terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Star Wars: O Despertar da Força

NOTAS DA SESSÃO:

- O começo (sequência de créditos, trilha, primeira cena no espaço, etc.) é sempre eletrizante! Nem tanto por méritos do filme, mas pela nostalgia que a saga desperta.

- Legal a ideia de manchar o capacete do Storm Trooper com sangue pra podermos identificá-lo. Intrigante o a apresentação do personagem.

- A fotografia, o design de produção, os efeitos especiais - é tudo de excelente nível. Adorei o veículo da Rey, aquele líquido que se transforma em pão... Gosto também que o filme se passa em lugares naturais (deserto, floresta, etc.) e não em ambientes futuristas urbanos como na última trilogia.

- Não gosto da protagonista (Rey). Eles escalaram uma atriz com um rosto extremamente duro e agressivo, que combinaria com uma guerreira, mas daí tentam (sem sucesso) torná-la divertida, despretensiosa, feminina, etc.

- BB8 é uma graça! Embora seja uma releitura do R2-D2.

- Também não gosto do outro protagonista (Finn). Mais um que tem um rosto extremamente sério mas tenta se comportar de maneira cômica, fazer um tipo Will Smith, o que não convence. A química entre ele e a Rey é fraquíssima. Dos personagens novos, o que tem mais força é o Oscar Isaac (Poe) que infelizmente fica em segundo plano na história. E o Harrison Ford é sempre uma presença ótima. Acaba salvando o filme quando aparece (embora a relação entre ele e os novos personagens não seja muito forte).

- SPOILERS: O filme depende totalmente da nostalgia em relação aos clássicos pra funcionar. Ele não tem uma boa história, bons personagens, novos elementos de valor... Só tem certa força porque de 20 em 20 minutos apresenta de maneira grandiosa algum elemento dos clássicos e provoca uns arrepios na plateia: a Millenium Falcon, Han Solo e Chewbacca, a Princesa Leia, o capacete do Darth Vader, C-3PO, o sabre de luz, Luke no final, etc. Usar esse truque 1 ou outra vez tudo bem, agora fazer isso o tempo todo sugere que o roteiro não se sustenta sozinho.

- Sinto falta de personagens mais grandiosos... princesas, Jedis, etc... os heróis aqui parecem coadjuvantes, pessoas comuns que não têm grande relevância pro universo de Star Wars.

- O vilão é fraco. Parece uma tentativa de criar um novo Darth Vader, o que me parece um erro. O ator não é muito ameaçador. Parece um adolescente meio revoltadinho mas não alguém perigoso, com ideias sérias. A revelação de que ele é filho de Han Solo também parece uma imitação do final de O Império Contra-Ataca (e sai perdendo na comparação).

- Por que a Rey tem a "força"? O lance da força era algo inspirador nos filmes antigos... Estava integrado à estrutura da Jornada do Herói. Luke tinha que se tornar homem, aprender a se defender, salvar a princesa, vingar a morte da família, etc. Ele realmente sonhava em ser um Jedi... Essa menina não tem esse tipo de ambição. É meio que um poder "gratuito" que não faria muita diferença se ela não tivesse. Não inspira. Ela parece ter entrado acidentalmente na história.

- Todo o meio do filme é chatíssimo. O plano de destruir a nova "estrela da morte" é uma repetição do primeiro filme.

- Esse líder supremo gigante na poltrona destoa da série. Parece que estamos vendo Harry Potter.

- SPOILER: Matar o Han Solo talvez seja a maior burrice da história do cinema. Se ele fosse morto por um personagem importante, ou por causa de um conflito muito sério, algo bem construído, seria menos pior. Mas morrer por causa desse garoto tolo é um desrespeito à série. Nunca nem vimos os 2 personagens juntos. Não era uma relação forte - a morte soa gratuita. Um truque pra gerar comentários e fazer o filme soar minimamente relevante pra série. Han Solo era talvez o personagem mais querido de toda a saga.

- Legal a cena da Rey usando a força pra pegar o sabre de luz. Mas como ela consegue lutar tão bem? Luke Skywalker levou um tempão pra ser treinado pelo Yoda! Banalizaram a força. Não parece mais algo especial.

- Explodir a nova "estrela da morte" pareceu fácil demais. Nem entendemos direito como isso aconteceu.

- Boa a cena final da Rey encontrando Luke (John Williams é um gênio nessas horas).

CONCLUSÃO: Tecnicamente bem feito e consegue agradar os fãs desenterrando todos os elementos nostálgicos da saga, mas não é um bom filme que se sustenta sozinho.

(Star Wars: The Force Awakens / EUA / 2015 / J.J. Abrams)

FILMES PARECIDOS: Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros / séries O Senhor dos Anéis, Harry Potter, O Hobbit / Além da Escuridão - Star Trek

NOTA: 7.0

domingo, 13 de dezembro de 2015

Going Clear: Scientology and the Prison of Belief

Já está no Netflix esse documentário sobre a Cientologia, a religião excêntrica de astros como Tom Cruise e John Travolta. É um filme indispensável pra qualquer pessoa que se interesse por filosofias, religiões, pois mostra de forma perturbadora o lado negro da fé e o poder que ela tem de destruir o senso crítico das pessoas. É muito fácil ver o filme e chegar à conclusão de que não se deve ter nenhuma crença, seguir nenhum "mestre", e que o certo é se manter eternamento cético e agir de maneira pragmática - o que pode ser um erro também, só que pro lado oposto. Ainda assim, é bastante educativo ver pessoas que pegaram o caminho errado e se renderam ao desejo bastante humano de sentir que encontraram todas as respostas, que estão no comando das próprias vidas e têm o mapa definitivo pro sucesso e pra felicidade.

Já tinha visto alguns bons documentários no YouTube sobre a Cientologia, então nada do que eu vi aqui foi extremamente novo ou revelador. Ainda assim, esse é o que parece mais "oficial", bem produzido, com os melhores depoimentos, e o filme tem boas chances de ser indicado ao Oscar em 2016.

(Going Clear: Scientology and the Prison of Belief / EUA / 2015 / Alex Gibney)

FILMES PARECIDOS: An Honest Liar / O Mestre / Religulous

NOTA: 7.5

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Naturalismo

(Capítulo 16 do livro Idealismo: Os Princípios Esquecidos do Cinema Americano)

Se o Idealismo é melhor representado pelo cinema tradicional de Hollywood, o Naturalismo sempre foi o tipo de cinema predominante na Europa e em todo o resto do mundo.

A principal característica do Naturalismo é a intenção de mostrar “a vida como ela é”, retratar algum tipo de cultura ou realidade social, com o intuito de conscientizar e sensibilizar o espectador a respeito de causas as quais o autor acha importantes.

O foco é quase sempre em realidades não atraentes. A vida de uma mulher da alta sociedade, por exemplo, não é menos real do que a de qualquer outra pessoa, e poderia muito bem ser retratada ao estilo Naturalista, mas, em geral, o Naturalismo se interessa mais pelos grupos considerados mais fracos: pessoas menos privilegiadas, países e culturas mais pobres, aqueles que não são felizes, que não são bem-sucedidos etc.

IDEALISMO VS. NATURALISMO

No Idealismo, o autor é primeiramente um criador. Ele recria a realidade de acordo com sua visão e seus valores, e constrói a obra para estimular e inspirar o espectador, mostrando coisas mais interessantes do que as que vemos no dia a dia. Ele tem uma postura ativa e tem a intenção de comandar a experiência do espectador — proporcionar reações, emoções e pensamentos específicos, dirigindo sua atenção a todo momento.

Já no Naturalismo, o autor tem uma postura mais passiva e apenas expõe fatos e eventos que acha relevantes (eventos realistas, pessoas comuns), mas não pretende comandar a experiência interna do espectador. A realidade é apresentada de maneira crua e o diretor, no máximo, sugere uma maneira de olhar para aqueles fatos, sem muita “manipulação”.

No Idealismo, além da obra ser uma expressão do autor, ela também é feita para criar uma experiência satisfatória para o espectador, e para isso precisa se ajustar à sua consciência, respeitar sua natureza: ela respeita o fato de que o espectador é naturalmente motivado por prazer, autointeresse, e constrói a obra ao redor dessa realidade apresentando uma narrativa envolvente, estimulante, que caminha em direção a um clímax, discute temas de seu interesse etc.

No Naturalismo, o autor rejeita o fato que o espectador é motivado por prazer e autointeresse, e exige certo sacrifício dele em nome de valores que considera mais importantes. A obra não se ajusta às necessidades do espectador criando estímulo, clímax, e uma narrativa excitante. O espectador é que tem que se ajustar à obra, deixando suas necessidades em segundo plano.

Como observou Rand em The Romantic Manifesto, a negação do livre-arbítrio é também uma característica típica do Naturalismo. No Idealismo, os personagens têm livre-arbítrio, objetivos próprios, e a capacidade de decidir/influenciar seus destinos, de forma que suas decisões e os resultados delas passam a ser de interesse do espectador, pois têm implicações morais e aplicação universal (o espectador sente que pode tirar uma lição da história, um aprendizado útil para sua vida).

Já no Naturalismo, os personagens parecem ser vítimas das circunstâncias e não têm muito poder sobre suas vidas, escolhas e destinos. Suas vidas parecem pré-determinadas por suas condições sociais e culturais. Claro, o espectador também pode tirar uma “lição” disso, mas a lição será que qualquer esforço para atingir a felicidade será inútil, pois o ser humano não tem um verdadeiro controle sobre sua existência.

Como o Idealismo parte do princípio que o ser humano tem livre-arbítrio, há quase sempre a presença de uma trama — uma sequência de eventos e ações motivadas pelo desejo do protagonista.

Como o Naturalismo não acredita em livre-arbítrio, as histórias tendem a não ter tramas e serem mais episódicas: fazem um retrato do cotidiano, um registro de situações e acontecimentos que não são motivados pelo desejo do protagonista — as coisas vão simplesmente acontecendo a ele, sem uma ordem ou direção clara. O foco do Naturalismo está mais no estudo de personagem, em mostrar como o protagonista lida com as situações, como ele reage e se sente diante dessas circunstâncias inevitáveis, normalmente com o intuito de gerar um sentimento de pena no espectador.

No Naturalismo, vemos o personagem por fora, de maneira superficial. Embora o Naturalismo seja visto muitas vezes como um tipo de arte mais rica e “profunda”, em geral, há muito menos psicologia no Naturalismo do que no Idealismo. Já que o Naturalismo enxerga o ser humano como determinado por fatores externos, há pouco interesse em mostrar o universo interno dos personagens: suas escolhas, seus valores pessoais, seu caráter, afinal, nada disso importa muito. O filme irá mostrar o personagem de maneira materialista, externa, como um produto do meio, e por isso o manterá a certa distância.

No Idealismo, já existe muito mais interesse nas ideias, nas escolhas e nos valores individuais dos personagens. Vendo um filme Idealista, nós nos sentimos por dentro de tudo que eles pensam e decidem. Pegue a cena em Titanic (1997), por exemplo, em que Rose está no restaurante e olha uma garotinha na mesa ao lado recebendo instruções de etiqueta da mãe, aprendendo a se portar como uma “dama da sociedade”. Não há uma palavra dita na cena, mas, apenas pelas imagens, pelo olhar de alienação de Rose, nós sabemos exatamente o que ela está pensando, quais são seus julgamentos, e, na cena seguinte, quando ela resolve ir atrás de Jack, nós entendemos exatamente sua motivação, o que a fez escolher esse caminho. No Naturalismo, como os personagens são retratados como determinados, sem livre-arbítrio, nunca há esse tipo de intimidade psicológica.

No filme Dor e Glória (2019), de Pedro Almodóvar, Antonio Banderas interpreta um diretor de cinema espanhol, e há um diálogo entre ele e sua mãe que expõe uma verdade sobre essa atitude do Naturalismo. No filme, Banderas é um cineasta que costuma fazer filmes autobiográficos, e por isso baseia muitos personagens em pessoas que ele conhece na vida real. Há uma cena entre ele e sua mãe, no hospital, em que ela está contando uma história envolvendo uma amiga, quando de repente ela fica muda e hesita em revelar mais detalhes, com medo do filho incluir a história em um de seus filmes. Ela diz: “Minhas vizinhas não gostam de como você as retrata em seus filmes. Elas dizem que você faz com que elas pareçam umas caipiras”.

O Naturalismo faz as pessoas parecerem “bichos do mato” de certa forma, criaturas rústicas, incapazes de entender a realidade, comandar suas vidas. Nenhum ser humano com um mínimo de autoestima gosta de ser visto por essa lente do Naturalismo. Ninguém realmente pensa não ter livre-arbítrio, ser uma criatura determinada, nem mesmo alguém pobre. Nunca li nenhuma declaração de Libo, a empregada da infância de Alfonso Cuarón que inspirou a protagonista de Roma (2018), mas duvido que ela tenha se sentido muito enaltecida pelo filme. De fato, as classes mais baixas costumam detestar o Naturalismo e não têm o menor interesse em ver esse tipo de filme — são apenas certos intelectuais que sentem prazer em apresentar a humanidade desta forma, se colocando numa posição de superioridade. Não de superioridade moral apenas, como fazem os Idealistas críticos (o que é aceitável), mas numa posição de superioridade existencial: a humanidade inteira é determinada, impotente, ignorante, exceto o autor da obra, é claro, que é feito de outra matéria.

domingo, 6 de dezembro de 2015

O Presente

(Esta crítica está no formato de anotações - em vez de uma crítica convencional, os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão - um método que adotei para passar minhas impressões de forma mais objetiva.)

ANOTAÇÕES:

- Joel Edgerton está ótimo como o amigo esquisito (ele também é o roteirista e o diretor do filme!).

- O filme tem um clima de suspense dos anos 90 muito legal. Lembra coisas como Mulher Solteira Procura, A Mão que Balança o Berço, Atração Fatal - a família "normal", feliz, sendo atormentada por um maluco obcecado.

- É legal a maneira em que o Gordo fica no limite entre o socialmente aceitável e o perigoso. Torna a situação mais convincente. O filme é bastante realista em termos de comportamento, caracterizações (toques como o casal discutindo sobre Gordo com os outros amigos, etc.). Jason Bateman e Rebecca Hall estão muito bem.

- Boa a sequência em que Gordo convida Simon e Robyn pra irem na casa dele. O fato da casa ser muito maior do que esperávamos, a história dele sair da casa e deixar os dois lá sozinhos, o suspense quando o casal vai fuçar nos outros cômodos, etc. O mistério vai ficando cada vez mais intrigante.

- O suspense é muito bom quando a Robyn desconfia que há alguém na casa (a torneira aberta, etc.). Gosto da sutileza e do ritmo contido do filme.

- SPOILER: Susto do ano: o cachorro!

- SPOILER: O roteiro é bem construído. Seria monótono e clichê se Gordo fosse apenas um stalker e o filme tivesse essa  única linha narrativa. Mas quando ele manda a carta falando pra Simon sobre o passado e a esposa começa a desconfiar de que o marido está ocultando algo, a trama fica bem mais interessante e original.

- SPOILER: Surpreendente a cena em que Simon vai pedir desculpas pro Gordo e acaba batendo nele. O marido realmente é um bully! Muito interessante essa inversão de papéis (e Bateman faz essa transição de maneira muito convincente).

- Um pouco forçada a cena em que Danny quebra o vidro da casa. Essa subtrama foi mal apresentada e acaba parecendo um susto barato.

- SPOILER: O final é frustrante e acaba tirando pontos do filme. Pelo suspense que estava sendo construído, achei que algo muito mais radical fosse acontecer. A ideia do bebê talvez não ser de Simon não é das melhores (parece que queriam fazer um final meio O Bebê de Rosemary mas não funciona direito aqui).

CONCLUSÃO: Suspense tradicional bem escrito, dirigido, atuado, pelo menos até o clímax que é um pouco decepcionante.

(The Gift / Austrália, EUA / 2015 / Joel Edgerton)

FILMES PARECIDOS: Os Suspeitos / A Mão Que Balança o Berço / Atração Fatal

NOTA: 7.5

sábado, 5 de dezembro de 2015

No Coração do Mar

ANOTAÇÕES:

- Legal a homenagem a Tubarão na cena inicial (se é que foi intencional).

- É uma produção de certo nível, mas tudo soa muito convencional, clichê. Por exemplo: a esposa grávida que dá o amuleto pro marido que está partindo pra uma grande aventura, etc. As caracterizações soam superficiais, com clima de novela.

- Fotografia feia, escura, suja, muito manipulada. Os efeitos especiais também não são dos mais convincentes. O filme se passa em um ambiente feio e com personagens desinteressantes. Não dá pra comparar com As Aventuras de Pi, ou mesmo Tubarão.

- Não simpatizo muito pelo Chris Hemsworth nesse papel (me parece muito impessoal, invulnerável) nem pela relação principal do filme, que é entre ele e o capitão do navio. É uma disputa pra ver quem é mais poderoso, dominador, mas sem o charme de uma rivalidade como a do filme anterior do Ron Howard (Rush: No Limite da Emoção), onde por trás da competição havia um respeito mútuo e uma química entre as personalidades. Acho que a história seria melhor se fosse contada pelo ponto de vista do garotinho (Tom Holland, que é mal explorado).

- Quando a baleia começa a atacar, o filme fica mais envolvente. Mas ele não diverte como um filme de monstro no estilo Tubarão, primeiro porque a baleia está apenas se defendendo - não é uma assassina perversa. Então nem podemos torcer muito pelos protagonistas. Além disso, o filme se passa num lugar e com pessoas muito distantes da nossa realidade. Não há aquele impacto de ver um tubarão aparecendo numa praia comum cheia de turistas.

- Não gosto dos excessos de cortes, da câmera tremida. Na cena em que o navio afunda e pega fogo mal dá pra ver o que está acontecendo direito. A trilha sonora também é toda errada nessa cena. Há um tom épico, intenso, como se a plateia tivesse que estar muito emocionada, mas não há um grande drama por trás da ação.

- Não é nada convincente o velho que narra a história nunca ter falado sobre esses eventos com ninguém e ainda estar traumatizado décadas depois do que houve! Não é uma história da qual ele iria se envergonhar... E sim uma aventura que ele iria contar incansavelmente pros amigos, netos, etc. O filme tenta seguir técnicas tradicionais de narrativa mas que não funcionam direito no contexto dessa história.

- Um dos motivos da história ser fraca é que os personagens não têm muito o que fazer. Não decidem caçar a baleia ou algo do tipo. Nós ficamos só esperando ela arruinar a viagem deles e fazê-los passar por situações desagradáveis.

- SPOILER: A história tem todo esse tom de crítica ao capitalismo que também é uma chatice. O herói não faz nada de memorável o filme todo, e no fim é pra gente aplaudi-lo por "salvar as baleias" e a se voltar contra os industriais ricos e perversos.

CONCLUSÃO: Pra um filme que estava até cotado pro Oscar, o roteiro é fraco demais, cheio de clichês, e a produção decepciona visualmente.

(In the Heart of the Sea / EUA / 2015 / Ron Howard)

FILMES PARECIDOS: Evereste / Invencível

NOTA: 5.0

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Chico - Artista Brasileiro

Documentário muito bom sobre a carreira de Chico Buarque de Hollanda, que além de entrevistas com Chico feitas especialmente pro documentário (algo que ele não faz com muita frequência), conta com performances dele e de outros nomes importantes da música brasileira como Ney Matogrosso e Milton Nascimento. A direção é Miguel Faria Jr. que também fez Vinicius, considerado um dos melhores documentários nacionais do gênero. Musicalmente, Chico não tem nada a ver com meu gosto pessoal (se fosse cinema, eu diria que se trata de Naturalismo), ainda assim achei o documentário bem produzido, com ótimas imagens de arquivo e depoimentos inteligentes que celebram o talento e o sucesso dele sem exaltar demais o lado político que é meio duvidoso.

(Chico - Artista Brasileiro / Brasil / 2015 / Miguel Faria Jr.)

NOTA: 7.0


domingo, 29 de novembro de 2015

Ausência

ANOTAÇÕES:

- Em 5 minutos de projeção eu já estou com preguiça do filme. Naturalismo extremo: ritmo lento, ausência de narrativa, registro passivo de cenas banais do cotidiano, de pessoas comuns, em lugares feios, nada de notável acontece (nem positivo, nem negativo).

- A produção parece amadora, a fotografia é uma das mais feias que já vi, e os atores não parecem muito experientes. Os diálogos frequentemente soam estranhos e artificiais. A Casa de Alice (do mesmo diretor) apesar de ter uma atmosfera similar, parecia mais profissional.

- Pelo menos o protagonista e os personagens centrais são figuras inocentes (o filme não foca no negativo, em pessoas detestáveis, etc.).

- O cineasta parece jogar um jogo desonesto com a plateia. Ele fica mostrando um monte de coisa insignificante, desinteressante, e depois de 1 hora disso a plateia começa a imaginar que deve haver algo de genial por trás da banalidade. Afinal, por que alguém faria um filme sobre esses eventos? Em lugares tão horríveis? Sobre pessoas tão comuns? O problema é que não há esse algo de genial por trás. A "graça" pra ele é justamente contemplar o comum, o que não é notável, especial, atraente, etc.

- OK, o menino sente falta da figura paterna, já entendi. Tenho empatia por ele, mas isso ainda não dá um significado pra história nem produz uma experiência cinematográfica interessante. Filmes como Juventude Transviada ou E.T. também abordam esse tema, mas não abrem mão de um bom roteiro por causa disso.

CONCLUSÃO: O garoto é gostável mas o naturalismo extremo da produção torna o filme vazio e monótono. Ele parece querer crédito mais por ser "socialmente sensível" do que por ter qualquer mérito artístico.

(Ausência / Brasil, Chile, França / 2015 / Chico Teixeira)

FILMES PARECIDOS: O Som ao Redor / A Casa de Alice

NOTA: 3.5

sábado, 28 de novembro de 2015

A Visita

ANOTAÇÕES:

- O ponto de partida da história não é muito convincente. Essas crianças não iam querer passar vários dias na casa dos avós que são completos desconhecidos, sendo que nem a mãe fala com eles. Teria que haver uma motivação melhor.

- Os atores estão bem e o garotinho que faz o Tyler é excelente (Ed Oxenbould). O Shyamalan tem talento pra criar personagens carismáticos.

- Não sou muito fã dessa linguagem "bruxa de blair" onde só vemos as coisas através das câmeras dos personagens. Quando é um gênero found-footage até tudo bem, mas aqui parece mais limitar o filme e o diretor do que criar suspense.

- O comportamento dos avós acaba sendo mais engraçado do que assustador. Não sei se essa era a intenção do filme (a avó engatinhando embaixo da casa, etc.). Acaba não sendo um filme como Atividade Paranormal, onde há um clima sério de perigo e uma expectativa pela aparição do monstro. As crianças reagem às vezes de maneira descontraída aos eventos. O filme é mais sobre 2 irmãos se divertindo e convivendo com velhos excêntricos do que um filme de terror - mas é interessante de assistir.

- Bizarro o garoto encontrando as fraldas! O retrato de pessoas idosas aqui é politicamente incorreto ao máximo. Será que existe uma palavra como "misoginia" só que direcionada para idosos? É como se o monstro do filme fosse a velhice em si.

- SPOILERS: A cena da reviravolta é um bom momento mas levanta uma série de questões que tornam o filme meio ilógico. Se os velhos são apenas loucos, não há nada de sobrenatural na história, por que então a história de não sair do quarto após as 21h30? E aqueles vômitos tipo exorcista? As crianças foram encontrar os avós sem nunca terem visto fotos deles? E a mãe nem falou com os pais pelo telefone pra saber se as crianças estavam bem? Outra coisa: os avós já eram insanos e assustadores bem antes da revelação... Não faz sentido as crianças só ficarem com medo deles quando descobrem o que está acontecendo.

CONCLUSÃO: Divertido e com personagens carismáticos, mas não muito assustador e com uma história nada plausível. Ainda assim, o melhor filme de Shyamalan desde A Vila.

FILMES PARECIDOS: Fim dos Tempos / A Vila

(The Visit / EUA / 2015 / M. Night Shyamalan)

NOTA: 6.5

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Chatô - O Rei do Brasil

NOTAS DA SESSÃO:

- Por que esse começo bizarro? Essa montagem incoerente de momentos da vida do Chatô? O filme não apresenta os personagens, parece que estamos vendo um trailer...

- O personagem do Chatô é desprezível e o ator (Marco Ricca) está detestável. Em vez de uma crítica e uma condenação dele, o filme parece achar graça no comportamento inconsequente de Chatô. A trilha sonora é frequentemente cômica. Tenta tornar o personagem carismático, como se as coisas que ele fizesse fossem crimes banais, algo de que se pode rir, quando na verdade ele é uma pessoa animalesca, imoral. Só pode ser exagero do filme. Não é possível que uma pessoa tão irracional se tornaria bem sucedida em qualquer carreira.

- O filme tem bastante energia e as cenas individualmente prendem a atenção, mas uma cena parece não se conectar direito com a outra. A história parece estar sendo contada por um esquizofrênico... É como se o filme tivesse sido pra ser uma mini-série, e o que estamos vendo é uma montagem aleatória dos momentos mais importantes.

- A produção parece pobre pros dias de hoje e feia visualmente. Pra um filme que na época foi um dos nacionais mais caros de todos os tempos, acaba sendo decepcionante.

- Não há uma trama planejada, uma mensagem ou ideia que integre os eventos da história. É só um retrato jornalístico excêntrico da vida dele. Roteiro ruim.

- Será possível ele ter feito essas coisas todas? Chantagear o presidente da república pra conseguir de volta a guarda da filha?

- O final é tão teatral e bizarro que não dá pra entender se o que está acontecendo é real ou uma alucinação.

- A cena de sexo final no hospital é ridícula e nojenta. O filme acaba do nada, sem nenhum propósito.

CONCLUSÃO: Conteúdo explosivo que podia ter rendido um bom filme se não fosse pela abordagem positiva do personagem e pela narrativa caótica.

(Chatô - O Rei do Brasil / Brasil / 2015 / Guilherme Fontes)

FILMES PARECIDOS: O Lobo de Wall Street

NOTA: 4.5

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Jogos Vorazes: A Esperança - O Final

ANOTAÇÕES:

- As mesmas coisas que me incomodaram na Parte 1 se repetem aqui. A trama é chata, o vilão é fraco e ausente, a protagonista parece movida por um senso de obrigação, o romance não empolga, politicamente o filme é vago (tendendo pra esquerda), há várias das Tendências Irritantes em Hollywood, etc.

- Os blockbusters estão ficando cada vez mais com cara de série de TV em termos de técnica. Ninguém sabe mais contar uma história cinematograficamente. Eles apenas apontam a câmera pros atores e pra onde a ação está acontecendo e explicam tudo através de diálogos.

- Por que eles têm que passar por todos esses obstáculos surreais pra chegar ao Snow? As armadilhas não fazem muito sentido (o líquido preto, etc). É só pra encher linguiça e atrasar a chegada. Não há uma boa trama - eles caminham um pouco e encontram um obstáculo, caminham mais um pouco, e encontram um outro obstáculo. E as cenas de ação não são empolgantes.

- O que são esses aliens/zumbis no subsolo? De repente parece que estamos vendo O Hobbit...!

- SPOILER: Péssimo a gente esperar essa enrolação toda só pra ver a Katniss invadindo a Capital, e no último momento haver um bombardeio e tudo ser resolvido sem a participação dela! Parece o último filme do Crepúsculo onde o tempo todo ficávamos aguardando a batalha final, e no fim era tudo resolvido numa conversa sem graça.

- SPOILER: A morte da irmã da Katniss é rápida e pouco dramática. Nem entendemos direito que ela de fato morreu até umas cenas depois. E como ela mal existe no filme, não chega a ser comovente.

- SPOILER: É meio "do nada" essa flechada que ela dá na Julianne Moore. Não soa como uma solução inteligente e satisfatória pra um conflito bem estabelecido ao longo do filme. E será que ela conseguiria sair impune assim?

- SPOILER: Reconciliação entre Katniss e Peeta não emociona nem empolga. Só no primeiro filme esse romance entre os dois tinha alguma autenticidade. Final fraquíssimo.

CONCLUSÃO: Um filme apático, vazio de estilo, de conteúdo, que só consegue forjar certa respeitabilidade por ser uma produção cara e por ter atores competentes fazendo expressões sérias e discutindo temas que soam "adultos" como guerra e política.

(The Hunger Games: Mockingjay - Part 2 / EUA / 2015 / Francis Lawrence)

FILMES PARECIDOS: Maze Runner: Prova de Fogo / A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2 / Divergente / Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2

NOTA: 4.5

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

45 Anos

ANOTAÇÕES:

- Curiosa a premissa da ex-mulher ser literalmente desenterrada/descongelada e vir interferir na vida de Geoff quase 50 anos depois.

- Charlotte Rampling e Tom Courtenay são ótimos e trazem bastante nobreza pro casal. A relação dos dois é bonita e os personagens são retratados com sensibilidade.

- Nas entrelinhas o filme promove ideias suspeitas e meu Alerta Vermelho quase soa, mas não chega a comprometer pois é algo bem secundário na história (Geoff se interessar pelas ideias de Kierkegaard, as discussões sobre mudança climática, as alfinetadas na Margaret Thatcher, etc.).

- Achei que a revelação sobre a outra mulher fosse desencadear uma série de acontecimentos dramáticos e abalar seriamente a relação do casal, mas o que acontece é sutil demais. Não há um motivo real pra Charlotte ter ciúmes do marido, suspeitar que ele nunca a amou. Ela é madura e sofisticada demais pra deixar algo assim perturbá-la. É um ciúme natural, porém bobo, superficial, que não tem força pra transformar os personagens. O tema do filme acaba sendo fraco e a história um pouco tediosa.

- Naturalismo. O ritmo é lento. Há alguns planos longos onde nada de relevante acontece.

- Bonito o discurso do marido na festa e a reação da Charlotte, embora isso não signifique muito e não acrescente algo de novo à história.

CONCLUSÃO: Retrato sensível de um casal de idosos, com um bom elenco, mas além das caracterizações, não há uma boa história ou um conteúdo profundo por trás.

(45 Years / Reino Unido / 2015 / Andrew Haigh)

FILMES PARECIDOS: Amor / Longe Dela

NOTA: 5.0

sábado, 14 de novembro de 2015

Aliança do Crime

ANOTAÇÕES:

- Produção de bom nível (direção, fotografia, reconstituição de época). O elenco é impressionante (Depp, Cumberbatch, Bacon, etc.).

- Não gosto desse tipo de roteiro onde você tem que ficar decorando nomes de estranhos e lendo diálogos pra entender quem matou quem, quem traiu quem, quem está interessado em que, etc. Pelo menos a premissa básica (Depp ser um criminoso e formar uma aliança com o FBI) é clara.

- A vida pessoal do Depp (a esposa, o filho doente) é mal integrada ao roteiro e parece enfiada ali só pra criar momentos dramáticos.

- Não há uma boa trama. Apenas um relato documental de quem foi 'Whitey' Bulger e o que aconteceu com ele. Mas que interesse eu tenho na vida de um bandido? A história é uma chatice sem fim. Não traz nada de novo ao gênero. Não tem uma narrativa envolvente (são "fotografias de pessoas conversando"). Só funciona pro tipo de espectador que admira mafiosos... Que tem alguma obsessão por poder e gosta de ver homens poderosos dominando, humilhando e derrotando outros homens.

- Muitos clichês. Quantas vezes teremos que ver cenas onde o Depp (ou qualquer outro personagem) executa "surpreendentemente" alguém que pensávamos ser um amigo. Ooh, como eles são frios!

- Depp começa como bandido e termina como bandido. Não há nenhum arco, nenhuma evolução do personagem (ou mesmo uma decadência interessante).

- O filme é uma imitação de outros filmes (Trapaça, filmes do Scorsese, etc.). O cineasta não parece ter um interesse específico na história, na mensagem que está passando, nos personagens. Tudo isso é vazio. Assim como o Johnny Depp parece muito mais um ator fantasiado do que um personagem convincente, o filme também parece mais interessado na aparência, no estilo, em passar a impressão externa de um filme sofisticado de máfia, do que no conteúdo em si.

CONCLUSÃO: A prova de que não adianta nada ter uma boa direção e um bom elenco se o roteiro é horrível.

(Black Mass / EUA, Reino Unido / 2015 / Scott Cooper)

FILMES PARECIDOS: O Ano Mais Violento / Vício Inerente / Trapaça / O Homem da Máfia / Atração Perigosa

NOTA: 3.0

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Grace de Mônaco

ANOTAÇÕES:

- Achei que fosse ver um filme glamouroso sobre a vida da Grace Kelly, mas o filme fica o tempo inteiro mostrando o marido em discussões políticas confusas que não acrescentam nada à história dela.

- A relação dela com o marido é péssima. Não dá pra entender por que ela se casou com ele. Ele parece ser uma pessoa horrível.

- Nicole Kidman tem uma aparência adequada pro papel, mas a personagem não é gostável. Por que ela casou com esse homem? Pelo status? E pra isso abandonou uma carreira fantástica em Hollywood?

- Qual o conflito dela? Ela quer aceitar o papel no filme do Hitchcock e o marido já disse que está de acordo. Ela deveria ir pros EUA sem pensar 2 vezes. O fato dela se preocupar tanto pelas fofocas e pelo que os outros irão pensar a torna ainda menos admirável.

- Detesto que o filme queira passar a mensagem de que "contos de fadas não existem" nesse contexto. É muito tolo da parte dela achar que se casar com um príncipe (literalmente) a tornaria realizada, independentemente dos dois não se amarem, dela odiar o cargo de princesa, etc. É uma abordagem muito infantil do tema.

- O único desejo que eu tenho nessa história é que ela volte pra Hollywood e aceite o papel em Marnie, mas como eu sei que ela vai recusar, a história se torna meio chata.

- Horrível a sequência em que ela tem aulas de francês, de etiqueta, etc. O filme trata tudo com humor, como se estivéssemos vendo My Fair Lady, encantados de ver uma garota simples se tornando uma princesa, mas aqui o contexto é totalmente diferente. Primeiro porque Grace já era extremamente elegante. Exigir mais classe dela parece piada. Além disso, essa sequência toda representa a submissão da personagem... Ela está sacrificando o desejo dela em nome de um marido péssimo, de seus "deveres" altruístas como princesa, em nome das aparências e de tradições sem sentido. Não é algo divertido de se ver.

- Roteiro ruim. A subtrama da Parker Posey (Madge) é confusa... A história do padre parece descartável. A trama política não é nada envolvente (e a música de suspense sugere que a plateia deveria estar altamente interessada).

- É dada uma ênfase inadequada pra apresentação das Maria Callas como se isso fosse um clímax, quando não tem relevância pra história.

- Discurso final de Grace é um horror. Ela fala de auto-sacrifício como se fosse algo maravilhoso. As noções dela de política e amor também são péssimas.

- O tom épico do final não faz sentido. Ela não fez nada de tão importante. Não é uma grande heroína. E o que é a montagem final dela no estúdio? E a música moderninha nos créditos finais? Que bagunça de filme!

CONCLUSÃO: Uma das cinebiografias mais fracas dos últimos tempos.

(Grace of Monaco / França, EUA, Bélgica, Itália, Suíça / 2014 / Olivier Dahan)

FILMES PARECIDOS: Hitchcock / Diana / A Dama de Ferro / Sete Dias com Marilyn

NOTA: 4.0

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Straight Outta Compton: A História do N.W.A.

ANOTAÇÕES:

- Caracterizações superficiais. Não sabemos muito da vida pessoal de cada um, se eles tinham algum talento especial, uma visão artística, etc.

- Primeira apresentação no clube: a música é horrível! Se há alguma virtude nessas composições e nessas performances, o filme deveria se esforçar minimamente pra explicar. Ele não funciona pra quem não curte o gênero de música. Não consegue transformar a história em um interesse universal (como 8 Mile conseguiu). É pra um público mais limitado.

- O sucesso deles parece inexplicável, rápido demais. É contado através de narração, em vez de ser dramatizado. Como eles conseguiram todos os contatos? Dinheiro pra produzir, gravar, tocar na rádio? O filme parece estar mais interessado em mostrar que eles vieram de um bairro violento, que eram criminosos, do que em mostrar quem eles eram e por que deram certo.

- As apresentações ao vivo são fracas. O único "mérito" do grupo parece ser falar um monte de palavrão. Não dá pra ver qual grande o talento deles.

- Apesar dos atores serem bons e carismáticos, os personagens não são admiráveis. Vivem em orgias, se relacionando com pessoas detestáveis, se comportam de maneira irresponsável, destrutiva, têm um estilo de vida horrível - em vez de inspirar, a história faz o sucesso parecer um pesadelo.

- O filme tem certa força como registro da trajetória da banda. Mas é apenas "correto", literal, sem algo de mais artístico em termos de roteiro, direção, fotografia, etc.

- Ice Cube quebrando o escritório do empresário: é pra gente achar ele "macho", "durão"? Pra mim ficou parecendo um ignorante.

- Muito longo!! Eles já se tornaram famosos logo no começo do filme, então não há algo de muito interessante pra aguardar. O filme se torna episódico, fica mostrando eventos aleatórios do tipo: o irmão de um morre, tal pessoa sofre um acidente, outro fica doente, etc. Mas não há um tema maior por trás disso tudo, uma ideia abstrata ou mensagem que costure todos os acontecimentos. Ele tem uma mentalidade de documentário.

CONCLUSÃO: Tem bons atores e uma produção respeitável, mas só é recomendável pra quem gosta de hip hop.

(Straight Outta Compton / EUA / 2015 / F. Gary Gray)

FILMES PARECIDOS: Jersey Boys: Em Busca da Música / Magic Mike / Ritmo de um Sonho / Ray

NOTA: 5.5

sábado, 7 de novembro de 2015

007 Contra Spectre

ANOTAÇÕES:

- Plano-sequência inicial impressionante.

- A produção é ótima e Daniel Craig funciona, mas isso já meio que esperado.

- Cena de ação no helicóptero parece meio tola e mal feita. Por que o James Bond iria estrangular o piloto?

- Sequência de créditos beira o ridículo!

- Como em muitos filmes do gênero, a trama é confusa, genérica, o protagonista não tem nada de muito pessoal em jogo, tem apenas uma missão qualquer pra cumprir, pessoas desinteressantes pra encontrar, lugares exóticos pra visitar, etc. As cenas de diálogos são tediosas, o filme só ganha certo interesse quando parte pra ação bruta (e nem essas aqui são das melhores).

- A cena da reunião (onde Bond vê o vilão feito pelo Christoph Waltz pela primeira vez) é estranha, sem ritmo. Por que Bond iria se expor desse jeito? É óbvio que alguém o reconheceria ali, e que a a cena terminaria num grande tiroteio.

- Perseguição de carro à margem do rio é fraca. A música é épica, mas nada de muito envolvente está acontecendo. Ação sem conteúdo.

- Sam Mendes parece estar se esforçando pra ser brega, "kitsch", pra se enquadrar na tradição da série, mas não soa autêntico. O natural dele é fazer filmes mais elegantes, sofisticados, emocionalmente complexos.

- SPOILERS: As cenas de ação são fracas e não fazem muito sentido (Bond tentando jogar o avião em cima dos carros, a luta de braço dentro do trem quebrando as paredes, a cena de tortura onde Oberhauser perfura o crânio de Bond, a cena em que a instalação toda explode como se fosse um tanque de gasolina, o salto onde Bond e Madeleine caem misteriosamente sobre uma rede de segurança, a lancha derrubando o helicóptero em cima da ponte - e a polícia que aparece instantaneamente e bloqueia a ponte, etc.).

CONCLUSÃO: Surpreendentemente fraco, considerando que a equipe é quase a mesma de 007 - Operação Skyfall (que foi bem melhor).

(Spectre / Reino Unido, EUA / 2015 / Sam Mendes)

FILMES PARECIDOS: Missão: Impossível - Nação Secreta / Velozes & Furiosos 7 / 007 - Quantum of Solace

NOTA: 5.5

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Beasts of No Nation

ANOTAÇÕES:

- Criativa a ideia das crianças brincando com a televisão no início. Considerando que este é o primeiro longa-metragem produzido pela Netflix, é uma sacada divertida da fotografia começar o filme usando a caixa da TV pra produzir uma moldura 4:3 (o formato clássico da televisão), e depois afastar a câmera transformando o quadro no formato retangular de cinema.

- Os personagens são gostáveis e a apresentação do universo deles é interessante, dinâmica.

- Comovente a cena em que o garoto é separado da mãe. O garotinho que faz o Agu é excelente!

- Pesada a cena em que os homens são executados, deixando Agu sozinho. A fotografia realmente é boa. No momento em que o menino fica sozinho pela primeira vez, vemos o plano mais aberto do filme, mostrando ele pequeno no meio do mato, enfatizando o senso de abandono.



- Curiosa a trilha sonora. Há uma melodia quase subliminar nesse momento em que Agu é abandonado que parece uma sirene. Tive que pausar o filme pra ver se isso era da trilha ou se tinha de fato uma ambulância passando no bairro.

- Horríveis esses rituais que os garotos têm que passar pra virarem "homens". O Idris Elba devia ser retratado como um monstro detestável e não como um líder por permitir esse tipo de coisa.

- SPOILERS: Até a primeira meia hora eu estava achando o filme pesado, porém sensível, focando no lado positivo do personagem (mais ou menos como em Império do Sol). Mas a partir do momento em que Agu mata o primeiro homem (abrindo a cabeça dele com um facão) o filme me perde completamente como espectador. Virou sensacionalismo, glamourização da violência. O menino mata, usa cocaína, é abusado sexualmente pelo comandante... O roteiro não tem nenhuma intenção positiva - não temos mais a expectativa de que o garoto irá encontrar a mãe, voltar pro lar, de que ele irá conseguir preservar parte de sua inocência, aprender lições importantes, fazer algo de bom... O filme só está interessado em mostrar o quão "barra pesada" ele é, registrando a destruição completa de uma pessoa de maneira realista e nada divertida.

- Eu oficialmente detesto a Netflix enquanto produtora de conteúdo original.

CONCLUSÃO: Boas performances e uma ótima fotografia e direção não compensam a superficialidade do roteiro e o conteúdo negativo e apelativo da produção.

(Beasts of No Nation / EUA / 2015 / Cary Joji Fukunaga)

FILMES PARECIDOS: Corações de Ferro / Indomável Sonhadora / Quem Quer Ser um Milionário? / Cidade de Deus

NOTA: 4.5

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Ponte dos Espiões

NOTAS DA SESSÃO:

- A fotografia é brilhante (em conjunto com o design de produção e toda a parte visual).

- Muito bem dirigida a sequência inicial sem diálogos.

- O protagonista e a trama são bem apresentados e moderadamente interessantes.

- Não gosto do relativismo da história! Tom Hanks dá muito crédito moral pro espião russo pelo fato dele estar fazendo o seu trabalho corretamente... É como se não houvesse diferença entre pessoas que trabalham pela liberdade e pessoas que trabalham pela tirania, desde que elas sejam "íntegras".

- Como nós não temos nenhuma dúvida de que o cara é um espião, fica difícil simpatizar totalmente pela causa do Tom Hanks. Imagine se, em 12 Homens e Uma Sentença, nós soubéssemos o tempo todo que o garoto acusado fosse um assassino. Mesmo não havendo provas, não seria tão interessante ver o Henry Fonda lutando para salvá-lo.

- Hanks é um advogado disciplinado, meio "cdf", que faz seu trabalho "direitinho", mas não chega a ser um personagem inesquecível, admirável, etc.

- Apesar dos princípios duvidosos do protagonista, essa primeira parte do filme prende a atenção pois levanta questões morais interessantes. Quando o filme abandona esse tema e parte pra Alemanha, a história se torna mais fraca. O filme criou a expectativa de que Hanks iria defender os direitos do espião até as últimas consequências, que as coisas ficariam cada vez mais difíceis. Ficamos curioso pra saber qual seria o posicionamento dele, mas depois essa história é deixada de lado, é resolvida sem um clímax, e o filme fica menos dramático, mais burocrático, focando na negociação entre EUA, Alemanha e Rússia. Não há mais uma grande expectativa em relação ao que vai acontecer com o protagonista. Não há um vilão interessante, argumentos fortes contrariando o que Hanks está fazendo, então há pouco apelo emocional. O grande prazer do filme é estético, afinal Spielberg sabe realizar um filme como ninguém. Mas a história não é das mais fortes.

- Spielberg devia parar de se associar com pessoas que não têm nada a ver com a sensibilidade dele (os irmãos Coen escreveram o roteiro) e também devia evitar temas mais intelectuais que não é onde ele brilha mais. Ele é muito melhor com ação, suspense, aventura, escapismo, emoções fortes, etc.

CONCLUSÃO: Um prazer puramente estético pra quem gosta de ver um filme bem realizado, mas a história não é das mais estimulantes emocionalmente/intelectualmente. Spielberg praticando "minimalismo emocional".

(Bridge of Spies / EUA / 2015 / Steven Spielberg)

FILMES PARECIDOS: O Jogo da Imitação / Argo / Munique

NOTA: 8.0

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Sicario: Terra de Ninguém

NOTAS DA SESSÃO:

- Boa a cena inicial! O caminhão derrubando a parede, o tiro, a descoberta dos corpos, a explosão. O fato de ser uma mulher numa situação dessa torna tudo mais curioso (prefiro a Emily Blunt nesses papéis menos femininos). A história tem um objetivo claro e a protagonista é íntegra e respeitável.

- Gosto das imagens e da direção discreta (porém firme) do Denis Villeneuve.

- A história é um pouco confusa pra quem não entende do trabalho dessas pessoas. Por que a Emily Blunt desconfia tanto do Benicio del Toro e do Josh Brolin? Não é clara qual é a ameaça pra ela. Pro espectador leigo fica apenas uma sensação indefinida de que há algo de corrupto e misterioso na CIA, no FBI, etc.

- Sequência da chegada em Juarez bastante tensa! Os tiros, os homens pendurados, as pessoas armadas no trânsito, etc.

- O "vilão" do filme (o traficante) é muito distante e não há uma expectativa de que a Emily Blunt possa capturá-lo, o que torna a história menos empolgante (não é como em A Hora Mais Escura). Acaba sendo mais um drama sobre uma jovem idealista descobrindo que as pessoas no fundo são más (Toro, Brolin, etc.), só que não há uma narrativa muito forte, conflitos pessoais interessantes, a protagonista é passiva demais, etc.

- A narrativa é sutil (ou confusa) demais pro meu gosto. A plateia não entende todo o "passo a passo" da operação, fica apenas testemunhando o que os personagens fazem. Quem eles esperam encontrar no túnel exatamente? Por que a Emily aponta a arma pro Benicio del Toro?

- SPOILER: Cena da grande "vingança" do Benicio del Toro é forte. Se ele fosse o protagonista e o filme tivesse estabelecido esse tema de vingança desde o começo, acho que a história teria sido mais envolvente e tido um clímax mais satisfatório.

- O tema do filme (que é negativo e não me agrada muito) é bem resumido na frase do Benicio del Toro "Você não sobreviverá aqui, você não é um lobo. Esta é uma terra de lobos agora."

CONCLUSÃO: Produção decente com uma direção competente do Denis Villeneuve, mas com uma história impessoal, às vezes pouco clara e burocrática demais.

(Sicario / EUA / 2015 / Denis Villeneuve)

FILMES PARECIDOS: O Abutre / Selvagens / Marcas da Violência / Traffic: Ninguém Sai Limpo

NOTA: 5.5