sábado, 27 de julho de 2013

Amor Pleno

Novo longa escrito e dirigido por Terrence Malick (Além da Linha Vermelha, A Árvore da Vida) que só realizou 6 filmes em 40 anos mas mesmo assim é considerado pela crítica um autor importante e artístico. Com Ben Affleck, Rachel McAdams e Javier Bardem, o filme não tem um enredo, quase não tem diálogos, e serve mais como uma reflexão abstrata sobre um relacionamento em decadência (baseado em experiências pessoais do diretor).

Assim como em A Árvore da Vida, Malick mostra seus personagens em paisagens naturais bonitas sentindo a grama, o vento, a água, dizendo frases poéticas, e não se preocupa com construção de personagem, enredo, clímax, ou seja, todos os elementos que formam um filme convencional (não havia roteiro durante as filmagens - Malick pedia pros atores transmitirem emoções sem texto, apenas usando o corpo!). É a visão subjetiva de arte de que o artista pode fazer o que bem entender, não precisa justificar nada, e o espectador é uma espécie de psicólogo tentando decifrar os sentimentos abstratos por trás das imagens. Quando postei o texto sobre Subjetivismo foi justamente pra não ter que entrar em longas discussões toda vez que surgisse um filme desse tipo.


Recomendo também esse vídeo (em inglês) onde o ator Christopher Plummer fala sobre a experiência de trabalhar com Malick e as palavras sábias que disse pro diretor: "você precisa arranjar um roteirista!".
http://www.youtube.com/watch?v=xw08GQw0hBI

To the Wonder (EUA / 2012 / 112 min / Terrence Malick)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou de A Árvore da Vida, O Novo Mundo, etc.

NOTA: 0.0

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Turbo

Animação da Dreamworks sobre um caracol de jardim (quem viu Universidade Monstros e Reino Escondido já notou que lesmas e caracóis estão em alta!) que é obcecado por velocidade e sonha em vencer as 500 Milhas de Indianápolis. Seus amigos tiram sarro dele, até que um dia ele cai acidentalmente dentro do supercompressor de um carro de corrida e tem seu DNA alterado, o transformando no caracol mais rápido do mundo.

A mensagem parece ser "acredite nos seus sonhos", "supere suas limitações", mas assim como outras animações recentes, o filme falha terrivelmente na tentativa de inspirar. Não só porque a ideia de um caracol competindo a Indy 500 soa improvável e maluca mesmo pros padrões de uma fantasia (e libera as pessoas pra terem desejos totalmente ilógicos), mas também porque a maneira pela qual o caracol adquire seus dons é puramente acidental e passa uma noção imprópria do que é habilidade. Você sai com a sensação de que nada menos que um milagre é necessário pros seus sonhos se realizarem, e que sem o milagre você está condenado ao fracasso (o filme é pessimista no fundo).


Compare com Dumbo - a mensagem não é que você pode voar (embora meus pais digam que quando criança eu puxava minhas orelhas pra tentar ficar igual a ele), mas que o elefante pega aquilo que a sociedade considera uma desvantagem e transforma numa qualidade única que nenhum outro elefante tem (uma ideia válida que se aplica à nossa realidade). A história já perderia a graça e o sentido se o sonho de Dumbo fosse competir contra aviões humanos e acidentalmente ele nascesse com orelhas mágicas capazes de fazê-lo voar a altíssimas velocidades.

O filme também tem alguns problemas de roteiro, como o excesso de coincidências (é coincidência ele cair no motor, ou ele ser levado pra uma corrida de caracóis, ou o caminhão da Indianápolis parar justo onde eles estão, etc.), além de personagens coadjuvantes fracos que não têm ligações fortes com o protagonista (senti falta de uma mãe, um pai, um mentor - alguém mais próximo que realmente se importasse por ele).

Pelo menos o visual é sofisticado, de bom gosto, e a direção é bastante criativa, principalmente na primeira parte. Seria uma das animações mais bem feitas do ano, não fosse pelo conteúdo duvidoso.

Turbo (EUA / 2013 / 96 min / David Soren)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Carros, Kung Fu Panda, etc.

NOTA: 6.0

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sharknado

Filme catástrofe produzido pra TV que virou sucesso na internet por causa de sua sinopse genial: um tornado que passa pelo mar e leva milhares de tubarões pra Los Angeles, que atacam a cidade por via aérea.

É o tipo de sinopse que de tão louca faz as pessoas pensarem "eles só podem estar brincando". A princípio me pareceu algo totalmente único e incomparável, mas depois fui pesquisar sobre essas produções do canal SyFy e vi que filmes B nessa linha são uma tradição antiga do canal, como por exemplo Sharktopus (mistura de tubarão com polvo), Ice Spiders, Mansquito ou Piranhaconda.

Sharknado está longe de ser único - a diferença é que um tornado com tubarões, além de uma ideia cômica, é uma sacada 10 vezes mais brilhante que a de um tubarão-polvo, por exemplo. Até por ela ter certa base lógica (tornados podem levar barcos e até peixes pra terra). Como exercício, imagine se, em vez de tubarões reais num tornado, a cidade fosse atacada por tubarões voadores de outro planeta. Seria uma fantasia completa e não haveria tanta graça. A situação é absurda, mas é justamente o aspecto plausível que torna tudo divertido (e a ideia de um animal não-voador num tornado parece ser intrinsecamente engraçada, basta lembrar do sucesso que fez a vaca do Twister).


O legal de filmes B é que eles se levam a sério, e esse é um dos motivos pelo qual gostei de Sharknado. Apesar da precariedade da produção, da direção, etc, o filme se porta como se fosse um filme de aventura sério - uma mistura de Tubarão com Twister. O lado trash acaba sendo divertido, mas não como quem gosta de rir das falhas dos outros; é mais como ver uma criança brincando de adulto, e fazendo tudo de maneira desajeitada porém inocente (é como o Friday da Rebecca Black - a coisa toda se transforma numa comédia; você fica aguardando por cenas absurdas, e é nesse nível que o filme funciona). É bem diferente de filmes como Piranha 3D, Serpentes a Bordo, Ovelha Negra ou Malditas Aranhas, que são auto-conscientes e obviamente estão tirando sarro do gênero. Esses acabam tendo um elemento desagradável de crítica, como quem diz pra plateia num tom de sarcasmo "veja como são ridículos esses filmes americanos, sempre apresentando dramas impossíveis na tela".

Mas se levar a sério não basta pra tornar o filme divertido. Existem filmes como A Noite dos Coelhos (de 1972, sobre coelhos gigantes assassinos) ou mesmo o Sharktopus, que se levam a sério mas têm um roteiro cansativo e situações repetitivas. É por isso que é preciso dar certo crédito pra Sharknado - um dos erros que o filme poderia ter cometido, por exemplo, seria o de trazer o tornado pra cidade logo no começo do filme, e entregar cedo demais aquilo que a plateia estava aguardando. Mas não - primeiro nós temos maremotos, depois enchentes, e o tornado só aparece de fato na cidade no terceiro ato. Ou seja, o roteiro pode não ter diálogos geniais, uma trama inteligente, mas é estruturado de maneira satisfatória e tem um bom senso de espetáculo. Achei divertido, ousado, e o exagero no fundo são os criadores dizendo "sim, nós gostamos do fantástico, de situações fora do comum, de heroísmo, e não estamos nem aí pras suas limitações".

Sharknado (EUA / 2013 / Anthony C. Ferrante)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Eu Sei Quem Me Matou, Anaconda, Twister, Aracnofobia, Orca - A Baleia Assassina, etc.

NOTA: 7.5

sábado, 13 de julho de 2013

O Cavaleiro Solitário

Faroeste produzido pela Disney e por Jerry Bruckheimer que reúne boa parte da equipe de Piratas do Caribe, tentando descaradamente repetir a fórmula da série (o que já não deu certo pois o filme fracassou nas bilheterias). O personagem Lone Ranger é um ícone americano (todos conhecem seu grito "Hi-Yo Silver! Away!"). Começou como programa de rádio nos anos 30 e virou uma série de TV altamente popular nos anos 40/50.

Fica difícil dizer por que o filme não foi bem de público (ele não é pior que os últimos Transformers ou muita coisa que faz sucesso por aí). Talvez seja a semelhança óbvia com Piratas do Caribe, o que gera certa antipatia pelo projeto (que fica com cara de oportunista, segunda-linha). E talvez a marca Lone Ranger seja desconhecida demais do público pra atrair o tipo de multidão que vai ver um filme independentemente dele ser bom ou não (como fazem os heróis de quadrinhos). É um caso parecido com John Carter (da Disney, que também fracassou). À primeira vista o projeto já não tem todo esse apelo; além disso, o filme não é bom o bastante pra acontecer no boca-a-boca.


Mas isso são apenas questões comerciais. Quanto ao filme em si, ele é bem intencionado, quer divertir, os protagonistas são gostáveis, a produção impressiona... Mas peca por um roteiro complicado demais - uma história de vingança/resgate não muito envolvente, que demora demais pra engatar e é atrapalhada por sub-tramas excessivas, prólogos exóticos, flashbacks, um romance que nunca decola, temas interessantes que são mal aproveitados (o cavaleiro é de fato um "andarilho espiritual"?). Sem falar que é um pouco frustrante pro espectador descobrir que Depp não é o protagonista, e sim o companheiro engraçado do Cavaleiro (feito pelo simpático Armie Hammer, de A Rede Social). Me incomodou também o excesso de violência e de detalhes desagradáveis, que destoam totalmente do padrão Disney e são uma maneira baixa de fazer a plateia reagir.

É o tipo de filme que tinha mais potencial, mas precisava de algumas revisões no roteiro e talvez de um diretor melhor que Gore Verbinski (que fez Um Ratinho Encrenqueiro, A Mexicana, etc.).

The Lone Ranger (EUA / 2013 / 149 min / Gore Verbinski)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou de John Carter - Entre Dois Mundos, Piratas do Caribe: No Fim do Mundo, etc.

NOTA: 6.0

terça-feira, 9 de julho de 2013

Truque de Mestre

Suspense com elenco de primeira (Jesse Einsenberg, Woody Harrelson, Morgan Freeman, Michael Caine, Mark Ruffalo) que na verdade é uma variação interessante do "caper film" (filmes sobre roubos ou golpes), pois em vez de criminosos comuns, a história acompanha 4 mágicos talentosos que são convocados por uma figura anônima pra realizar assaltos de maneira que a polícia não possa decifrar nem acusá-los do crime.

A premissa é interessante, os personagens são divertidos, e o filme consegue deixar o espectador envolvido o filme todo (Como será o próximo assalto? Eles serão pegos ou não? Quem é o homem misterioso que planejou tudo?). Há 2 problemas no entanto que estragam um pouco o aproveitamento da história.

1) O filme apresenta os mágicos como heróis carismáticos que estão sempre superando os policiais, e espera que a gente vibre cada vez que eles fazem o personagem do Mark Ruffalo de bobo. Mas pro espectador, eles estão de fato cometendo crimes! A polícia não é mal intencionada e está apenas fazendo o trabalho dela. Não há muito motivo pra gente ficar do lado deles (a atitude Robin Hood de que eles estão roubando de milionários pra dar o dinheiro pro povo torna tudo ainda mais incorreto).


2) Mais pro final, a trama fica confusa - há um excesso de reviravoltas e pontas soltas que acabam sendo frustrantes. As melhores surpresas em filmes vêm de ideias simples, que clarificam a trama e criam mais empatia por algum personagem central. Aqui é como se o filme quisesse parecer mais esperto que a plateia - a sensação no fim não é a de uma mágica fascinante, mas a de um golpe.

Ainda assim, a história diverte, prende a atenção, o elenco funciona... É o tipo de filme que entretém o público e questões como as que apontei são ignoradas pela maioria das pessoas.

Now You See Me (França, EUA / 2013 / 115 min / Louis Leterrier)

INDICAÇÃO: Quem gostou de O Grande Truque, Onze Homens e Um Segredo (e as continuações), Uma Saída de Mestre, etc.

NOTA: 6.5

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Todo Mundo em Pânico 5


Mesmo com boa vontade ficou difícil gostar desse 5º episódio, que agora já não tem mais Anna Faris no papel principal (foi substituída pela Ashley Tisdale). Mas esse nem é o problema (Ashley até que se sai bem); o problema é a má qualidade do humor e das piadas. Muitas são daquelas que surgem aleatoriamente no meio das cenas, fazendo referências a filmes ou programas de TV americanos que pra quem não conhece fica algo totalmente fora de contexto e incompreensível. Outras são simplesmente idiotas e sem nenhum tipo de inteligência ou originalidade (o marido está sempre tropeçando, levando pancadas na cabeça - o tipo de humor infantil que nem em filmes dos Três Patetas tinha muita graça).


O roteiro foi escrito por David Zucker e Pat Proft (de Corra que a Polícia Vem Aí e outros clássicos do gênero), mas humor não depende apenas de roteiro. A trilha errada, a reação errada de um ator ou mesmo a edição podem destruir completamente uma boa piada, então é essencial que o diretor do filme também saiba lidar com o material. Os últimos 2 filmes (que foram bem melhores) tinham sido dirigidos também por David Zucker. Agora trocaram por um tal de Malcom D. Lee que não tem nada de notável na filmografia e deve ser o responsável pelo resultado. Claro que o filme não erra em tudo, e a meia dúzia de piadas que funcionam pra mim já fazem valer o ingresso (só que pra cada piada boa há umas 5 constrangedoras). Se saiu melhor o Marlon Wayans com seu Inatividade Paranormal, que brincou com filmes parecidos mas com um roteiro melhor e sacadas mais divertidas.

Scary MoVie (EUA / 2013 / 86 min / Malcom D. Lee)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Os Vampiros que Se Mordam, Super Heróis - A Liga da Injustiça, etc.

NOTA: 4.0

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Guerra Mundial Z

Baseado num livro aclamado que reinventou o gênero, o filme pretende mostrar uma história de zumbis mais "séria" e científica, que foca mais nos aspectos políticos da invasão e nem tanto no terror e na violência. Está mais pra um filme como Contágio (os zumbis são tratados como uma pandemia, não como um evento sobrenatural) do que pros clássicos do George Romero (embora haja bastante ação e sustos também).

O filme começa interessante, mostrando um dia normal da cidade de Filadélfia e da família de Brad Pitt (pra criar escapismo, é sempre importante estabelecer uma atmosfera realista). Em pouco mais de 5 minutos, os zumbis já aparecem e o filme vira pura ação. A situação é razoavelmente envolvente, afinal se trata de uma família inocente em perigo, mas fica a sensação de que tudo aconteceu cedo demais no roteiro, antes de conhecermos melhor os personagens (ninguém tem nenhum propósito ou conflito antes de surgirem os monstros).


O roteirista disse que o grande desafio do filme era criar um personagem central, pois o livro não tinha uma narrativa convencional (ele é escrito como se fosse um relatório oficial da ONU). Esse é um dos pontos fracos da história. Senti falta de um herói mais forte, com mais determinação (um pouco porque Pitt tem um jeito tranquilo, manso, não passa o tipo de intensidade e garra de um Tom Cruise ou Schwarzenegger, então acaba sendo pouco convincente vê-lo sobrevivendo a desastres aéreos, lutando com mortos-vivos, etc). Mas o roteiro também não cria grandes possibilidades pra ele. O interessante nesse tipo de filme não é ver que os personagens correm perigo, mas o fato da situação criar oportunidades pro protagonista se superar, mostrar suas virtudes; se não fosse por esses aspectos positivos, seria apenas uma situação desagradável pela qual a plateia não gostaria de passar (SPOILERS: a maior sacada de Pitt no filme é descobrir o antídoto contra os zumbis, o que não é uma descoberta tão brilhante assim, e além disso no final é pura sorte ele conseguir injetar a substância certa).

Ou seja, poderia ser mais intenso, mais divertido, mas ainda assim é um filme honesto e que traz um toque de originalidade pra um gênero já muito explorado nos últimos anos.

World War Z (EUA, Malta / 2013 / 116 min / Marc Forster)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Contágio, Planeta dos Macacos - A Origem, Guerra dos Mundos (2005), Eu Sou a Lenda

NOTA: 6.5