sexta-feira, 27 de maio de 2016

Alice Através do Espelho

NOTAS DA SESSÃO:

- Alice virou capitã de navio?? Usa roupas chinesas? Que bizarro, isso não parece ter nada a ver com o universo da história original! A sequência de ação inicial no mar é forçada e desnecessária.

- Gosto da atriz Mia Wasikowska, visualmente o filme é atraente e parece caro (como tudo da Disney).

- É criado todo um interesse no início do filme (Alice querendo ser capitã do navio, os problemas legais com o ex-noivo, os conflitos com a mãe, etc), mas depois, quando Alice atravessa o espelho e vai pro outro mundo, isso tudo é esquecido e se revela ser inútil pra história! A missão dela é completamente nova.

- A chegada / apresentação do mundo Subterrâneo e o reencontro com os antigos personagens é fraca, apressada, sem impacto. Eles mal dão "oi" e já estão explicando o que Alice deve fazer, etc.

- Acho Johnny Depp ruim nesse papel e Anne Hathaway também (assim como no primeiro filme, parece que esqueceram de avisá-la que ela não está em uma paródia).

- Excesso de fantasia: o filme já começa em Londres há séculos atrás, daí Alice entra no espelho e vai pra outro mundo, daí entra numa porta e cai do céu em outro mundo, daí entra num relógio e vai pra outro mundo. Não há magia nenhuma nisso. A magia acontece quando há um contraste entre o realista e o fantástico.

- O objetivo da protagonista é fraco. Não parte de um desejo pessoal e importante. É apenas uma missão caridosa pra ajudar o Chapeleiro Maluco.

- Esse universo dentro do relógio é muito feio. O personagem do Sacha Baron Cohen, as criaturas... E a trama é péssima. Alice é totalmente imoral por roubar a Cronosfera - colocar em risco o universo inteiro e a vida de todos só pra ajudar seu amigo Chapeleiro que anda meio deprimido. Essa trama do Chapeleiro é muito mal construída. Não estamos interessados nisso. Era mais envolvente o conflito apresentado antes da Alice atravessar o espelho.

- As ideias do filme sobre viagem no tempo são confusas, mal formuladas. Não é uma dessas tramas engenhosas, com sacadas lógicas e inteligentes, das quais a gente pode tirar alguma satisfação intelectual.

- O filme é um desastre. Uma sequência ruim após a outra (a coroação da rainha, a história dela bater a cabeça quando criança e isso arruinar sua vida, Alice acordar num manicômio e ter que fugir) e tudo isso motivado pelo objetivo péssimo da personagem de voltar no tempo pra ajudar o amigo.

- O filme acha que ser otimista é o mesmo que acreditar no impossível, no ilógico, ter fé em qualquer coisa sem nenhuma prova. Alice, segundo o Chapeleiro, é uma boa pessoa apenas quando não questiona nem duvida de nada.

- SPOILER: A ação no final (a ferrugem consumindo o mundo) é tão forçada e irreal que deixa a plateia alienada. E os esforços de Alice aqui não são pra realizar algo interessante, de interesse da plateia, mas apenas pra consertar a besteira que ela fez ao roubar a Cronosfera - algo que se provou desnecessário, afinal o passado não pôde ser alterado (ou quase) e os pais do Chapeleiro estavam vivos esse tempo todo. Ela nem consegue salvar o mundo por méritos próprios no clímax... É pura sorte o fato da Cronosfera cair no lugar certo e voltar à ativa.

- SPOILER: Que chatice, a história é uma zona e no fim é tudo pra passar a mensagem sentimental de que o que mais importa na vida é sermos aceito pelos outros - em particular pelas figuras "opressoras" em nossas vidas. A rainha cabeçuda recebe o perdão da bela irmã que a magoou. O Chapeleiro rejeitado recebe o perdão do pai autoritário. E ainda há a mensagem altruísta de que a única coisa que conta na vida é o que fazemos pelos outros. O filme não é nem um pouco sobre superação, sobre Alice atingir seu sonho de ser capitã de navio e se tornar uma mulher independente. Isso foi apenas uma oportunidade pro filme fazer uma homenagem solta ao feminismo. Nem existia na história original de Lewis Carroll pelo que sei. Vou até dar um Alerta Vermelho aqui pro roteiro, pela vilanização do dinheiro, dos homens de negócios, e pelas mensagens subjetivistas anti-razão (a ideia de que sonho e realidade são a mesma coisa, que devemos acreditar no ilógico, etc).

CONCLUSÃO: Superficialmente o filme funciona: tem um visual caprichado, uma protagonista simpática, um ritmo estimulante, está em harmonia com a cultura pop atual... Mas por baixo disso há um roteiro realmente feio e ordinário.

Alice Through the Looking Glass / EUA / 2016 / James Bobin

FILMES PARECIDOS: Peter Pan (2015) / As Crônicas de Nárnia (série) / Piratas do Caribe (série)

NOTA: 4.0

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