quarta-feira, 22 de março de 2017

Horizonte Profundo: Desastre no Golfo

NOTAS DA SESSÃO:

- A apresentação dos personagens tem alguns detalhes interessantes de caracterização - é um pouco menos genérica do que se espera pra esse tipo de filme. Legal a ideia da latinha de Coca-Cola em "erupção" anunciando o que está por vir.

- O maior problema do filme é a falta de uma história humana forte por trás do desastre. O fato de um grande acidente ter ocorrido não é razão o bastante pra se fazer um filme. Se não vira apenas uma reconstituição de telejornal mega-produzida, como se o prazer de ver um acidente em detalhes fosse um fim em si. Quando James Cameron fez o famoso "pitch" pra vender seu conceito de um filme sobre o Titanic pros produtores, ele não disse: "Titanic afunda". Ele disse "Romeu e Julieta no Titanic".

- Visualmente o filme é muito bem feito; as imagens da plataforma são bonitas, os efeitos especiais são ótimos, realmente acreditamos estar nesse lugar testemunhando cada detalhe do evento.

- Apesar da narrativa não ser muito interessante na primeira metade do filme, dos conflitos serem clichês (o empresário ganancioso vilão que coloca dinheiro acima de segurança, etc), o filme não se torna tedioso pois sabemos que os personagens estão sentados em cima de uma bomba que pode explodir a qualquer momento.

- A sequência toda da erupção é bastante tensa e bem feita. Detalhes como o Mark Wahlberg conversando com a mulher pelo computador dão um senso de realismo pro momento, e os efeitos especiais, o som, dão uma dimensão da violência física do que está pra acontecer.

- Outro clichê cansativo é esse da esposa que fica em casa preocupada com o marido e não serve pra mais nada na história. O filme tem os mesmos problemas de Horas Decisivas, aliás parece um remake do mesmo filme (um pouco melhorado).

- Outra coisa que dá preguiça é esse foco no altruísmo do Mark Wahlberg; a ideia de que um verdadeiro herói sempre estará disposto a se sacrificar pra salvar o "próximo" (não alguém que ele ame pessoalmente, mas qualquer um que precise de ajuda). Acho sempre engraçado o fato desses elementos (altruísmo, ataque a empresários gananciosos) estarem presentes em muitos filmes com valores conservadores / republicanos - é como se fosse resultado de culpa, vinda do lado cristão deles.

- O filme termina de forma previsível e continua com a sensação de que foi uma história vazia, apenas um pretexto pra filmar ação.

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CONCLUSÃO: Bem realizado e com alguns momentos tensos, mas sem uma história interessante por trás da ação que dê um sentido maior ao filme.

Deepwater Horizon / Hong Kong, EUA / 2016 / Peter Berg

FILMES PARECIDOS: Sully: O Herói do Rio Hudson (2016) / Horas Decisivas (2016) / Evereste (2015) / Capitão Phillips (2013)

NOTA: 6.0

5 comentários:

Marcus Aurelius disse...

Caio, mas o cristianismo já não prega o altruísmo por natureza? eu imagino que no caso dos republicanos/conservadores, o altruísmo é o da bíblia que é mais místico. Enquanto o altruísmo liberal seria mais pro lado filosófico. Como diz no livro "A Virtude do Egoísmo", Deus foi trocado pela sociedade, mas a essência é a mesma.
A diferença entre os dois é o senso de dever, enquanto no cristianismo tu sacrifica a tua vida em direção à morte, no socialismo tu sacrifica a força de teu trabalho, tuas capacidades e individualismo em direção à servidão.

Eu como conheci bem à fundo o cristianismo, posso dizer que o conflito entre os dois é que Deus, ou Jesus, ordenou que a servidão fosse exclusiva à ele e somente em caráter teocrático (é pecado cristãos se envolverem em política, mas esta parte eles esquecem rsrsrsrsrs).

Caso acontecesse de um governo altruísta não-cristão obrigasse seus cidadãos a segui-lo, então era virtuoso morrer à deixar de servir a Deus para servir ao próximo, pois o próximo é infiel (apesar de ter que amá-lo indiscriminadamente, mas isso faz parte da servidão ao Deus).

Sei lá, só achei interessante a comparação, pois eu não acho que seja generalizado.

Caio Amaral disse...

Não quis dizer que o filme é essencialmente religioso.. ele tem um espírito mais "republicano".. mostra heroísmo, patriotismo, sucesso, Deus apenas como um sinônimo pra otimismo e auto-confiança.. Só que daí junto com isso vem esse tempero de altruísmo, anti-capitalismo, que vão contra essas ideias.. só queria apontar esse conflito de valores.. que me remete à mentalidade republicana em geral..

Caio Amaral disse...

Afinal como combinar individualismo / capitalismo com os valores que prega a religião..?

Marcus Aurelius disse...

Nossa, então passei longe kkkkk. Não associei essa de valores republicanos.

Acredito que religiosos são corruptos/hipócritas dentro de seus valores. Pois tais são incompatíveis com a vida. Então mesmo pregando religião, eles dão uma escapadinha pro capitalismo, individualismo....rs

Caio Amaral disse...

Pois é, não dá pra ser 100% altruísta e continuar vivo, hehe.