quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Festa no Céu

- Filme se passa em um universo pouco atraente e a aparência dos personagens é horrível (se eu fosse criança eu não iria querer brincar com esses bonecos). O conceito da animação já é confuso - eles não são figuras humanas estilizadas através de animação. Eles são BONECOS de figuras humanas estilizados através de animação! Como se fosse um Toy Story.. mas a história não é sobre brinquedos!

- La Muerte supostamente é uma mulher bondosa e positiva enquanto Xibalta representa tudo o que é negativo: mas na prática os dois são muito parecidos! Não vejo diferença de personalidade.

- Humor fraco e pouco imaginativo. Baseado em clichês do gênero.

- Filme não cria um romance envolvente entre Manolo e Maria. Personagens e relações são muito superficiais - a gente não torce por ninguém. Nem a rivalidade entre os amigos é muito bem explorada - Joaquín é apenas menos simpático que Manolo, mas não há um grande conflito de valores.

- O herói canta "Creep" do Radiohead pra mocinha?!?! Desde quando ele é um "esquisito", uma "aberração"? E o que isso tem a ver com o universo do filme, com o México? É apenas um toque malevolente pra tornar o filme "cool" pra plateias alternativas (aliás, todo o desenho faz apologia ao senso de vida malevolente com suas caveiras, temas sobre morte, etc).

- Regras mal explicadas: será que é possível morrer dentro da morte?

- SPOILER: Forçado (e frustrante) Manolo ganhar a tourada cantando para o touro em vez de lutando! Não é uma vitória empolgante, parece uma saída preguiçosa do roteirista. É frustrante também o exército de mortos surgir na última hora e ajudá-lo a vencer o vilão. Filmes de "herói envergonhado" são sempre assim: eles nunca fazem nada de interessante, estão sempre sendo salvos por milagres, ações mal explicadas, etc.

- SPOILER: Final terrível: a moral é que você não deve ser individualista, que auto-sacrifício é uma grande virtude, e pra piorar, La Muerte (o bem) e Xibalta (o mal) se beijam apaixonadamente indicando que são 1 só! Pobres crianças.

CONCLUSÃO: Animação pouco atraente, pouco divertida, sem personagens gostáveis e com valores discutíveis.

(The Book of Life / EUA / 2014 / Jorge R. Gutierrez)

FILMES PARECIDOS: Rango / Coraline e o Mundo Secreto / 9 - A Salvação / A Noiva Cadáver

NOTA: 4.0

10 comentários:

Anônimo disse...

Numa passagem de “A Insustentável Leveza do Ser”, Milan Kundera comenta que os filmes soviéticos, na época de Kruschov, no afã de pretenderem retratar uma sociedade perfeita, onde não haviam quaisquer impasses ou conflitos, acabavam não tendo história alguma. No máximo, uma briga passageira entre namorados, porque a harmonia tinha que ser total. O pensamento politicamente correto parece estar levando o cinema ocidental a um impasse similar. Querem eliminar todo tipo de conflito e rivalidade, como sendo intrinsecamente más, e acabam sem ter histórias que tenham algum interesse para o espectador.

Caio Amaral disse...

O que eu geralmente comento aqui no blog é quase o contrário.. que os filmes populares de Hollywood estão cada vez mais focando nos conflitos, nos aspectos negativos das histórias e dos personagens, e esquecendo de entreter.

Mas sem dúvida conflitos fazem parte de qualquer bom filme.. nunca achei outra coisa. Abs.

Anônimo disse...

Referente à tourada, foi deixado bem explícito no filme que o maior medo de Manolo era ser ele mesmo, então sim, Xibalba se enganou sobre isso. E também, assim que ele se aproxima da espada para pegá-la e supostamente matar o touro, dá pra ver claramente o quanto ele se sente incomodado com o ato de matar. Ele próprio já disse no começo do filme que não consegue e matar touros é errado. Ele pede perdão ao touro, e é falado na música que ele percebeu que o sangua nunca deveria ter sido derrubado na arena e está certo. Fora que, quando ele acaba a música, aparentemente, o touro perdoa ele e passa a ir para a Terra dos Lembrados (e caso você não lembre, ele estava na Terra dos Esquecidos). Então não acredito que foi uma escapada, afinal ele fez o que realmente gosta e todos sabemos que matar animais é errado, principalmente em touradas. Não é frustrante e muito menos forçado, mostra que ele não tem mais medo de mostrar quem ele realmente é, e não apoia as atitudes de seus antepassados.

Caio Amaral disse...

Aquele "touro" do final era um monstro sobrenatural criado pelo vilão, não um touro de fato.. então esse debate sobre violência animal acho que não cabe nessa cena.. acharia super válido matar o monstro. Mas minha principal crítica a esse momento é que a ideia de cantar uma música e isso resolver todos os problemas é uma solução ruim / preguiçosa (em termos de roteiro).. um exemplo da "primazia da consciência", do subjetivismo que sempre discuto.. que livra o roteirista de ter que ter grandes sacadas, pensar em soluções lógicas, visualmente interessantes.. pois tudo é sobre mudar um sentimento, ter uma introspecção, perdoar alguém, se aceitar.. e os conflitos externos desaparecem.. acho esse tipo de solução ruim cinematograficamente, mas não estava criticando o caráter do personagem nessa cena específica (isso eu fiz em outros pontos do filme)..

(se bem que mesmo nessa cena, há algo de altruísta, de "perdoai vossos inimigos" na atitude dele que me dá certa preguiça)

Anônimo disse...

Avaliação bastante precisa. Assisti no Youtube, é mesmo bem decepcionante, em matéria de finalização. Só consegue ser um pouquinho melhor que o Coco da Pixar, que foi tão fraco e piegas que ninguém parece mais lembrar dele.
Pedro.

Caio Amaral disse...

Viu o filme todo no YouTube ou só o final?! O "Coco" eu acho que é um filmes que as pessoas ainda gostam bastante (está em #75 no top 250 do IMDb).. sempre vejo alguém comentando que chora muito no final, etc. Mas claro que não é algo tão pop quanto um Frozen, né.. ou outras animações que tiveram sequências, etc.

Dood disse...

Tenho um colega que ama o Viva A Vida é uma Festa, porque tem uma cena do garoto com a avó que lemba a finada avó dele. O filme deve gatilhar uma emoção nas pessoas que não levam o senso crítico da história em conta.

Caio Amaral disse...

Sim.. velhinhos frágeis costumam evocar esse tipo associação/sentimento facilmente.. e em Coco isso é somado ao ato de altruísmo, que pra algumas pessoas é o que realmente comove (tanto que muitos choram em outros filmes onde há um ato de auto-sacrifício no final, mesmo quando não envolve velhinhos especificamente). abs!

Anônimo disse...

Assisti o filme todo, sim. A minha referência a Coco é mais uma impressão pessoal, é possível que haja muita gente que goste ainda. Ando meio enjoado dos filmes da Pixar, que ficaram carregados demais no sentimentalismo e muito presos a fórmulas.
Pedro.

Caio Amaral disse...

É um mal da maioria das animações né.. até quando vejo as animações consideradas mais "alternativas" elas me passam essa coisa formulaica, feita por comitê..