domingo, 14 de setembro de 2014

O Doador de Memórias (anotações)

- O protagonista é atraente, especial, "enxerga" mais que o normal, etc. Brenton Thwaites é simpático e parece certo pro papel.

- Muito bonito o visual preto e branco do começo! Produção é mais sofisticada do que eu esperava.

- O filme é uma crítica ao comunismo? Interessante. E é incrível ele sugerir que a motivação dos criadores da comunidade não é a de promover o bem estar, a felicidade, e sim acabar com a inveja, impedindo qualquer um de se sobressair (o que na minha visão corresponde à realidade).

- História lembra muito Divergente. Não sei que livro veio primeiro, mas o filme acaba perdendo uns pontos em originalidade (lembra Jogos Vorazes também, claro).

- SPOILER: Demais a cena que ele vê o pôr do sol colorido pela primeira vez. Todas essas cenas dele descobrindo como a vida poderia ser melhor são ótimas (e com as emoções positivas também podem surgir as negativas, o que é uma boa observação). A ideia de ir acrescentando cor aos poucos na fotografia também é um toque inteligente de direção.

- SPOILER: Forte a cena do sacrifício do bebê (e sem apelar pra violência).

- O filme "escapa" da discussão política tornando a história um conflito entre pessoas a favor de emoções e pessoas contra emoções (e não pessoas a favor da liberdade, do estado, etc). Claro que ninguém na plateia vai ser contra emoções, então o filme acaba sendo mais universal - e um pouco mais óbvio (é interessante notar que, no campo da arte, o Naturalismo parece também ter esse desejo de eliminar emoções).

- O romance com a garota não funciona muito, pois como ela não sente emoções (está vivendo dentro do sistema), nós na plateia vemos ela como um robô quase. Alguém sem personalidade, vida, etc. Sinto falta de mais personagens "acordados" no filme, juntos com o herói.

- A premissa de que ninguém sente emoções enfraquece o filme de certa forma. Pois nem os vilões (Meryl Streep, policiais) conseguem ser muito interessantes, já que eles não sentem nada muito forte. O filme tenta driblar esse problema fazendo a Meryl interpretar com cara de ódio (o que contradiz a premissa), mas não é o mesmo que ter um vilão realmente mau, que quer destruir o herói, não está apenas sendo "correto".

-  SPOILER: Meio irreal o Brenton pular penhascos com esse bebê, atravessar nevascas, etc.

- Ação no final (toda a parte dele fugindo) não envolve muito. Ele não tem grandes obstáculos e a meta dele não é muito empolgante pois não nos importamos pelos outros personagens da história.

- SPOILER: Não entendi por que o bebê representa o futuro, já que a memória voltou pra todo mundo. E o que é essa casa no final? Existem pessoas vivendo fora da comunidade? Achei que ficaram coisas mal explicadas.

CONCLUSÃO: Pode frustrar quem espera uma discussão ideológica mais explícita, mas é um entretenimento bem feito e bem intencionado. Apesar das semelhanças com outros filme recentes, consegue ter sua autenticidade.

(The Giver / EUA / 2014 / Phillip Noyce)

FILMES PARECIDOS: Divergente, Jogos Vorazes, Ender's Game.


NOTA: 7.0

5 comentários:

MaxCavalcante disse...

Justamente, parece que você não entendeu mesmo o filme... Talvez, se assistisse equilibrium poderia assimilar um pouco as coisas. O filme é uma crítica forte ao igualitarismo utópico que surge do evolucionismo oriundo do iluminismo que gerou algumas ideologias, dentre as quais, o comunismo, que fica evidente no filme, com pessoas IGUAIS, SEM DIFERENÇAS, SEM MELHORES NEM PIORES, SEM OPRIMIDOS NEM OPRESSORES. Não é para ser um filme de ação. O bebê não representa o futuro, o bebê representa a vida, a possibilidade de viver. Reveja a cena horripilante e que machuca, até nós, da eugenia em prática, no trabalho do pai do Jonas. Olhe as pautas abortistas. E não é somente referente a emoções, mas sim à liberdade que a igualdade totalitária retira das pessoas. No final, quando Fiona diz "vocês retiraram uma coisa de nós" ela se refere à liberdade de viver. Isso fica explícito quando Jonas, ainda na cena da eugenia, pergunta "sem sentimentos, qual o objetivo?", qual o objetivo de viver?

Caio Amaral disse...

Olá, eu já assisti Equilibrium, não acho que seja por falta de referências e de cultura cinematográfica que eu não tenha "entendido" este filme adolescente. Como comentei na crítica, eu sei sim que o filme quis fazer uma crítica ao igualitarismo, talvez até ao comunismo.. Só acho que, pra evitar polêmicas, ele acabou deixando a discussão um pouco genérica. É quase proibido fazer um filme mainstream, comercial, abertamente contra a esquerda, contra o comunismo.. Já contra o capitalismo saem vários todo ano. Por isso acho um pouco frustrante, uma oportunidade perdida. Muitos desses filmes distópicos adolescentes falam mal de governos opressores, anti-liberdade, como Jogos Vorazes, mas acabam camuflando a mensagem para que os vilões não pareçam ser de esquerda - possam ser interpretados como qualquer tipo de ditador, seja comunista, fascista - algo puramente mau, anti-liberdade, que busca o poder pelo poder... mas não algo claramente de esquerda. Por isso o filme acaba focando a discussão no fato da sociedade proibir emoções, escolhas, coisas sem muita carga política.. Eles não vão falar por exemplo sobre questões econômicas: sobre não poder haver desigualdade NESTE nível, sobre ninguém poder ser mais rico e bem sucedido que ninguém, pois aí começaria a ficar polêmico (e claro) demais para o público. Repare também que a comunidade é altamente avançada tecnologicamente.. eles vivem num lugar rico, high tech, confortável materialmente.. o que também tira essa impressão de ser uma crítica específica ao comunismo, que jamais chegaria nesse nível de progresso (no livro Anthem da Ayn Rand, que conta uma história bem parecida, a sociedade se tornou totalmente atrasada, sem tecnologia, o que dá uma noção melhor do que acontece nesse tipo de regime).

Só uma observação: ter uma ideologia explícita não é algo necessário pra eu gostar de um filme.. se não dei uma nota extremamente alta, foi mais por questões narrativas, pela qualidade da escrita, da produção em geral, etc.

MaxCavalcante disse...

Algumas coisas ficam em bastante evidência: a Eugênia, tanto dos bebês "deficientes" (qualquer semelhança com o aborto sendo discutido hoje em dia não é coincidência), logo, diferentes (o que quebraria o ideal igualitário) e por parte dos idosos que são exterminados; a existência de uma polícia do que responde à juíza, principalmente se levar em consideração que é um mundo igualitário, sem ódio, sem inveja e sem rancor (qual a necessidade de haver uma polícia ou até mesmo uma defesa aérea? Isso lembra muito os moldes da urss e da Alemanha oriental). Sem contar que, logo no início do filme, há um destaque para essa questão da igualdade, que sabemos que é pauta da esquerda.

MaxCavalcante disse...

Concordo plenamente com você: não há a crítica tão explícita contra a esquerda que possa se comparar aos filmes anticapitalistas.

Caio Amaral disse...

Sim, no comunismo eles querem sempre igualar as pessoas nivelando por baixo: querem que todos sejam igualmente pobres, dependentes, desprovidos... ouço histórias como a do Khmer Vermelho no Camboja.. que matava os que eram excepcionais.. os mais educados, os mais produtivos, etc.. pois ninguém poderia se sobressair.. Nesse caso de matar bebês deficientes, me passa mais a ideia do Nazismo.. querer nivelar "por cima", eliminar os fracos, criar uma raça superior, etc. Quase todos esses filmes distópicos que falam de governos opressores me passam ideias mais associadas ao Nazismo.. um ditador frio e arrogante que odeia os "fracos", é a favor de uma "elite maléfica".. Mas nunca um ditador que odeia os fortes, os bem sucedidos, os ricos, etc. Isso que seria bem chocante ver num filme comercial hehe. Abs!