domingo, 29 de janeiro de 2017

Quatro Vidas de um Cachorro

NOTAS DA SESSÃO:

- Uma graça o garotinho que faz o Ethan criança. A ideia da narração ilustrando os pensamentos do cachorro é bem fofa também (a amizade com o garoto, o cachorro buscando o sentido da vida, reagindo às situações do dia a dia, etc). A produção é bonita visualmente e os animais bem dirigidos.

- A história é um pouco episódica. Apesar do cachorro ter pensamentos, ele não é humanizado totalmente pelo filme - ele não age em direção a um objetivo a longo prazo, etc, o que impede a história de desenvolver uma narrativa forte. Ficamos apenas assistindo "pedaços da vida" que o cachorro presencia: o namoro de Ethan, as brigas de família, o incêndio - o que depois de meia hora vai deixando o filme um pouco monótono.

- Como todo filme de cachorro, há a inevitável cena da morte pra fazer a plateia chorar. A grande sacada aqui é que como o cachorro tem várias vidas, o filme pode usar esse recurso diversas vezes - a cada meia hora o cachorro morre de novo pra entreter a plateia.

- SPOILER: Depois que o Retriever morre fica um pouco distante a história. O pensamento do cachorro continua com a mesma voz, mas mesmo assim perdemos um pouco do envolvimento com o personagem. Os novos donos não são tão legais quanto o primeiro. O filme só vai voltar a ter interesse mais pro final, quando há o reencontro com o Ethan.

- Filmes de cachorro sempre me parecem um pouco como filmes religiosos (tipo Nosso Lar) ou filmes sobre gravidez. Eles assumem que o espectador já está automaticamente encantado pelo tema por razões pessoais, pré-disposto a exaltar aquele universo, então não se preocupam em narrar a história de maneira universal, prendendo o interesse através de recursos narrativos sólidos, drama, etc. Funcionam melhor para os "fieis".

- É um pouco incômodo que ao longo da história vamos ficando com a impressão de que o "propósito" real do cão é apenas servir o humano: entretê-lo, fazer companhia, ajudá-lo a achar um par romântico - como se fossem os brinquedos do Toy Story. Em nenhum momento o filme mostra que a vida do cão tem um propósito em si independente do que ele faz pro humano.

- SPOILER: É legal a ideia do reencontro com o Ethan no final. Só acho meio suspeita a guinada mística que o filme dá, levando a sério a ideia de que cachorros reencarnam, etc (mais um paralelo com os filmes religiosos).

- SPOILER: Nada empolgante o retorno no final entre o Ethan e a ex-namorada de adolescência. O filme não dá um bom motivo pra gente torcer pra eles ficarem juntos. A não ser as noções conservadoras de que términos são sempre ruins (portanto a plateia sempre irá torcer por um casal separado) e que estar num relacionamento é sinônimo de felicidade e portanto é sempre melhor do que estar solteiro.

- SPOILER: O propósito da vida que o cachorro encontra no final é um pouco frustrante (não é um pay off satisfatório após tanto questionamento). Também não gosto do tom coletivista da história. O filme não é sobre 1 cão específico, com uma personalidade única, um propósito único, individual. Ele é sobre todos os cães em geral, sobre o propósito da espécie, etc.

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CONCLUSÃO: Fofo e agradável visualmente, mas a história sofre dos mesmos problemas que a maioria dos filmes sobre animais de estimação.

A Dog's Purpose / EUA / 2017 / Lasse Hallström

FILMES PARECIDOS: Cavalo de Guerra (2011) / Marley & Eu (2008)

NOTA: 5.0

3 comentários:

Dood disse...

Não sei por que eu lembrei de um filme antigo que passou no cinema e posteriormente na TV chamado Lembranças de Outra Vida quando vi o trailer desse negócio.

Unknown disse...

verdade, Lembranças de Outra Vida o cara morre e volta num cachorro retrivier tambem hahaha

Caio Amaral disse...

Mas aqui o "espírito" só passa de um cachorro pra outro cachorro, hehe.. não era um humano originalmente. abs.