quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Invencível

- Muito boa a sequência de abertura (ataque aéreo). Interessante como quase tudo é mostrado do ponto de vista de quem está dentro do avião, aumentando o realismo dos eventos.

- Fotografia linda do Roger Deakins! Merece a indicação ao Oscar.

- Por que esse flashback da infância do garoto? O que tem a ver ele ser problemático, odiado por todos? Ele é culpado? O que isso tudo tem a ver com a guerra? Confuso o filme começar com um ataque aéreo, voltar pra contar a infância de um garoto e depois ir se transformando num filme de esporte.

- Protagonista não tem alma. É um rosto bonito, não é mau ator, mas parece distante - o personagem é mal apresentado e não é criado um vínculo com a plateia.

- Falta um lar / uma esposa / filhos / um trabalho / um sonho para o qual o protagonista deseja voltar quando acabar a guerra. Um destino atraente na mente da plateia pra fazê-la querer passar pelos vários momentos desagradáveis.

- SPOILER: Divertido eles caçando tubarões com a mão! Muito bem feita a sequência em que o avião ataca eles no bote salva vidas. Situação tensa!

- O filme nem sempre parece autêntico - às vezes parece estar tentando demais ser "nobre", um típico filme de Oscar, e acaba soando genérico (não traz muito frescor ao tema, que é um pouco batido).

- O filme passa MUITO do ponto ao retratar sofrimento e começa a beirar o ridículo. É como O Impossível - 2 horas de pessoas sofrendo, sofrendo e sofrendo mais ainda. Não acho isso inspirador, heroico, e sim um culto à dor. É mostrar o conflito como um fim em si. Em filmes como Um Sonho de Liberdade, Império do Sol, etc, os heróis passam por muitas dificuldades o filme inteiro, mas isso é sempre equilibrado com momentos de beleza.

- SPOILER: Mal sabemos quem é a família dele. Não emociona a mensagem que ele manda pelo rádio.

- SPOILER: Ridículo ele se recusar a ler o texto dos japoneses na rádio! Agora é uma escolha dele ser torturado na prisão!! Não dá pra sentir muita pena na cena dos "socos".

- O filme não ensina nada a respeito de resistência, sobrevivência. Só prova que este cara em particular é estranhamente forte. Não há uma mensagem universal que se aplique ao espectador - nós apenas somos informados que existiu uma pessoa com uma resistência muito acima da nossa.

- SPOILER: Cena "chave" em que ele levanta a peça de madeira é memorável, mas não há tanto suspense pois não é estabelecido um tempo específico pra ele erguê-la. Se o sargento tivesse dito algo do tipo "você morre se soltá-la antes do pôr do sol" - a cena seria bem mais eficiente.

- Final bastante clichê (guerra finalmente acaba, cena obrigatória do reencontro com a família, etc).

CONCLUSÃO: Produção bonita, sem muita originalidade ou profundidade psicológica / intelectual, que se torna desagradável por focar apenas no sofrimento. Um filme que vemos mais por respeito do que por prazer.

(Unbroken / EUA / 2014 / Angelina Jolie)

FILMES PARECIDOS: 12 Anos de Escravidão / O Impossível

NOTA: 6.0

20 comentários:

Anônimo disse...

Sabe se é história real?

Djefferson disse...

Anônimo, é BASEADO em uma historia real, mas a diretora Angelina Jolie romantizou demais a situação. Isso é ensinado em filosofia no primeiro ano do ensino médio como "Orgulho Americano". Entretanto, conforme o Caio disse, é um filme muito tecnicamente bem feito.

Djefferson disse...

Falando em "Orgulho Americano", assisti "Sniper Americano" de 2014 e gostaria de compartilhar um pensamento. Talvez ninguém faça a conexão mas acho que Quentin Tarantino consultou a Mãe Dinah em 2009 e parodiou Clint Eastwood em "Bastardos Inglórios" com "O Orgulho da Nação" (Stolz der Nation), só que neste caso a Mãe Dinah não foi precisa e chutou alemães.
Mais alguém viu a conexão?

Caio Amaral disse...

Sniper quero ver, mas só estreia daqui a 1 mês mais ou menos..!

Djefferson disse...

Se for querer assistir dublado tem que esperar mesmo, mas se for no idioma original os torrents tão aí pra isso.

Caio Amaral disse...

Quero ver legendado mesmo, é que eu adoro ver os filmes no cinema, então não gosto de "desperdiçar" uma sessão vendo o filme em casa.. é um vício meu. Só baixo em casos especiais - filmes que não têm previsão de estreia no Brasil, ou algum do Oscar que não estreie antes da cerimônia, etc. E também tem a questão da pirataria né... Procuro não incentivar demais, hehe.

Anônimo disse...

"Falta um lar / uma esposa / filhos / um trabalho / um sonho para o qual o protagonista deseja voltar quando acabar a guerra"
Esses dias vi na internet uma lista de clichês do cinema que dizia que nos filmes de guerra as pessoas que tem mais sonhos e esperanças são as que morrem. Pelo visto, a Angelina JOlie reiterou esse clichê.

Caio Amaral disse...

Minha preocupação aqui não é nem com o personagem e sim com a plateia! É a plateia que precisa da esperança de ver algo prazeroso no filme, pra que valha a pena passar pelos momentos desagradáveis..

Anônimo disse...

Acredito que apenas a vontade de viver seja suficientemente esperançosa para preencher este critério no filme. Muita gente, assim como eu, vive em um apartamento alugado, solitário sem família e de poucos amigos que são colegas de trabalho, e trabalha em um escritório fazendo o que não gosta pois a saúde é fraca e já tarde demais para estudar ou ter "sonhos" a esta altura da vida. Por isso a vontade de não morrer já é suficientemente esperançosa para mim e passaria por qualquer momento desagradável para continuar vivo.

Caio Amaral disse...

PRO PERSONAGEM sim.. O simples medo da morte pode ser o bastante pra motivá-lo a lutar.. Ele não tem escolha: está sendo forçado a passar pelo sofrimento e naturalmente quer sobreviver. Tudo certo aí.

Mas eu estou falando da plateia.. Por que eu vou sair do conforto da minha casa, pagar 20 reais num ingresso de cinema, pra ver 2 horas de tortura e sofrimento? O filme precisa antes prometer algo de valor, algo de prazeroso, pra compensar isso tudo.

Anônimo disse...

Caio, você tem razão, eu não tinha pensado nesse seu ponto de vista. Realmente, na vida real é tudo menos emocionante, mas a plateia não está ali para assistir um documentário de como torturar prisioneiros. Gostei da sua forma de ver este fator. Desculpe se fui meio grosso.

Caio Amaral disse...

Não foi grosso nada, heheh. Só pense melhor sobre o que você disse.. Esse lance da "vontade de não morrer" já ser uma boa motivação.. Eu não acho que seja.. Acho que sonhos são indispensáveis pra nossa felicidade.. Não precisa ser um sonho tipo pisar na Lua ou algo do tipo, rss.. Mas tem que ser algo grande o bastante, dentro do seu contexto.. Gosto da frase do Jim Rohn: "Não faça planos pequenos. Eles não têm a mágica pra agitar o sangue dos homens".

Jackye Monteiro disse...

"SPOILER: Cena "chave" em que ele levanta a peça de madeira é memorável, mas não há tanto suspense pois não é estabelecido um tempo específico pra ele erguê-la. Se o sargento tivesse dito algo do tipo "você morre se soltá-la antes do pôr do sol" - a cena seria bem mais eficiente."

Não é estabelecido um tempo justamente por ser uma tortura. Ele diz que se ele baixar a peça, pra atirar nele. Ficou claro que o tempo não importaria. O japonês ficaria ali o tempo que fosse, pois sabia que ele iria baixar a peça. O que não aconteceu. A cena tornou-se "memorável", quando por algum tipo de desafio olho a olho, ele levanta a peça de madeira. Isso ficou claro. Reveja o filme. ;)

Jackye Monteiro disse...

"- SPOILER: Ridículo ele se recusar a ler o texto dos japoneses na rádio! Agora é uma escolha dele ser torturado na prisão!! Não dá pra sentir muita pena na cena dos "socos"."

Acho que você não entendeu que o texto era pra chacotear seu país. Ele humilharia sua nação, deixaria de ser torturado sim, mas na sua pátria não pisaria mais. Fica difícil dizer se leria ou não, mas a sua interpretação da carta pelo visto foi errada. Ela não era um tipo de redenção de mão beijada e sim um abrir mão de sua honra e de sua pátria. Reveja o filme. ;)

Caio Amaral disse...

Não há tanto suspense, pois temos certeza que uma hora ele irá derrubar a peça.. acho que pra ter suspense tem que haver a dúvida: ele irá ou não conseguir..?

Não ficamos sabendo exatamente o conteúdo da carta.. Teria que ser algo realmente impensável pra ele preferir correr o risco de apanhar até a morte na prisão (e pra plateia concordar com a decisão dele).. mas o filme não deixa muito claro.. parecia ser apenas algum comentário anti-americano, que provavelmente ninguém iria levar a sério na America, sabendo que ele está sob o domínio dos japoneses..

Caio Amaral disse...

Ele não estaria abrindo mão da sua honra.. Só um monstro iria criticá-lo por ter lido a carta naquelas condições.

Jackye Monteiro disse...

Sobre o conteúdo da carta (e o resto) eu ia tentar te explicar, mas acho de verdade que você viu o filme enquanto fazia outra coisa. Então prefiro te dar um conselho inédito: Reveja o filme, antes de escrever sobre ele. Linda noite.

Caio Amaral disse...

Oi, acabei de rever a cena. O Zamperini olha a carta por aproximadamente 7 segundos (nós, espectadores, não ficamos sabendo de nenhuma frase que está nela), e sem pensar muito já diz:

- "Eu não posso dizer isso."
- "Por que não?"
- "Porque não é verdade. O que diz sobre a América, eu não posso dizer isto."

Anônimo disse...

Na minha opinião, já faz algum tempo que a Angelina Jolie vem se ocupando principalmente em provar ao mundo que não pára nunca de sofrer por motivos nobres. A escritora Camille Paglia, numa entrevista à VEJA, disse que ela deixou de se aperfeiçoar profissionalmente para bancar a Madre Teresa ou Joana D'Arc. Daí que um filme seu cultue a dor é mera conseqüência lógica.

Caio Amaral disse...

Hahaha, ótima observação..!