quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Corpo e Alma

NOTAS DA SESSÃO:

- Não-Idealismo: a ideia de um romance entre uma mulher frígida e um homem com o braço paralisado que são funcionários de um matadouro não é particularmente inspiradora.

- Horrível o filme mostrar as vacas sendo abatidas, decapitadas, desmembradas. O que é isso, Okja versão "filme de arte"? Pra que servem as imagens lindas dos cervos na floresta? Pra constrastar com as vacas no matadouro e fazer a plateia se sentir culpada por comer carne?

- Curiosa a história do roubo do pó de acasalamento (mas será que isso servirá pra algo na história?). O filme é cheio de detalhes divertidos, como o elemento sobrenatural dos protagonistas compartilharem o mesmo sonho. Ele tem alguns elementos Idealistas, mas apresentados de maneira fria, dentro ainda de um estilo Realista (seria mais um caso de Minimalismo - o que é menos ruim).

- A caracterização da protagonista é interessante e muito perspicaz - ela indo naquele terapeuta infantil, as características meio autistas, a inteligência aguçada pra algumas coisas mas o lado social prejudicado, a sexualidade mal desenvolvida... Faz muito sentido uma mulher assim trabalhar com análise, controle de qualidade, pois é uma pessoa totalmente mental, que vive num mundo de ideias, desconectada do corpo, das outras pessoas, etc.

- Mas ainda não é clara qual a relação entre todos esses elementos. O sonho, os cervos, o matadouro, a personalidade da Mária, o pó de acasalamento... O filme é sobre sexualidade? Ainda não há uma ligação muito sólida entre tudo.

- Hilário a Mária tentando se tornar mais "normal": a cena dela ouvindo rock, assistindo filme pornô. O filme enfatiza a incongruência, então se torna cômico (a senhora da limpeza dando dicas de sedução é simplesmente genial). Nesse momento o filme começa a tomar uma direção mais clara, a ter um conflito central: Mária precisando superar sua natureza frígida pra poder ter uma experiência romântica com Endre.

- Endre também é um cara desconectado do corpo (o braço que não funciona) e de sua natureza sexual (a apatia quando vai pra cama com aquela outra mulher).

- SPOILER: Quando a conexão entre os elementos do filme finalmente te atinge, é uma experiência realmente fantástica. A cineasta não entrega suas ideias de bandeja pro espectador, vai simplesmente contando a história no seu ritmo, preocupada apenas com sua coerência interna, e confiando que a mensagem será eventualmente transmitida, mesmo que num nível emocional, subconsciente. Na minha visão, o filme é sobre o rompimento entre corpo e mente (ou "Corpo e Alma" como diz o título) e a maneira como isso torna as pessoas incompletas e infelizes. Os personagens trabalharem num matadouro não é uma crítica banal ao consumo de carne - é simplesmente pra mostrar de maneira simbólica que essas são pessoas que matam (reprimem) o lado "animal" delas (o corpo, o sexo), e lidam com ele de maneira platônica (lindos cervos numa floresta imaginária), mas não conseguem integrá-lo ao mundo real (na vida real, o "animal" é sujo e deve ser rejeitado, abatido cruelmente como as vacas / e o sexo não é natural, precisa de um pó de acasalamento pra acontecer, etc).

- SPOILER: Legal o momento de "crise" do roteiro onde o Endre decide parar de encontrar Mária nos sonhos. A tentativa de suicídio dela é uma das mais chocantes que já vi: a perfeição dos efeitos visuais, a maneira casual como tudo é filmado, sem drama, a câmera friamente mostrando o sangue jorrando, como as vacas do matadouro (Mária não pôde encontrar harmonia entre corpo e alma no mundo real, então resolveu rejeitar definitivamente o corpo).

- SPOILER: Sensacional o fim - Endre telefonar de última hora e interromper o suicídio de Mária - e o eventual "final feliz". A cena de sexo entre os 2 é filmada de maneira simples (alguém que veja a cena fora de contexto achará até banal ou feia), mas o filme construiu um contexto tão rico até chegar nesse momento, que acaba sendo uma das cenas de sexo mais "épicas" que eu já vi no cinema. E o detalhe no fim dos cervos terem desaparecido da floresta é brilhante: o "animal" não está mais num mundo paralelo, não é mais uma noção platônica. Através do outro, Mária e Endre finalmente conseguiram, no mundo real, unir corpo e alma.

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CONCLUSÃO: Um tipo de sensibilidade artística que raramente se vê no cinema.

On Body and Soul / Hungria / 2017 / Ildikó Enyedi

FILMES PARECIDOS: Grave (2016) / Ninfomaníaca (2013) / Anticristo (2009)

NOTA: 8.0

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A Grande Jogada

Poucas coisas me aborrecem mais num filme do que um diretor cujo objetivo principal não é o de proporcionar uma experiência clara e prazerosa para o espectador, e sim o de provar sua própria inteligência - e o faz nos apresentando um volume tão excessivo de diálogos, fatos, nomes, passagens descritivas, dados técnicos, num ritmo tão alucinante, que o filme se torna quase que uma competição entre você e o artista; um jogo de malabarismo onde você não pode piscar 1 segundo que o diretor já arremessa mais 3 bolas pra você equilibrar. No meio do filme eu literalmente abandonei a "partida" inconformado, mas algumas horas depois, tomei um Advil e resolvi assistir o resto só pra poder comentar com autoridade. Fiz bem, pois as melhores coisas do filme estão mais pro final.

Essa é a estreia na direção de Aaron Sorkin, o roteirista "superstar" de Questão de Honra, A Rede Social e The West Wing (agora você sabe por que o filme precisa provar tão desesperadamente que ele é bem escrito). Eu já assisti ao MasterClass de Sorkin, e saí convencido de que ele não tem um bom senso de drama, nem de narrativa, nem de entretenimento... Pra ele, a maior virtude de um roteiro é soar autêntico, conseguir recriar um ambiente (como a Casa Branca em The West Wing) de maneira que o público acredite que as coisas funcionem realmente daquele jeito. Ele põe uma enorme ênfase na fase de pesquisa, em descobrir quais termos seus personagens realmente usariam na vida real - mas não parece ter muito interesse em saber o que é que faz a plateia se envolver numa história, simpatizar por um personagem, se comover com uma cena, etc. E é isso o que temos em A Grande Jogada: uma narrativa irritante, sobre personagens pelos quais não nos importamos, porém que te dá a certeza absoluta de que uma enorme pesquisa foi posta em prática pra construir aquele universo.

Outro problema grande do filme foi o casting errado de Jessica Chastain, que com seus olhos tristes, sua voz calma, sua aura inofensiva e reprimida, vai totalmente contra a essência da personagem, que deveria ser uma mulher ambiciosa, destemida, energética, rebelde, mais pra uma Margot Robbie em Eu, Tonya - toda autenticidade buscada pelo roteiro vai por água abaixo, pois poucas coisas enfraquecem e tiram mais a autenticidade de um filme do que um protagonista que está fora de sua zona de carisma.

Felizmente na parte final o filme se redime um pouco, e tanto o roteiro quanto a protagonista entram nos trilhos. O que acontece é que uma hora termina o trecho "Scorsese" do filme - a parte sobre a Molly fora-da-lei (onde Chastain não convence e seus conflitos não são interessantes), e o filme se torna mais sobre uma Molly sensível, íntegra, que foi magoada pelo pai, que seria incapaz de prejudicar os outros e está disposta até a ir presa pra preservar sua honra. De uma hora pra outra, a relação entre Molly e o advogado se torna interessante (a discussão entre ela e o Idris Elba onde ela cita As Bruxas de Salem é excelente), a personagem passa a ter um conflito pelo qual nos importamos, a relação entre ela e o pai se torna envolvente (embora a aparição do Kevin Costner seja um tanto forçada, a cena dos "3 anos de terapia em 3 minutos" é uma das mais memoráveis do ano), e Jessica Chastain finalmente tem um personagem que ela pode interpretar, no qual ela convence dramaticamente, e não é apenas uma voz sem vida contratada por Sorkin pra ler seu texto feito uma locutora de futebol.

Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado (baseado no livro autobiográfico de Molly Bloom).

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Molly's Game / China, EUA, Canadá / 2017 / Aaron Sorkin

FILMES PARECIDOS: A Grande Aposta (2015) / Trapaça (2013) / O Lobo de Wall Street (2013)

NOTA: 6.0

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha

Judi Dench certamente sabe interpretar uma rainha (ela já tinha interpretado a Rainha Victoria antes em Sua Majestade, Mrs. Brown e a Rainha Elizabeth I em Shakespeare Apaixonado, pelo qual ela ganhou o Oscar de Atriz Coadjuvante) e sua performance aqui é pra mim a única coisa que realmente vale a pena destacar no filme.

A produção está indicada aos Oscars de Maquiagem e Figurino, que certamente são bem feitos, embora muito do prazer estético do filme seja comprometido por uma fotografia apenas mediana e pequenos desleixos na direção.

O filme conta a história de uma amizade inesperada que se forma entre Victoria e um jovem indiano, que é enviado a Londres para presenteá-la com uma moeda especial do país numa cerimônia sem grande importância. Mas ao quebrar o protocolo e olhar Victoria nos olhos, Abdul acaba chamando a atenção da rainha, que começa a exigir a presença dele em suas atividades cotidianas.

É compreensível a atração que Victoria sente por Abdul. Ela é uma mulher tão poderosa (não só por seu cargo, mas também por sua personalidade) que acaba sendo um alívio encontrar alguém que ouse ser espontâneo e leve em sua presença, fazendo ela se sentir um ser humano normal pela primeira vez em muito tempo.

Conforme a amizade vai se desenvolvendo, o filme cai um pouco na monotonia de intercalar momentos alegres entre Victoria e Abdul com cenas que mostram a indignação dos outros membros da corte (que não aceitam o espaço sendo conquistado por Abdul), demorando pra apresentar um conflito mais sério que leve o enredo pro próximo patamar.

Quando finalmente surge esse conflito, o problema é que ele acaba sendo sério demais, comprometendo a gostabilidade do personagem de Abdul e impedindo a gente de continuar torcendo pela amizade entre os dois plenamente, que a partir daí começa a soar mais como uma relação duvidosa entre uma senhora rica carente e um jovem aproveitador. Ao fim da história, eu já estava começando a concordar com os "vilões" e a achar que a melhor coisa a ser feita seria mandar Abdul de volta pra Índia.

É o tipo de filme água-com-açúcar que não inspira grandes paixões em ninguém, mas também não ofende, e parece feito sob medida pra você assistir à tarde na TV junto com sua avó sem ter que passar por qualquer desconforto.

A direção é de Stephen Frears, que apesar de já ter feito um ótimo filme de rainha (A Rainha de 2006, com a Helen Mirren) e um bom filme com a Judi Dench (Philomena) não foi tão certeiro agora quando resolveu juntar as 2 coisas.

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Victoria & Abdul / Reino Unido, EUA / 2017 / Stephen Frears

FILMES PARECIDOS: Florence: Quem É Essa Mulher? (2016) / A 100 Passos de um Sonho (2014) / Intocáveis (2011)

NOTA: 5.0

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Trama Fantasma

NOTAS DA SESSÃO:

- Reynolds (Daniel Day-Lewis) tem uma personalidade incrível, muito coerente bem explorada pelo filme (as manias, o perfeccionismo, o elemento antissocial, etc).

- Mas é uma abordagem Naturalista em partes, no sentido de que o filme descreve o personagem muito bem em termos de comportamento, em suas características aparentes, mas não revela pra plateia suas motivações mais profundas - não "explica" o personagem totalmente pra gente. Quando ele começa a flertar com a garçonete (Alma) nós não sabemos qual sua motivação - por que um cara como ele ficaria fascinado por uma mulher de um universo tão diferente. Será que ele é do tipo de intelectual que se sente amaldiçoado pela própria inteligência, e por isso se atrai por pessoas mais comuns? Ou teria ele desenvolvido um certo desprezo pela alta sociedade, e se sinta atraído pela simplicidade de alguém como Alma? Ou será que ele é inseguro, e o fato dela ser de uma classe social inferior o faça se sentir em vantagem? Ou será que tem algo a ver com a memória da mãe? Ou será que ele simplesmente ficou fascinado pelas proporções dela, e não está nem aí pra quem ela seja? Não sabemos.

- Ainda assim não é um filme pobre psicologicamente... Alguns diálogos são interessantíssimos, como quando Reynolds explica por que não gostaria de se casar. O personagem nos parece original, diferente, mas familiar ao mesmo tempo, consistente com um arquétipo universal.

- A direção, o elenco e todos os aspectos técnicos do filme são muito sofisticados.

- Muito boa a sequência em que o Reynolds começa a testar tecidos em Alma pela primeira vez. Ele não a vê com um interesse romântico - o que ele sente é quase que uma apreciação estética, o desejo de transformá-la em uma de suas obras. Ele dá a ela toda a beleza do mundo, mas nem um pingo de seu afeto.

- O melhor do filme são esses inúmeros elementos de caracterização: quando Reynolds afirma que Alma não tem seios, sem a menor sensibilidade, ou quando ele começa a se irritar com os barulhos no café da manhã, etc.

- Lindíssimos os figurinos na cena de sessão de fotos, ou depois no desfile. E a "depressão pós-parto" que ele tem depois do desfile é um detalhe interessante também.

- Hilário ele pegando de volta o vestido que fez pra senhora na festa. Certamente é um exagero ele querer controlar a ética das pessoas que usam seus vestidos, mas é uma boa forma de retratar o perfeccionismo do personagem e a seriedade com que ele encara seu trabalho.

- Alma se demonstra uma idiota ao preparar essa surpresa pro Reynolds, quando já é óbvio pra todo mundo que ele não iria gostar. A reação dele ao jantar é ótima.

- SPOILER: Forçado a Alma envenenar o chá de Reynolds. Em nenhum momento ela mostrou ser o tipo de personagem que faria algo tão monstruoso assim, alguém tão desequilibrada emocionalmente que não aceitaria uma rejeição.

- SPOILER: Irritante o Reynolds ir caindo na emboscada dela... Pedi-la em casamento, sem saber que foi ela que o envenenou. Mas pelo menos traz certo suspense pra segunda metade da história.

- O problema é que o filme vai se tornando indigesto. Pois Alma é uma das personagens mais desprezíveis vistas no cinema nos últimos anos, e o filme mostra ela se dando bem cena após cena, sem indicar pro espectador que haverá justiça no final.

- Ótima a cena em que o Reynolds vai reclamar do casamento pra Cyril, e a Alma está atrás ouvindo tudo (a essa altura, qualquer ação que prejudique esse casamento é um grande alívio). A personagem da Lesley Manville (Cyril) é fantástica, lembra a Mrs. Danvers de Rebecca - A Mulher Inesquecível (1940). Merecidíssima a indicação ao Oscar.

- SPOILER: Depois dessa briga é totalmente falso o Reynolds continuar com Alma. O filme corta pra Alma preparando o jantar, os dois convivendo como se nada tivesse acontecido. E ela vai envenená-lo de novo?! Quantos filmes esse ano precisam mostrar mulheres "empoderadas" envenenando a comida de homens "opressores" (Lady Macbeth, O Estranho que Nós Amamos...)? É uma cena revoltante. Não só Alma é uma personagem desagradável, como Reynolds vai perdendo nossa simpatia também por continuar com ela. Não há ninguém inocente mais na história pra gente se apoiar.

- SPOILER: De uma hora pra outra Alma se torna a personificação do mal. Ela não quer nem que Reynolds morra - quer apenas enfraquecê-lo, torná-lo dependente, depois reerguê-lo, pra daí enfraquecê-lo de novo. E o pior é que o filme tenta torná-la meio "cool", como se sua maldade tivesse algum tipo de justificativa. 

- SPOILER: Os personagens no fim agem de forma totalmente irreal. Reynolds no começo era um homem extremamente independente, forte, não tolerava qualquer tipo de perturbação vinda dos outros, não tinha interesse em relacionamentos - e agora está aceitando uma tortura que nem um homem mais dependente toleraria. Quando Alma ganhou esse poder todo sobre ele? Quando começou a envenená-lo e ele ficou doente? Ele se tornou tão grato assim pela ajuda que se apaixonou de verdade? Não convence. O filme teria que ter oferecido alguma explicação pra tornar isso aceitável. Mas Paul Thomas Anderson adora apelar pro Subjetivismo e pro Pessimismo no final de seus filmes pra torná-los mais "artísticos". Qual a mensagem? Que relações entre homens e mulheres são destrutivas? Que mulheres são seres perversos que transformam os homens mais independentes em suas marionetes? Não fica claro - fica apenas o senso vago de que relacionamentos tendem a ser trágicos e doentios, sem motivo algum. 

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CONCLUSÃO: Lindamente realizado, com performances incríveis de Daniel Day-Lewis e Lesley Manville, mas a história se torna um tanto forçada e insatisfatória no terceiro ato.

Phantom Thread / EUA / 2017 / Paul Thomas Anderson

FILMES PARECIDOS: O Estranho que Nós Amamos (2017)

NOTA: 7.0

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Uma Mulher Fantástica

NOTAS DA SESSÃO:

- Problemas típicos de filmes Naturalistas: o retrato dos personagens é externo, superficial. No começo ficamos apenas tentando entender quem são os personagens, há quanto tempo eles estão juntos, qual a natureza do relacionamento, se Marina é trans ou não (o filme tenta prender atenção por omitir informações, não por mostrar algo de fato interessante). É como se a plateia fosse subitamente autorizada a espiar a vida dessas pessoas, mas sem ter nenhuma informação sobre o passado delas, sobre o universo interno dos protagonistas, etc. O filme não tenta fazer a gente se identificar com ninguém, se envolver com o drama, criar interesse, emoção... O objetivo é ser "socialmente relevante", conscientizar a plateia a respeito dos preconceitos que transsexuais vivem no dia a dia, etc.

- Alguns dos desconfortos que a Marina passa são especificamente por ela ser trans (não querer mostrar a identidade com o seu nome masculino, etc), mas esses são a minoria. A maioria dos problemas ocorrem simplesmente pela natureza da situação... Orlando largou a família pra ficar com uma pessoa bem mais jovem e de uma classe social totalmente diferente... Ele morreu de maneira suspeita (os hematomas da queda da escada). Não é preconceito contra trans o fato da família do Orlando não querer contato com a Marina... Ou a investigadora suspeitar que Orlando possa ter sido agredido. Isso aconteceria mesmo que Marina não fosse trans.

- História parada. Muitas cenas de Marina olhando pro nada, contemplativa, caminhando vagarosamente.

- Quando o filme sai do Naturalismo puro pra tentar fazer umas coisas mais "poéticas" (as visões de Orlando, a coreografia na balada, etc) tudo soa meio forçado, destoando da linguagem do resto do filme. Ela treinando boxe, a cena dela caminhando contra a ventania (nos lembrando da "luta" que os trans enfrentam) parecem simbolismos tolos e desnecessários.

- No começo Marina parece equilibrada, sensata, mas depois começa a irritar com essa insistência em ir no velório, criar barraco com a família do Orlando, etc (ela diz que foi atrás do cachorro, mas o cachorro não estaria no velório!). Se o Orlando enquanto era vivo não queria que Marina conhecesse sua família, é meio desnecessário ela fazer isso agora, só pra exercer seu "direito" de se despedir dos mortos.

- O roteiro é cheio de elementos sobressalentes, pontas soltas que não levam a lugar nenhum: todo o mistério criado em cima da chave da sauna, que no fim não serve pra nada, ou o filme começar com imagens das cataratas do Iguaçu, criar certo suspense em cima das passagens desaparecidas, e depois nem mencionar isso mais.

- Ridículo ela pular revoltada em cima do carro da família por causa do cachorro (o filme nem mostrou o apego que ela tinha pelo cachorro pra gente se importar por isso agora).

- A despedida do corpo no crematório é vazia de emoção... Nós não sabemos nada sobre esse relacionamento, que valor um representava pro outro, que mensagem tirar dessa perda, etc. É o que digo sobre filmes Naturalistas exigirem altruísmo do espectador: devemos nos importar simplesmente porque isso é algo importante pra Marina, mesmo não seja interessante pra nós na plateia.

- De onde surgiu essa performance no final? Que horas Marina preparou isso? Os personagens são tão mal desenvolvidos que nem sabíamos até agora que ela era uma cantora desse nível. Dá a impressão que o diretor só quis aproveitar o fato da atriz ser cantora lírica na vida real, e enfiou algumas cenas de canto pra mostrar as habilidades da atriz, mesmo que isso não se encaixasse bem na história.

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CONCLUSÃO: Fraco. Se ganhar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, será mais pela questão da representatividade.

Una Mujer Fantástica / Chile, Alemanha, Espanha, EUA / 2017 / Sebastián Lelio

FILMES PARECIDOS: Corpo Elétrico (2017) / Boi Neon (2015)

NOTA: 4.0

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

The Square: A Arte da Discórdia


Acho sempre uma perda de tempo discutir filmes Subjetivistas seriamente, tentar dar uma interpretação para os eventos, entrar em reflexões filosóficas sobre arte, sociedade, etc, pois o propósito desses filmes raramente é o de transmitir algo específico, demonstrar virtudes, passar uma mensagem coerente, e sim o de "desconstruir", virar a arte de cabeça pra baixo, confundir o espectador, gerar debates em cafés após a sessão, etc. Tudo o que tenho a dizer essencialmente está na postagem sobre Experimentalismo e Filmes de Arte.

Dito isso, esse é o tipo de filme Subjetivista que ainda consegue me entreter. Primeiro porque não vejo algo de explicitamente maligno no conteúdo (diferente do último desse diretor, Força Maior, que fazia um ataque odioso contra os "privilegiados"). Aqui, se há algum ataque, ele vai mais contra o mundo da arte moderna, artistas pseudo-intelectuais, marketeiros pretensiosos, a mídia atual - coisas que de fato merecem ser satirizadas. 

Depois, porque há um esforço consciente em surpreender, chocar, gerar humor, não deixar o filme cair na monotonia... Ou seja, há um elemento de Diversão que nem sempre se encontra em "filmes de arte" assim. E pra fazer isso, o cineasta acaba tendo que demonstrar certo domínio sobre a plateia, criatividade, conhecimento sobre o comportamento humano, sobre arte e cultura, então não é um filme totalmente desprovido de inteligência. Ainda assim, são elementos que aparecem de maneira desestruturada, não integrados a um propósito maior, o que eventualmente impede o filme de proporcionar uma experiência satisfatória.

A cena do homem-macaco no jantar (mostrada no pôster) representa bem qual é o "barato" do diretor: o de ver o irracional destruindo o civilizado, o caos destruindo a ordem, etc.

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The Square / Suécia, Alemanha, França, Dinamarca / 2017 / Ruben Östlund 

FILMES PARECIDOS: Força Maior (2014) / Holy Motors (2012)

NOTA: 5.0

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi


Um dos roteiros mais sofisticados, bem escritos e com qualidade literária que vi nos últimos anos... A história mostra 2 famílias no Mississippi tentando se ajustar à vida após a 2ª Guerra Mundial e lidando com o racismo (uma família é a dos patrões brancos, a outra é a dos empregados negros). É provavelmente o melhor filme sobre racismo desse ano, e um dos poucos atuais a discutirem o tema com honestidade, sensibilidade, realismo psicológico, através de um conflito convincente.

Na família dos patrões, nós temos Henry e o pai, que são profundamente racistas, e Jamie e Laura, que não são. E, numa fazenda isolada, onde a cooperação entre todos é essencial e a convivência inevitável, essa diferença de caráter começa a gerar conflitos cada vez mais intensos entre os 4, conforme os empregados começam a fazer parte de suas vidas pessoais também. 

As relações vão se formando de maneira bastante convincente e orgânica: Laura recebe ajuda de Florence em situações de doença / emergência, Jamie cria um laço com Ronsel pois ambos têm traumas de guerra, etc. Tudo vai intensificando o conflito e levando os 2 lados divididos da família em direção a um confronto violento, numa cena marcante no fim envolvendo o personagem de Ronsel.

O filme é repleto de detalhes ricos que só assistindo mesmo pra apreciar - como por exemplo a sequência onde a personagem da Carey Mulligan fala sobre a intimidade que se cria com a morte quando se vive no campo... Ou o pai que menospreza Jamie ao longo do filme por ele não ter sido "homem" o bastante pra matar um inimigo na guerra cara a cara - e a maneira como essa provocação é relembrada no fim, tornando o clímax mais memorável. 

O elenco me parece ser o melhor ensemble do ano: todos os 7 que aparecem nesse pôster têm uma presença forte, personalidades bem construídas, conflitos claros e momentos bonitos ao longo do filme.

É curioso que os melhores filmes sobre racismo / preconceito desse ano (além desse gostei também de Detroit em Rebelião - ambos dirigidos por mulheres por sinal) não estejam entre os indicados a Melhor Filme, e que Corra!, A Forma da Água e Três Anúncios para um Crime estejam - 3 filmes de nível artístico inferior, mas que abordam o tema de maneira mais sensacionalista, estimulando o ódio, o tribalismo, etc. Me parece um fenômeno similar ao que vemos na política: se destacam mais aqueles que apelam pra vulgaridade, pros instintos primitivos da população, e as vozes mais sensatas acabam sendo abafadas no meio da gritaria.

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Mudbound / EUA / 2017 / Dee Rees

FILMES PARECIDOS: Detroit em Rebelião (2017) / Selma: Uma Luta pela Igualdade (2014) / A Cor Púrpura (1985)

NOTA: 8.0

Eu, Tonya


Assim como O Artista do Desastre, temos aqui uma história verídica tão interessante, uma sequência de eventos tão absurda, que basta o cineasta não atrapalhar pro material render um bom filme. E é isso o que acontece.. O roteiro sabe focar no que há de melhor na história (os relacionamentos abusivos, a história do "underdog" que se torna um sucesso, as inadequações de Tonya e da mãe no mundo da patinação, a rivalidade extrema, os perigos da ambição descontrolada, as performances de patinação em si, etc).

Margot Robbie está sensacional (das 5 indicadas ao Oscar minha favorita era a Saoirse Ronan, mas agora já fiquei na dúvida), Allison Janney como a mãe abusiva está impecável (o roteirista Steven Rogers é amigo dela de longa data e escreveu o papel sob medida), a seleção de músicas é ótima (tem até "Gloria", fazendo referência à cena de patinação de Flashdance), e se Margot não aprendeu a patinar muito bem e a fazer o Triple Axel, eu certamente teria indicado o filme ao Oscar de efeitos especiais também, pois as apresentações são mostradas com total clareza, detalhes em câmera lenta, e você não duvida que aquilo esteja realmente acontecendo (a força centrífuga agindo sobre as nádegas enquanto o corpo gira no ar - tudo convence). Um acerto total que certamente merecia estar entre os 9 finalistas.


I, Tonya / EUA / 2017 / Craig Gillespie

FILMES PARECIDOS: O Artista do Desastre (2017) / A Guerra dos Sexos (2017) / Bingo: O Rei das Manhãs (2017)

NOTA: 8.0

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Pantera Negra


(Esta crítica está no formato de anotações - em vez de uma crítica convencional, os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão.)

ANOTAÇÕES:

- A introdução é confusa. Eles tentam explicar a origem de Wakanda, e ao mesmo tempo apresentar o conflito entre o T'Chaka e o irmão, tudo antes dos créditos iniciais... Mas é tão mal dirigido que nem prestamos atenção direito nos diálogos. Quando apagam as luzes daquela sala e surge o Pantera Negra pela primeira vez, isso é mostrado de um jeito que parece que as mulheres na sala é que se transformaram no Pantera Negra... Daí ainda temos que absorver que esse Pantera Negra ainda não é o protagonista, mas o pai do Pantera Negra (T'Challa) que virá depois. Nesse ponto já nem sei mais o que é Vibranium, sobre o que eles estão falando etc.

- A sequência do resgate da Lupita Nyong'o dos caminhões também é confusa... Não sabemos direito quem é essa personagem, o que ela está fazendo aí, se ela está presa ou não, qual a relevância dessa sequência toda... É só porque o T'Challa queria que ela estivesse presente na cerimônia de coroação?

- A luta entre o T'Challa e o M'Baku na cachoeira é bem amadora em termos de direção, coreografia etc. Considerando que o diretor é o Ryan Coogler (do ótimo Creed: Nascido para Lutar) tecnicamente o filme é mais fraco do que se poderia esperar.

- A cena onde o T'Challa conversa com o espírito do pai é curiosamente bonita. A imagem marcante das panteras em cima da árvore, as frases sábias do pai... Até a trilha sonora tem uns momentos mais inspirados nesse momento.

- A história demora muito pra engatar. O conflito é fraco; não sabemos o que o tal comprador pretende/pode fazer com o Vibranium roubado — isso não parece ser uma grande ameaça.

- SPOILER: É só lá pela 1 hora e meia que o filme ganha força — quando o verdadeiro vilão (Killmonger) entra em cena, descobrimos quem ele é, o que ele pretende fazer com o Vibranium etc. A ideia dele derrotar o T'Challa na cachoeira e conquistar o trono de maneira legítima torna tudo mais interessante. E o filme demora um tempo até mostrar que o T'Challa sobreviveu à queda, criando mais suspense.

- É um alívio também que o vilão Killmonger é quem tem uma filosofia revolucionária marxista de "Panteras Negras" (Black Panther Party), e não o herói, que apenas quer paz, harmonia etc.

- A falta de habilidade na direção acaba matando alguns momentos que poderiam até ter sido bons... Pegue por exemplo a cena em que o T'Challa finalmente "ressuscita". Um diretor melhor teria mostrado o herói saindo de dentro do gelo de maneira mais dramática, dado algo interessante pra ele dizer... Mas aqui nós só vemos um plano dele já se sentando, daí ele fala de maneira totalmente casual "alguém tem um cobertor?", tornando tudo meio banal.

- Meio forçado o Ross — que nem sabia pilotar — ficar como responsável por capturar as naves que estão tentando sair de Wakanda, e conseguir fazer isso recebendo orientações por "telefone" da menina que está lá no meio da batalha.

- SPOILER: É mal explicado no fim como o T'Challa consegue derrotar o Killmonger. O trilho do trem apenas desestabilizou a armadura dos dois, mas por que o T'Challa agora parece estar lutando de igual pra igual, sendo que na primeira luta ele era claramente mais fraco?

- Bonito o diálogo entre o T'Challa e a Nakia antes do beijo. Ele a agradece, e ela quase responde usando um argumento altruísta clichê ("Era nosso dever..."), mas daí ela para no meio da frase e responde com o real motivo, que é muito melhor.

- O discurso na ONU na cena pós-crédito me parece bem intencionado também... T'Challa resolvendo dividir a tecnologia de Wakanda com o mundo, transmitindo uma mensagem de união, progresso etc.

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CONCLUSÃO: Fraco como cinema (como a maioria dos filmes do gênero) mas após um começo devagar, a história consegue se recuperar e divertir nos 45 minutos finais. 

Black Panther / EUA / 2018 / Ryan Coogler

FILMES PARECIDOS: Thor: Ragnarok (2017) / Vingadores: Era de Ultron (2015)

NOTA: 5.5

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

O Sacrifício do Cervo Sagrado


(Esta crítica está no formato de anotações - em vez de uma crítica convencional, os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão.)

ANOTAÇÕES:

- O close inicial na cirurgia é grotesco, feito apenas pra chocar, incomodar. Mas pelo menos tem a ver com a história, não é algo totalmente aleatório.

- Todo o começo é um exercício em estranheza, em não-convencionalidade. O sexo esquisito entre o Colin Farrell e a Nicole Kidman, os encontros bizarros entre o Colin e o garoto (Martin), o comportamento estranho dos personagens em geral, as conversas aleatórias sobre pulseiras de relógios, a trilha sonora dissonante, as lentes grande angulares extremas que distorcem o ambiente... É o que falo na postagem Experimentalismo e Filmes de Arte: é estranheza pela estranheza, o filme tem prazer em quebrar as regras simplesmente pra ser diferente, coloca estilo acima de conteúdo, etc. Mas pelo menos faz isso de maneira razoavelmente divertida, sem a intenção de promover valores negativos.

- Quando Martin revela a maldição pro Colin Farrell (lá pelos 50 minutos), o filme começa a se distanciar do Subjetivismo inicial e a apresentar uma história mais sólida; vai tornando a situação um pouco menos nonsense (Nicole questiona a amizade entre o Colin e o garoto, e isso é mais ou menos justificado, etc).

- A Nicole Kidman acaba se tornando um ponto de identificação para o espectador, pois ela age de maneira mais humana e sensata que o Colin Farrell e mesmo os filhos (vai atrás do Martin pra tentar fazê-lo retirar a maldição, procura o anestesista pra saber o que houve na cirurgia e entender a motivação do menino, etc).

- O cineasta certamente rouba muito do estilo de Stanley Kubrick: o uso de música clássica, os zoom-in/zoom-out longos em incontáveis cenas, o uso de iluminação prática (abajures com lâmpadas fortíssimas que já servem pra iluminar o ambiente sem a necessidade de outros refletores), os passeios pelos corredores do hospital que lembram O Iluminado, o uso de grande angulares, o casting da Nicole Kidman (de De Olhos Bem Fechados), aqueles pizzicatos na trilha que lembram O Iluminado também, etc. A grande diferença (e que talvez seja o maior problema do filme) é que Kubrick tinha um ótimo senso de drama, apresentava conflitos morais difíceis, discutia questões sociais / psicológicas sérias, etc. Aqui é simplesmente uma situação trágica: Colin Farrell cometeu um erro médico, sem querer o pai do Martin morreu, e agora Martin resolveu se vingar, fazendo sua família pagar o preço. É apenas um garoto perturbado ameaçando uma família, e não uma história sobre questões mais profundas como tenta parecer (referências à mitologia grega não tornam um filme mais profundo automaticamente).

- SPOILER: O final é insatisfatório. Os finais do Kubrick eram quase sempre irônicos, intrigantes, faziam a gente refletir. Aqui não houve nada de surpreendente: o Colin Farrell apenas pagou pelo seu erro, que era exatamente o desejo do vilão. Não houve um desfecho inesperado, uma transformação de personagem, uma grande lição, etc. A cena do restaurante não diz muita coisa, apesar da trilha épica.

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CONCLUSÃO: Exercício de estilo interessante com uma premissa curiosa, mas a discussão moral não é tão forte quanto poderia ser, e o final deixa um pouco a desejar.

The Killing of a Sacred Deer / Reino Unido, Irlanda, EUA / 2017 / Yorgos Lanthimos

FILMES PARECIDOS: O Estranho que Nós Amamos (2017) / Grave (2016) / O Lagosta (2015) / O Presente (2015)

NOTA: 5.0

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Respondendo às Perguntas

Foram poucas mas boas!

Lady Bird: A Hora de Voar

Greta Gerwig me parece cair naquela categoria de pessoa criativa que é quase boa atriz o bastante pra estar na frente das câmeras, mas que de fato explora melhor seu potencial quando está por trás. Lady Bird (sua grande estreia na direção) apenas reforça essa impressão. O filme tem tudo aquilo que costumo gostar nos filmes do Noah Baumbach: a torrente de diálogos inteligentes que faz você querer anotar várias frases, personagens divertidos e bem escritos, a perspicácia psicológica - e menos aquilo que costuma me incomodar nos filmes de Baumbach: a visão de mundo deprimida.

É o tipo de filme que fica no meio do caminho entre o Naturalismo e o Idealismo. Lady Bird é uma típica adolescente americana, sem grandes virtudes além de sua personalidade adorável, os dramas que ela vive são dramas típicos de garotas de sua idade, nada de muito épico acontece no filme... Mas o roteiro não é escrito de maneira realista - a história não é um simples retrato passivo de sua realidade, e sim um entretenimento cuidadosamente planejado, onde não se encontram nem 10 segundos de "tempo morto", sem nada de interessante ou surpreendente acontecendo na tela.

Pegue por exemplo os momentos após a apresentação da peça na escola: temos a cena da amiga gordinha indo conversar com o professor (por quem ela é secretamente apaixonada), daí corta pro professor de teatro deprimido porque ninguém "entendeu" sua obra, daí corta pra Saoirse indo no banheiro masculino e pegando os 2 garotos aos beijos, depois corta pra cena no carro com as 2 amigas chorando ouvindo música... São 4 ótimos momentos, cômicos por razões diferentes, que são metralhados na plateia um após o outro deixando a gente quase sem piscar.

Saoirse Ronan está perfeita no papel, transmite todas as nuances da personagem, se sai bem nos momentos cômicos, nos momentos dramáticos, e tem até uma cena "musical" onde ela consegue ser péssima e maravilhosa ao mesmo tempo - é possivelmente minha performance feminina favorita de 2017.

Outros momentos que gostei do filme: o bate boca entre Saoirse e a mãe no carro na cena de abertura, os comentários "wtf" do Timothée Chalamet, a aula de teatro com o professor substituto, o momento em que o Lucas Hedges e a Saoirse fazem as pazes, o confronto no colégio com a mulher anti-aborto, Saoirse perguntando se a mãe gosta dela (não se ela a ama), ela fazendo 18 anos e indo comprar coisas "proibidas" na loja de conveniência... Não é um filme incrivelmente ambicioso, inovador, mas dentro de sua proposta, é extremamente bem sucedido.

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Lady Bird / EUA / 2017 / Greta Gerwig

FILMES PARECIDOS: O Estado das Coisas (2017) / Sing Street: Música e Sonho (2016) / Mistress America (2015) / Enquanto Somos Jovens (2014) / A Garota de Rosa-Shocking (1986)

NOTA: 8.0

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Três Anúncios Para um Crime

NOTAS DA SESSÃO:

- A premissa é curiosa mas um pouco morna. É como se pegássemos a história do meio - víssemos apenas um trecho de um filme maior, um que contasse a história completa desde o assassinato, explorasse todo o drama da personagem, etc.

- O filme assume que de cara estaremos torcendo pra Frances McDormand, mas não nos dá motivo pra isso. Não mostra como era a relação dela com a filha, nem que medidas a polícia já tomou. A polícia está de fato agindo de má vontade? Poderiam fazer algo específico que não estão fazendo pra pegar o assassino? O quanto a Frances já insistiu até tomar essa decisão drásticas dos outdoors?

- Depois de umas cenas fica claro que ela é totalmente insensata (exigindo que colham o sangue da população inteira pra testes de DNA, etc). Ainda assim, o filme a retrata como se ela fosse heróica e o policial fosse o vilão, só por não poder solucionar o caso.

- Ridículo o discurso dela pro padre - acusando ele de pedofilia só por ser membro da igreja, mesmo que ele pessoalmente nunca tenha feito nada (a comparação que ela faz com ser membro de uma gangue não tem nenhum sentido). O padre só foi lá dar um conselho bastante razoável sobre os outdoors, e ela vem com uma atitude incivilizada, baixo nível (e o filme acha que ela arrasou na resposta).

- Que absurdo ela agredir o dentista, cuspir na cara dele! Essa personagem é desumana, irracional, cheia de ódio... O filme é simplesmente uma série de situações onde a Frances McDormand chega e humilha algum opositor de forma grosseira e solta uma frase de efeito no fim (a repórter na beira da estrada, etc). O filme não está preocupado em nos envolver numa narrativa interessante, criar empatia pelos personagens, criar suspense, fazer a gente torcer por justiça, simpatizar pela menina que morreu, etc. É apenas política. O filme tem uma mentalidade de tribo, de torcedor de futebol... Não conta uma história universal, não deseja unir a plateia... É feito pra uma tribo específica de esquerda, cujo prazer vem exclusivamente de humilhar e atacar a tribo inimiga. Todos os homens praticamente são maus... A polícia é corrupta, violenta, espanca negros, gays, deixa mulheres serem estupradas, o padre é pedófilo, o dentista é mau, o ex-marido da Frances é um espancador de esposas, etc. As únicas pessoas boas no filme parecem ser as minorias - o casal de negros, o gay, o anão interpretado pelo Peter Dinklage, etc.

- Ridículo ela negar que agrediu o dentista, quando de fato agrediu... Toda essa situação do dentista foi totalmente forçada, e agora entendemos por que - é só pro filme poder fazer um discurso sobre vítimas de estupro, pra Frances dar uma lição de moral na polícia, que se nega a acreditar em mulheres que são violentadas, mas acredita em homens quando estes são agredidos. É um diálogo totalmente desnecessário, que não tem nada a ver com a história... A polícia não está negando que a filha dela foi estuprada.

- A narrativa é fraca, sem conflito. A personagem da Frances não tem um grande obstáculo, algo importante a perder (a filha já está morta), os outdoors não são garantia alguma de que o assassino será encontrado. Os "vilões" (que seriam os policiais) são fracos... Eles no máximo parecem incompetentes, idiotas, mas não representam uma ameaça a ela - não há um conflito moral interessante movendo a história. Se você quer apenas ver uma boa história sobre uma mãe buscando justiça (e não está interessado em discursos políticos camuflados) é um roteiro tedioso. Terra Selvagem desse ano tem uma temática e uma ambientação parecida e é bem melhor (só que é cinema, não política, então os críticos não se empolgam tanto).

- Quando a Frances fica sem dinheiro pra pagar os outdoors (e achamos que surgirá algum conflito pelo menos), entra uma mulher do nada no escritório e entrega um envelope com 5 mil reais de presente pra cobrir as despesas. Conflito resolvido em 1 minuto sem esforço algum.

- Os diálogos têm momentos horrorosos. Por exemplo a Frances conversando com o cervo naquele momento poético, e de repente fazendo comentários sobre "Doritos pontudos"... Ou o pior de todos que é o do Woody Harrelson com a esposa na cama. Ele dá um beijo nela (tudo num clima romântico) e diz com uma voz sexy:

Woody: Você não está com cheiro de vômito, o que é bom.
Esposa: Aquafresh. Um truque que aprendi.
Woody: Ainda é sua vez de limpar a bosta dos cavalos no estábulo, sabia?
Esposa: Esses cavalos fodidos. Eles são seus cavalos fodidos. Eu vou mandar alguém matar esses cavalos fodidos.
Woody: Deixa que eu faço. Sua vadia preguiçosa.
Esposa: Obrigado, papa. Foi muito legal hoje. Foi uma foda muito legal. Você tem um pau muito bonito, Sr. Willoughby.
Woody: Isso é de alguma peça? "Você tem um pau muito bonito Sr. Willoughby", acho que ouvi isso numa peça do Shakespeare uma vez.
Esposa: Seu bobo. É do Oscar Wilde.

- Toda essa história do Woody Harrelson ter câncer não tem relevância pra história. Ele deveria ser o obstáculo central do filme, mas daí ele morre antes de fazer qualquer coisa de útil.

- Por que o Sam Rockwell espanca o gay quando ouve da morte do Woody Harrelson? Ele não sabia que o Woody tinha câncer? Achou que se matou por causa dos outdoors? Mas daí a culpada não seria a Frances? O filme não está nem aí... Simplesmente joga uma cena aleatória de um policial espancando um gay, afinal esse tipo de coisa nunca é demais.

- Nada a ver o policial falar pro Sam Rockwell ir na delegacia à noite sozinho (sendo que ele não trabalha mais lá) só pra pegar a carta que o Woody Harrelson deixou. Quem entra numa delegacia assim? Não parece plausível. É só porque o roteirista precisava de uma desculpa pra ele estar lá na hora que a Frances incendeia o prédio. E é puro nonsense a Frances McDormand incendiar a delegacia. Por que ela faz isso? Ela concluiu que foram os policiais que destruiram os outdoors? E se acha na razão de ir lá e por fogo no lugar sem prova alguma? A cidade inteira está contra os outdoors! Qualquer um poderia ter feito isso (e de fato foi o ex-marido dela que fez, não os policiais!).

- O gay que foi brutalmente espancado pelo policial resolve perdoá-lo e serve suco de laranja pra ele no hospital?!! Isso é totalmente irreal, só pra mostrar como os "oprimidos" são dóceis e humanos em comparação com os "opressores" (exceto a Frances, que pode usar violência pra tudo).

- Outro conflito resolvido de maneira preguiçosa: os outdoors pegam fogo, mas daí alguém bate na porta da Frances com uma cópia de tudo! E vão todos lá felizes colar os outdoors de novo: Frances, os 2 negros e o anão - as minorias contra a polícia má.

- SPOILER: Trama tola, mal escrita: no fim os outdoors não serviram pra nada, o Sam Rockwell simplesmente vai num bar e ouve o estuprador confessando o crime em voz alta, por pura coincidência. E em vez de chamar a polícia, ele resolve arranhar o rosto do cara pra colher o DNA com suas unhas! Essa bobagem estar indicada ao Oscar de Melhor Roteiro é uma piada.

- Assim como o Woody Harrelson se "redime" depois de ter câncer e se suicidar (manda a carta pra Frances, etc), agora o Sam Rockwell, que era totalmente imoral, vira do "bem" na história, afinal ele perdeu o emprego na polícia, foi espancado, teve o rosto deformado por queimaduras. Então agora ele resolve ajudar a Frances (virou um "oprimido" também) e ela fica amiga dele, esquecendo que poucos dias antes ele estava espancando pessoas na rua sem razão alguma. Se você é uma vítima, Frances te apoiará, independentemente do seu caráter; a única coisa realmente impoerdoável é alguém numa situação de privilégio.

- SPOILER: O final é um absurdo... Eles partirem os 2 pra outro estado com uma espingarda pra matar um cara que pode ou não ser o assassino da filha, pode ou não ter cometido um crime, tudo baseado em suposições... É igual ela incendiar a delegacia... Provas não são necessárias, pois esta é a "verdade dela".

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CONCLUSÃO: Assim como A Forma da Água, um roteiro mal escrito, sem talento, que apela pra discursos políticos polarizadores pra conquistar a plateia.

Three Billboards Outside Ebbing, Missouri / Reino Unido, EUA / 2017 / Martin McDonagh

FILMES PARECIDOS: A Forma da Água (2017) / Terra Selvagem (2017) / Onde os Fracos Não Têm Vez (2007)

NOTA: 2.5

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Todo o Dinheiro do Mundo

NOTAS DA SESSÃO:

- Filmes de sequestro costumam já ter uma premissa minimamente envolvente, e nesse caso, pela vítima ser o neto do homem mais rico do mundo, a situação é ainda mais interessante.

- Muito boa a apresentação do personagem do J. Paul Getty. A maneira como ele fez sua fortuna com petróleo, os diálogos no início sobre tudo ter um preço (o que nos faz pensar na atitude dele no futuro diante do sequestro). Christopher Plummer está ótimo. E é divertida a maneira como ele se recusa a pagar o resgate. O filme não o mostra como alguém detestável, um vilão, e sim como um homem consciente, não emotivo, que simplesmente entende que não é uma boa ideia negociar com criminosos. Tanto que depois ele contrata o Mark Wahlberg pra ajudar no resgate.

- O fato da Michelle Williams ser distante do Getty, brigada com o ex-marido, torna a situação dela ainda mais complicada (ter que pedir uma fortuna pro ex-sogro que não dá a mínima pra ela).

- Divertidíssimo o Getty e suas mesquinharias (instalar um telefone público em casa para as visitas, etc). Outro ótimo momento é quando ele fala do problema das liberdades que o dinheiro traz e dos parasitas que vivem ao redor dele.

- A suspeita de que o neto possa ter armado o próprio sequestro cria uma reviravolta interessante no meio.

- SPOILER: Ótimo o trecho onde achamos que os bandidos executaram o garoto (por ter visto o rosto dos sequestradores), há toda a sequência do reconhecimento do corpo, e no fim não era o menino. O roteiro é realmente bom. Consegue criar diversas surpresas e variações em cima de uma situação que poderia ser monótona, apenas o garoto sequestrado e a família tentando achá-lo. Logo depois disso há a cena em que a polícia invade o cativeiro, mas daí o garoto já foi vendido, etc.

- Divertida a cena em que achamos que o Getty está negociando o resgate, mas daí ele está apenas comprando um quadro. O filme está sempre brincando com nossas percepções.

- SPOILER: Por que os bandidos querem que o garoto coma bife, fique forte? Cria certa intriga... Legal a tentativa do menino de escapar, provocar o incêndio. Ele não é uma vítima passiva e chata que não faz nada o filme inteiro. E a relação "positiva" que ele forma com um dos sequestradores traz uma leveza pra situação que funciona.

- Um pouco forçado a Michelle Williams lembrar do minotauro que o filho ganhou do avô. Ninguém simplesmente se lembra que tem milhões de dólares guardados no armário por acaso (ainda mais ela não sendo rica). Mas é uma tentativa interessante do roteiro de criar um pequeno twist dentro da história maior, principalmente pelo que isso revela a respeito da personalidade do Getty.

- SPOILER: Forte a cena da orelha! Não sou fã de violência explícita, mas nesse caso não é algo gratuito - é a única cena violenta no filme, e considerando o tema da história, é aceitável (as cenas que vêm depois disso são ótimas também: a secretária recebendo a orelha pela correspondência, depois a Michelle Williams mandando milhares de jornais pro Getty, etc).

- SPOILER: Muito filho da puta o Getty decidir pagar o resgate, mas exigir em troca a guarda dos filhos. Agora sim o filme começa a mostrá-lo como vilão, mau caráter. Pra piorar, em vez de pagar os 4 milhões, ele paga apenas uma parte... Não faz sentido, pois até então, ele estava se recusando pagar o resgate por uma questão de princípios, não de falta de dinheiro. Mas decidir pagar, e não dar o valor cheio, é apenas maldade da parte dele.

- O discurso do Mark Wahlberg no fim reforça essa atitude anti-ricos, anti-dinheiro, que não era a essência da história na minha visão. O conflito principal era mais entre razão e emoção. A mãe (emoção) desesperada, disposta a fazer qualquer coisa que os bandidos pedissem, mesmo que isso tivesse consequências ruins, e o Getty sendo mais frio, tentando manter a objetividade e pensando a longo prazo. No fim o filme consegue fazer o sequestrador parecer mais humano e bondoso do que o Getty!

- Legal a entrega do dinheiro: o carro na estrada seguindo as pistas, etc.

- SPOILER: Não parece muito realista a ação final onde a mãe e os bandidos estão caçando o garoto na cidadezinha... Por outro lado eu gosto dessas liberdades que o filme toma pra tornar a narrativa mais dramática (em vez de ficar preso à história verídica). Getty morrer e a Michelle Williams assumir tudo também parece meio improvável (o timing perfeito), mas é um desfecho irônico pra história (embora faça falta um encontro final entre o Getty, o neto e a mãe pra gerar um senso de conclusão).

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CONCLUSÃO: Há certamente um elemento anti-dinheiro na história que é questionável, mas fora isso é uma trama envolvente, com um roteiro dinâmico, cheio de cenas interessantes, e uma ótima atuação de Christopher Plummer.

All the Money in the World / EUA / 2017 / Ridley Scott

FILMES PARECIDOS: Os Suspeitos (2013) / A Negociação (2012)

NOTA: 7.5

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Maze Runner: A Cura Mortal

NOTAS DA SESSÃO:

- A produção dos Maze Runners sempre me parece mais rica e bem cuidada visualmente do que a de outras sagas adolescentes como Divergente, etc. Não é nenhum Mad Max: A Estrada da Fúria, mas é respeitável.

- A sequência inicial do trem não tem nada de muito especial em termos de ideias, direção, mas é uma tentativa de se criar um Set Piece empolgante logo na cena de abertura, o que é sempre um bom sinal.

- A motivação do herói aqui é mais fraca que no último filme. Todo o objetivo dos personagens é salvar o oriental (Minho) que foi capturado pela WCKD. É algo totalmente altruísta, pouco ambicioso, sem nenhum benefício atraente pro Thomas e pros outros personagens. Eu como espectador não estou nem aí pra esse Minho - ele já era um personagem esquecível no filme anterior, e o roteiro não tenta torná-lo importante pro espectador nesse novo capítulo, pra termos um interesse real em seu resgate. Devemos apenas aceitar que ajudar o próximo vale qualquer sacrifício (especialmente se o próximo for "multicultural").

- Pra quem não sacou, a Last City representa a América egoísta e má, cercada pelo muro do Trump, disposta a metralhar os pobres estrangeiros do lado de fora pra não ter que dividir suas riquezas com eles. E Thomas é um herói, não porque ele tem virtudes interessantes, mas porque apesar de branco, ele se sacrifica em prol dos não-brancos e luta contra o sistema. É o mesmo discurso tedioso anti-América, anti-individualismo que temos que ouvir em todos os filmes, músicas, séries e eventos televisivos hoje em dia. Isso só não arruina o filme pois nesse caso fica claro que o objetivo do filme não é político, intelectual, no fundo ele quer apenas mostrar uma aventura, entreter, etc. Essas mensagens só estão presentes pois são os valores mainstream de hoje - é o que você tem que repetir se você quiser ser pop, atual, politicamente correto, etc.

- Como "heist movie" o filme é bem fraco. A maneira como eles invadem a WCKD é bem trivial (raptam a Teresa que abre as portas facilmente com suas impressões digitais) e pior ainda é a maneira forçada como eles resgatam o Minho e escapam do prédio (Minho pra facilitar já estava fugindo quando os amigos chegam pra resgatá-lo, e daí em poucos minutos eles se livram de todos os guardas saltando pela janela do alto do prédio e mergulhando no espelho d'água mais fundo de todos os tempos).

- O filme é cheio de saídas fáceis, mal pensadas, que não geram nenhuma admiração pelos personagens e ainda fazem o roteiro parecer tolo. Logo após a fuga forçada do prédio, há a cena absurda em que o ônibus com os refugiados é cercado pelas autoridades da WCKD, mas daí milagrosamente cai um cabo de aço do céu, e um guindaste (perfeitamente posicionado onde o ônibus parou aleatoriamente) ergue o ônibus pra fora dos muros da cidade (déjà-vu do vagão do trem sendo "pescado" pela nave na sequência inicial). Filmes que ignoram o conceito de autoestima estão sempre dependendo dessas soluções mágicas pra salvar os heróis (e de dons divinos que tornam o protagonista especial por causa de sua genética, não de seu caráter e suas ações).

- Como a história é fraca, no final eles usam o mesmo recurso da parte 1 e 2 pra dar um senso de conclusão: algo trágico acontece a algum amigo de Thomas, daí ele grita e chora intensamente (e a gente na plateia lembra que Gally, um personagem que morreu tragicamente no fim da parte 1, ressuscitou e está de volta à série - por que então devemos acreditar que os que morreram nesse filme de fato morreram?).

- SPOILER: Como o herói ainda não sofreu e se sacrificou o bastante, no fim ele se entrega voluntariamente pros inimigos pra salvar a humanidade. E de bônus ainda leva um tiro na barriga pra proteger a Teresa (uma personagem má).

- SPOILER: O filme vai cada vez chutando mais o balde. A maneira como Thomas mata o vilão é muito falsa (aquele vidro prendendo os zumbis iria se quebrar tão facilmente?). E depois a maneira forçada como a Teresa acaba morrendo só porque a nave não conseguiu dar uma ré de 2 metros pra ela subir (mais um sacrifício, mais um amigo morrendo pro herói gritar e chorar).

- É meio esquisito os vilões do filme serem pessoas que estão atrás de uma cura pra uma doença mortal que pode acabar com a vida de todos, e os mocinhos serem aqueles que se recusam a colaborar com a cura e não demonstram qualquer interesse nela (a única empresa no mundo querendo salvar a humanidade é essa que é maligna?!). Outro detalhe: os vilões não queriam deixar os estrangeiros entrarem na Last City pois os consideravam perigosos... Mas quando os estrangeiros finalmente entram na cidade, o que eles fazem? Tacam fogo em tudo, derrubam todos os prédios, destroem a cidade, sugerindo que os vilões não estavam tão errados assim.

- SPOILER: No fim a Last City (a civilização moderna, a "América") é totalmente incendiada e destruída pelas pessoas do "bem", os únicos cientistas que tinham conhecimento sobre a cura são mortos, e os mocinhos vão felizes e satisfeitos pra um lugar "paradisíaco" onde tudo é rústico, o trabalho é manual, as pessoas vivem de agricultura, artesanato, moram em tendas, etc.

- A carta do Newt no fim é uma tentativa barata de comover a plateia. Não funciona pois o personagem era raso, esquecível, e não demonstrou essa ligação emocional toda com o Thomas ao longo do filme.

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CONCLUSÃO: Apesar das mensagens políticas péssimas, não acho o filme mal intencionado, pois elas são apenas um pano de fundo. O problema aqui no fim é a história fraca, o protagonista fraco, e a falta de inteligência que tira a credibilidade da ação.

Maze Runner: The Death Cure / EUA / 2018 / Wes Ball

FILMES PARECIDOS: As séries Divergente, Jogos Vorazes, etc.

NOTA: 4.5