terça-feira, 5 de setembro de 2017

Como Nossos Pais

NOTAS DA SESSÃO:

- A cena inicial no almoço já resume bem o tom do filme: um grupo de pessoas se comportando de maneira forçada só pro filme provar que relacionamentos são difíceis, conflituosos, que a vida é complicada. Todos os personagens agem de maneira condenável - não há 1 pessoa admirável e inocente pra plateia se apoiar, e o filme também não diz que ninguém está errado. Apenas mostra "a vida como ela é".

- A filha (Rosa) é a personagem mais irritante de todas. Só sabe reclamar, é agressiva sem necessidade com os filhos, com o marido, com a mãe (dá até certo prazer quando a mãe cala a boca dela revelando que ela é filha de outro homem). Mas em seguida vem a frustração de descobrir que ela (Rosa) será a protagonista da história e teremos que aguenta-la o filme inteiro.

- Os diálogos às vezes parecem improvisados pra ganharem um ar de realismo, mas na prática acabam parecendo mal escritos, amadores, conscientizam ainda mais a gente de que estamos vendo um filme (e não "a vida como ela é").

- O filme é uma série de situações desagradáveis: a discussão com o pai fracassado que parou de pagar as mensalidades da escola da filha, o erro que a Rosa comete no trabalho e resulta em discussões com o chefe, depois ela chegando em casa e discutindo com o marido sobre dinheiro, sobre a relação, sobre quem se sacrifica mais pelo outro, tendo inúmeras discussões com as filhas, o detalhe do leite que ferve e suja o fogão, o pai que perde a hora da escola e tem que acordar as filhas correndo, etc. E não é como em filmes hollywoodianos onde no começo a vida da protagonista está um inferno, mas daí ela larga tudo e parte numa grande aventura. Não. Aqui a ideia é mostrar a "realidade" como um fim em si. Mostrar o lado falho do ser humano, mostrar que a cineasta é "madura", que pra ela cinema não é sobre entreter o público, sobre mostrar coisas incomuns, interessantes, pessoas virtuosas, dar soluções, e sim sobre encarar os aspectos mais desagradáveis do cotidiano.

- A Rosa tem ódio da mãe, mas daí a mãe revela que tem câncer e ela não pode mais ter ódio, pois tem que ter pena... Depois em casa ela está triste, mas daí tem que ler uma história pras filhas dormirem, então ela tem que fingir que está feliz... Depois ela tem que hospedar a meia-irmã adolescente em casa contra sua vontade, pois não pode dizer não pro pai, que é um pobre coitado maior que ela... O filme não tem uma história, um propósito positivo, quer apenas dizer pra plateia "vejam como a vida é dura (especialmente pra mulher moderna), como temos sempre que nos sacrificar uns pelos outros, como as relações humanas nunca são ideais, mas mesmo assim não podemos viver sem elas" - e fica jogando uma cena aleatória após a outra pra reforçar essa ideia.

- Pelo menos não é algo 100% Naturalista como alguns outros filmes nacionais recentes (Corpo Elétrico, por exemplo), pois no meio das banalidades do cotidiano, o filme cria 1 ou outro ponto de interesse na história: o encontro com o pai biológico, as traições no casamento, o futuro profissional de Rosa, a doença da mãe, etc. Então não é um registro totalmente cru de uma fatia da sociedade, sem nenhum tipo de drama ou senso de direção.

- O pai da Rosa é uma figura deprimente: o artista pseudo-intelectual, avoado, que não funciona no mundo prático, fala de maneira subjetiva, desestruturada, imprecisa, mas com "humanidade" e algum tipo de "sabedoria mística" (e o filme acha ele o máximo).

- Forçada a discussão da Rosa com as lésbicas no sofá. Ou depois a conversa da Rosa com o Pedro na praia. O filme tem umas cenas artificiais que só servem pra enfiar esses discursos feministas / progressistas no meio da história e expor a ideologia da cineasta.

- SPOILER: A maneira como a morte da mãe é mostrada é bonita (ela tocando piano e o enterro sendo mostrado paralelamente em flash-forward). Não precisou ficar apelando pro sofrimento, pra agonia no hospital, etc. A mãe não tinha medo da morte, então foi uma maneira elegante de dar fim à personagem, que era a mais interessante do filme.

- Toda essa ideia de que a vida é cíclica (Rosa regando as plantas como fazia a mãe, etc) é pra parecer poética, bonita, mas na realidade é deprimente, determinista... Quer dizer que nossas vidas não estão sob nosso controle, que não somos independentes, que nossos destinos não são determinados por nossas decisões, nossos valores, e sim por um destino já traçado, que iremos repetir aquilo que nossos pais fizeram, cometer os mesmos erros, viver as mesmas decepções, etc.

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CONCLUSÃO: A chatice "progressista" básica do cinema nacional.

Como Nossos Pais / Brasil / 2017 / Laís Bodanzky

FILMES PARECIDOS: Aquarius (2016) / Fala Comigo (2016) / Eu, Daniel Blake (2016)

NOTA: 3.5

4 comentários:

Marcus Aurelius disse...

Olá Caio, eu gostaria de elogiar a decisão de colocar "postagens relacionadas" após a conclusão do filme. Achei um ótimo atalho para poder ter um panorama filosófico a respeito das opiniões do autor em aspectos pontuais com relação à obra.

Caio Amaral disse...

Ah valeu Marcus.. muitas vezes eu quero linkar postagens antigas... daí acabo tendo que enfiar uma frase extra no meio da crítica só pra citar a postagem... dessa vez resolvi colocar no fim pra ver se fica melhor, hehe. Abs!

Marcus Aurelius disse...

Fica melhor sim. Às vezes meu navegador não destaca o link e parece que é apenas parte do texto. Pior é no celular que quando vou clicar ele identifica apenas o parágrafo como um todo e não os links contidos nele.

Caio Amaral disse...

Bom, isso dele só selecionar o parágrafo inteiro não deve mudar muito.. mas já fica mais destacado pelo menos.. rs.