quinta-feira, 31 de março de 2016

Cinquenta Tons de Preto

Assim como a dupla Aaron Seltzer e Jason Friedberg, Marlon Wayans continua insistindo em filmes de paródia apesar de suas produções serem constantemente massacradas pela crítica e terem notas baixas no IMDb (nem de bilheteria vão tão bem assim pra justificar). Eu acho Wayans carismático como ator, mas ele não devia se meter a produzir e a escrever roteiros também.

Em paródias desse tipo, a graça vem da subversão de um filme ou gênero de tom sério. Mas é preciso primeiro que o filme consiga recriar o espírito de pretensão do material original pra que a subversão seja divertida. Não há muita graça (pois não se cria o contraste necessário) quando tudo no filme, em particular os atores, já parecem tolos. Na teoria da Violação Benigna, sem o elemento sério não é possível criar uma "violação" adequada.

Surpresa, inteligência e imaginação são outros elementos importantes em comédias. Piadas previsíveis e cheias de clichês não geram muitas risadas, e aqui o filme raramente sai do óbvio. A estratégia básica é apenas exagerar elementos de Cinquenta Tons de Cinza: em vez de apenas chicotear a menina na cama, Wayans quebra bancos em seu traseiro; em vez de um contrato de poucas páginas, a garota tem que ler algo da espessura de uma bíblia antes de se relacionar com Black. Nos bons filmes do gênero, por trás das piadas "tolas" você sempre sente que há um cérebro, uma mente criativa dizendo algo de interessante sobre a sociedade, sobre a natureza humana, ou apenas brincando com lógica e cognição de maneira inteligente. Aqui em geral nós vemos apenas caretas, pessoas tropeçando, piadas requentadas envolvendo órgãos sexuais, etc.

É interessante pensar também que, em casos como Apertem os Cintos... o Piloto Sumiu, a ideia do filme é brincar com filmes respeitáveis - tentar imitar o tom dramático e heróico de sucessos como Aeroporto (1970), mas cometendo trapalhadas no processo, como se fosse feito por uma pessoa ingênua ou simplesmente maluca. Agora no caso de Cinquenta Tons de Preto, ele está parodiando um filme que é considerado péssimo pela maioria das pessoas. Então a atitude deveria ser outra. Quem zomba de produções ruins é quem que se coloca numa posição superior: alguém mais maduro e inteligente que a obra, que é capaz de enxergar as falhas e fazer comentários brilhantes e cômicos a respeito do filme (como um Felipe Neto, por exemplo). Só que Cinquenta Tons de Preto é tão tolo quanto o filme que ele quer parodiar, o que tira a graça do seu lado crítico.

Não é tão péssimo quanto os filmes de Seltzer e Friedberg, mas Wayans (junto com o diretor Michael Tiddes) ainda não produz bobagens no nível de seu irmão Keenen (que já é meio trash), que dirá de um Mel Brooks ou ZAZ.

Fifty Shades of Black / EUA / 2016 / Michael Tiddes

FILMES PARECIDOS: Inatividade Paranormal / Ela Dança com Meu Ganso

NOTA: 3.5 

4 comentários:

Marcus Aurelius disse...

Oi Caio, porque um trecho do texto está destacado em itálico? E o que você pensa a respeito de Todo Mundo em Pânico?

Caio Amaral disse...

Tá em itálico pq eu acrescentei isso depois que já tinha postado o texto.. tipo um adendo.. mas acho q vai confundir, melhor deixar normal mesmo, hehe.
Todo Mundo em Pânico eu gosto.. é direção do Keenen, irmão do Marlon.. em conjunto acho q eles funcionavam melhor..

Anônimo disse...

Eu acho o Felipe Neto insuportável e nem sabia que criticava filmes, qual vídeo levou você a achar ele brilhante?

Caio Amaral disse...

Acho que os vídeos mais populares dele são justamente os que ele critica Crepúsculo.. 50 Tons de Cinza.. e acho q ele faz sim comentários brilhantes/cômicos.. quis dizer o seguinte: se a Carla Perez fosse YouTuber e fizesse um vídeo pra zombar de Crepúsculo, não seria tão engraçado.. tem q ser alguém que esteja acima do filme intelectualmente e que seja capaz de fazer uma análise interessante, etc..