fiquei na mesma hahaha.

Caio Amaral disse...

Não consigo descartar completamente que nem o filme do Godard... A música é super bonita, a fotografia... Fala de temas universais, tem certa ousadia, etc... Acho o filme bem feito dentro da proposta dele - só não gosto muito dessa proposta, hehe.

Gustavo disse...

ZERO.
Nota ZERO.
E olha, eu vejo outras 20 questões a serem "debatidas" dentro desse filme que você não comentou:
A religião como forma de aproximação dos homens, a comparação do pai criador com o deus criador (que ensina e agride ao mesmo tempo), a perda da inocencia, a análise freudiana de filho com pai e mãe, a comparação óbvia do pai e mãe com adão e eva (e, em seguida, dos filhos que brigam com Caim e Abel - e um deles morre), a vida após a morte como uma espécie de redenção, a luta interna do homem entre "o bem e o mal"(ah, como eu odeio dicotomias), a criação do mundo científica versus a criação bíblica, a luta dos seres vivos contra a DOR, a "escolha" entre a natureza e a graça (de novo crençaXfísico), etc etc etc
Esse é um filme que PODERIA ter sido incrível. MAS NÃO É. Tem dinossauros! Tem cachoeiras demais! Tem o Big Bang! Tem momentos de O SEGREDO! Tem Novo Lar (Chico Xavier)! Tem SATURNO! Tem um guri que morre com 19 anos mas não importa, ele só existe aos 7. Sério... Uma grande pena o diretor ser absolutamente tresloucado e querer fazer um filme sobre tudo que existe. E me irrita tanto os poucos que dizem ter amado o filme se considerando iluminados por isso... É de um mau gosto TÃO GRANDE bater palma para as imagens do Discovery Channel como cinema de primeira que eu realmente não consigo nem começar a descrever. O foguinho voando sobre fundo preto era de vomitar.
Se era para causar dor, conseguiu.
De novo, o filme poderia ter sido incrível se não tivesse se perdido tanto em pedantismo.

Em resumo: Um engodo.

lcattapreta disse...

é.
meu problema com ele é que o Brad Pitt não convencia como um pai austero, fiquei pensando em um milhão de atores que se encaixariam melhor.

achei lento mas não ruim.

Caio Amaral disse...

Gu, discutimos pessoalmente, hehe. Mta polêmica.

Laura, o Brad não convence mesmo... Tenho uma teoria de que pessoas extremamente bonitas como ele nunca se tornam pessoas muito ásperas ou rigorosas, hehe. A não ser que tenham alguma outra dificuldade muito grande.

João Flores disse...

Nem entro no debate pra não ser apedrejado, haha.

Quem quiser um contraponto: http://pipocadosoutros.blogspot.com/2011/08/arvore-da-vida.html

Permissão, Caio, pra divulgar meu texto no seu blog!

Abraço

Caio Amaral disse...

Claro João.. Esse filme é polêmico pq é o tipo de filme que as pessoas não avaliam de maneira estética, objetiva.. Pq o assunto é filosofia, princípios básicos de vida... então é difícil não se deixar levar pelo lado emocional.. é que nem religião, futebol.. Já filmes que não tocam explicitamente nesses assuntos fundamentais (sei lá, O Discurso do Rei por exemplo), as pessoas já avaliam de maneira mais racional, hehe.

Maykon disse...

Daria uma nota 6 para esse filme.

Maria crisitna disse...

Eu Adorei, mas não é um filme pra qualquer um gostar. Acho que tem que estar um pouco perdido, como o personagem, entre o mundo moderno, as questões familiares, questões filosóficas, já ter perdido alguém muito amado repentinamente...estar passando por isso, ou já ter passado, além de ter paciência com filmes silenciosos e com sequências longas. O melhor é que não aponta solução, verdades, só apresenta os conflitos.
A fotografia é uma maravilha, os atores estão ótimos, inclusive o Bred, que perdeu toda a beleza neste filme, e mostra um cara atormentado na obrigação de "ser" do jeito que é. O filme me emocionou muito. É um filme muito sutil, pra poucos amarem, outro tanto apenas gostarem, e muitos odiarem.Pra mim, excelente!