quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Atividade Paranormal 3


Eu gosto de tomar sustos (em filmes e parques de diversão - não na vida real) mas há um motivo pelo qual o Castelo dos Horrores no Playcenter não é um trajeto de 5 quilômetros, ou pelo qual uma criança não passa 1 hora e meia brincando com uma caixinha de surpresa (daquelas que você gira a manivela e salta o palhaço). Sustos não equivalem a histórias. Pra se envolver num programa mais longo, como um filme, você precisa de tema, trama, personagens, mensagens, etc. Os produtores de Atividade Paranormal perceberam que o público gosta de tomar sustos e tiveram a "brilhante" ideia de dispensar todos os outros elementos da ficção, construindo o que equivale a uma caixinha de surpresas de 1 hora e meia, que garante pelo menos 1 salto do palhaço a cada tantos minutos. A coisa está tão ridícula que muitas vezes os sustos nada tem a ver com espíritos ou com o contexto do filme - um dos sustos por exemplo é provocado por um defeito da fita num momento de suspense - um salto na imagem e um estalo no som que são completamente gratuitos.

É uma experiência deprimente e entediante. Essa onda de pseudo-documentário de terror já está cansando. Qual o propósito desse formato? Certamente não é o de criar realismo, pois além do público já estar acostumado com o artifício há mais de 10 anos, o comportamento
dos personagens é tão falso e ilógico que quebra todo o efeito. E pro propósito de dar sustos, um filme convencional ofereceria ainda mais possibilidades. Hoje em dia esse molde só serve como desculpa pro filme não precisar ter roteiro ou qualidade, afinal são apenas "fitas recuperadas". E mesmo assim o filme está sendo um sucesso enorme nos EUA. Ou o nível de exigência das pessoas pra entretenimento caiu demais ou elas realmente acreditam em demônios e ficam impressionadas com as imagens. Nenhuma das opções é muito animadora!

Paranormal Activity 3 (EUA / 2011 / 85 min / Henry Joost, Ariel Schulman)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou dos outros da série, Apollo 18, Quarentena, etc.

OPÇÕES MELHORES: Sobrenatural, O Último Exorcismo, REC, A Bruxa de Blair, Cannibal Holocaust.

NOTA: 3.0

11 comentários:

renatocinema disse...

Deprimente e entendiante? então corri.

João Flores disse...

Cara, concordo 100% com a primeira parte do seu texto, mas discordo completamente da segunda.

O filme é exatamente isso que você falou: uma coleção de sustos avulsos que são, muitas vezes, falsos (pra piorar ainda mais).

Por outro lado, não gosto desse tipo de generalização: "Esses mockumentaries estão cansando porque já têm dez anos". Ora, caca filme é um filme! [REC] e Cloverfield funcionam, mas Apollo 18 e Atividade Paranormal 3 não. Se fôssemos pensar sempre nessa questão do tempo, ficções científicas têm 110 anos! Haha

Abraço!

Caio Amaral disse...

Oi João, deixa eu explicar melhor... Um mockumentary pode até ser um filme divertido (como REC, etc). Mas ele não é exatamente um gênero; é apenas um artifício, um truque, mas não deixa de ser ficção.

E não deixa de ser um artifício que limita muito um filme, que precisa ter caracterização, tema e enredo pra se sustentar. Ter que se passar por documentário põe uma limitação bem nas raízes da ficção. Mas mesmo assim, dependendo do conteúdo, o filme pode funcionar como diversão.

Mas vamos mais fundo: existe ficção e existe não-ficção.

Dentro da ficção existem vários gêneros (como ficção-científica, terror, etc) e esses gêneros não envelhecem - eles foram criados pra agrupar filmes que tem certas características em comum, mas sem especificar o conteúdo (o fato de você saber que um filme é de terror nada te diz a respeito do filme, exceto que ele vai tentar te provocar medo).

E esses gêneros principais (drama, comédia, horror, fantasia, etc) existem eternamente pois eles estão ligados à psicologia do ser humano, portanto sempre irão existir. Nunca vai existir um gênero por exemplo pra descrever filmes que no final o protagonista descobre que é um fantasma. Ou então filmes que são contados de trás pra frente. Não existe nenhum desejo fundamental do ser humano de ver histórias de trás pra frente - mas isso pode ser feito em casos específicos, como em Memento (que é um thriller psicológico).

Um "mockumentary" não é um gênero e sim uma sacada, que certos filmes podem desenterrar de tempos em tempos (como a sacada de revelar que o protagonista no final é um fantasma). Se usada com muita frequência, a sacada morre, pois a princípio o filme espera que o espectador não saiba dela, pois essa é justamente a “isca” do filme. É como um truque de mágica. Se o mágico apresenta um truque que todo mundo já viu antes e sabe qual é o segredo (ou se sua execução é péssima e todo mundo consegue ver o fundo falso da cartola), seu número estará arruinado - a não ser que ele ofereça algo muito mais interessante do que o truque em si (que não é o caso aqui).

Se no mesmo ano de O Sexto Sentido já tivessem saído meia dúzia de outros filmes onde no final o cara era um fantasma, o filme ainda poderia ter certo valor estético, mas certamente não teria o mesmo valor como entretenimento.

Enfim, não estou invalidando uma grande obra de arte pelo fato dela não ser original. Estou falando de um filme sem nenhum valor cujo único atrativo é um truque que não só o público já sabe o segredo, como também é mal executado (no sentido de que tudo na tela parece falso e não consegue criar o realismo que é indispensável pra proposta do filme).

João Flores disse...

Caio,

Em primeiro lugar, concordo que não existe um gênero mockumentary, mas talvez possamos chamar de subgênero. E só para esclarecer, quando falei sobre ficção, estava sendo específico sobre ficção científica.

Agora, o que eu estava criticando era a generelização, tipo "tudo que é de tal jeito é ruim", ou "esse tipo de filme já enjoou". Querendo ou não, todo gênero tem limitações (como você apontou), mas não são elas que fazem um filme ser melhor ou pior.

No caso de Atividade Paranormal 3, os realizadores se contentam em fazer com que a fórmula dos longos minutos de espera para cada susto fácil se torne um fim em si mesma, o que - aí sim - sempre será decepcionante em qualquer gênero ou subgênero. Um bom exemplo é a comédia romântica (também, outro subgênero): há várias possibilidades para um roteirista ou diretor, mas sempre tem aqueles que insistem no protagonista procurando a mocinha no aeroporto para impedir que ela vá embora, no mal entendido que faz a mocinha acreditar que o mocinho fez algo que ele não fez, etc.

Para concluir, não entendo porque você dedicou metade de sua resposta explicando porque AP3 não é um bom filme, já que eu já havia concordado com você - e o exemplo sobre O Sexto Sentido é bem vindo, sem dúvidas. O que sempre me fará discordar é criticar um número maior de filmes devido a um, ou dois, ou três mil exemplos específicos, já que qualquer gênero, subgênero, país, diretor, e por aí vai, sempre poderá produzir coisas muito boas ou muito ruins.

Caio Amaral disse...

O termo mockumentary é mais apropriado pra comédias como Spinal Tap ("mock" significa zombar). Filmes como Atividade Paranormal são chamados nos EUA de "found footage"... assim como criaram o termo "torture porn" pra descrever filmes como O Albergue, Jogos Mortais, etc.

Hehe, mas vc está citando frases que não são minhas. Quando eu comentei que os filmes de "found footage" já têm 10 anos, foi pra dizer que, pro propósito de ENGANAR a platéia - de se passar por algo real - a estratégia já não funciona mais, pois o público está acostumado demais com o truque.

Não disse que o motivo de AP3 não ser bom é o fato do "subgênero" já estar desgastado, tanto que no fim recomendei O Último Exorcismo, que é recente e eu gosto.

Mas comentei sim de maneira generalizada que os filmes de "found footage" têm servido mais pros produtores ganharem dinheiro sem terem que se dar ao trabalho de escrever um bom roteiro.

Isso foi uma critica ao modismo como um todo, não um ataque ao AP3 especificamente.

Leonardo de Jesus disse...

Oi Caio. Vou discordar da sua crítica dessa vez. Assisti ao filme, tomei sustos, fiquei com medo e perdi uma noite de sono. Pra mim funcionou 100%.
A questão de simular um filme caseiro, ao meu ver, é um recurso mais para ampliar sua sensação de medo do que para cobrir eventuais falhas de roteiro. Chega a ser inclusive desafio para o roteirista, que precisa contar uma história sem fazê-la parecer falsa. Tb acho que o filme se ap óia muito nos dois anteriores, por isso não necessita de muita explicação e já pode partir para os sustos.
Por fim achei que ele soube inovar dentro da fórmula Atividade Paranormal - a câmera sobre o suporte do ventilador e o fantasma debaixo do lençol são recursos simples e amedrontadores. Na minha opinião é aí que reside a força dessa franquia: em criar medo com o mínimo de elementos.
abraço!

Caio Amaral disse...

Oi Leo! Quanto tempo! Então... Se vc perdeu uma noite de sono então é porque provavelmente acredita em espíritos e coisas sobrenaturais. Por isso mesmo escrevi na crítica:

"Ou o nível de exigência das pessoas pra entretenimento caiu demais ou elas realmente acreditam em demônios e ficam impressionadas com as imagens".

Hehe, vc pertenceria ao segundo caso e aí de fato o filme seria mais intenso. Enfim, não vou discutir aqui se existem espíritos ou não... mas é exatamente por isso que um filme precisa seguir uma história, funcionar num nível intelectual (que é a linguagem comum entre os seres humanos) e não apenas se limitar a provocar "sensações". Fazendo isso ele se torna um Castelo dos Horrores mais longo e menos eficaz, afinal a experiência ao vivo bate o cinema nesse ponto.

Imagine um filme que assume que o público em geral seja composto de pedófilos, e dispense história, caracterização, etc, se limitando a provocar "sensações" eróticas no público de 5 em 5 minutos, mostrando criancinhas se despindo. Se vc FOR por acaso um pedófilo isso poderá te entreter por 90 minutos, mas será uma experiência vazia. Se houvesse uma história, uma progressão lógica de eventos, mesmo quem não fosse pedófilo poderia aproveitar o filme, ainda que discordasse do conteúdo.

Quanto a ser um desafio pro roteirista... Isso até pode acontecer nos melhores exemplos de "found footage", mas não é o caso de AP3 né, pois a situação soa completamente artificial (depois de serem FISICAMENTE agredidos por espíritos, o povo ainda continua desacreditando, ficam na casa por muito tempo, as meninas continuam dormindo sozinhas no quarto delas.. etc).

A ideia do fantasma é divertida e vem de Halloween (1978), mas ali era apropriado.. aqui eu achei engraçado e fiquei me perguntando "por que um fantasma se fantasiaria de "fantasma", ficaria parado atrás de uma mulher, e desapareceria antes dela ver??", hehe. Abraços!!

Caio Amaral disse...

Spielberg falando brevemente sobre esse assunto:

http://www.youtube.com/watch?v=wpevTh7Ve9A&feature=related

lcattapreta disse...

hahahahahaha ai leo...

João Flores disse...

Bom, se a discussão se desvirtuou para a questão da terminologia, vamos lá: a expressão "mockumentary" é, sim, usada pela crítica americana para falar de documentários falsos. Só para citar dois exemplos, Roger Ebert usa o termo em sua crítica de Distrito 9 (http://rogerebert.suntimes.com/apps/pbcs.dll/article?AID=/20090812/REVIEWS/908129987/-1/RSS) e James Berardineli ao falar sobre A Bruxa de Blair (http://www.reelviews.net/php_review_template.php?identifier=2201). Já o termo "found footage" é usado para os chamados "filmes da gravação encontrada", algo que alguns "mockumentaries" são (Blair, Atividade Paranormal) e outros não (parte de Distrito 9, Cloverfield).

Quanto à questão de "enganar" a plateia, nós estamos falando de campanhas de marketing, e não de Cinema. Era legal assistir a A Bruxa de Blair nos anos 90, com 12 anos de idade, achando que tava vendo um video amador encontrado na floresta? É claro que sim, e eu estou certo que o sucesso estrondoso do filme se deve a essa sacada genial (do ponto de vista comercial) de seus produtores. Mas isso não quer dizer que, ao ter consciência que aquilo não é real, o filme vá perder a sua força, já que ele continua funcionando muito bem mesmo mais de uma década depois que seu fenômeno de popularidade ficou para trás. Pois BONS FILMES independem desse tipo de elemento externo para funcionarem.

Para finalizar, se você reler meu primeiro comentário, eu CONCORDEI com sua crítica específica a Atividade Paranormal 3, já que o filme é realmente muito fraco. Agora, meu problema é com a generalização! O que eu disse foi: o filme é ruim não porque subgênero "mockumentary" (ou "found footage", que seja) está desgastado, e muito menos porque os realizadores estão explorando essa fórmula pra ganhar dinheiro (quando é que Hollywood não fez isso em toda a história do Cinema?), mas sim porque nesse caso, isoladamente, os diretores e sua equipe não conseguiram utilizar os recursos a suas mãos para criar um longa que funcione como suspense - algo que, como você mesmo disse, O Último Exorcismo (e eu acrescento [REC], Cloverfield e o primeiro Atividade Paranormal) faz muito bem.

Caio Amaral disse...

Isso mesmo.. O filme poderia ser bom, mesmo num gênero desgastado, SE o foco do filme fosse roteiro, direção, ideias, etc. Mas se o filme se apoia apenas no truque, e o truque é velho, daí ele não vai conseguir nada..